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Escândalo petrolífero

Petrobras cogitou comprar refinaria por valor maior

Jornal revela que, em 2008, estatal avaliou comprar a metade restante de Pasadena por preço 119% maior do que havia pago por 50% das ações dois anos antes

Cerveró: intermediário da proposta recusada | Henry Milleo / Gazeta do Povo
Cerveró: intermediário da proposta recusada (Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo)

Quatro anos antes de ser obrigada pela Justiça a comprar os 50% remanescentes da empresa belga Astra Oil na refinaria de Pasadena (EUA), a diretoria da Petrobras tentou adquirir a integralidade do empreendimento por um valor 119% maior do que havia pago dois anos antes por 50% da sociedade. A informação foi divulgada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, que teve acesso a documento que registra reunião do Conselho de Administração da Petrobras de 3 de março de 2008.

Segundo o registro da reunião, Nestor Cerveró (então diretor da área internacional da estatal) propôs a compra dos 50% remanescentes pelo valor de US$ 788 milhões. Em 2006, a Petrobras havia comprado os outros 50% da mesma Astra por US$ 360 milhões. A Astra, por sua vez, comprou toda a unidade por apenas US$ 42,5 milhões em 2005. Mais tarde, em 2012, a Petrobras foi obrigada pela Justiça dos EUA a comprar os outros 50% da refinaria por um valor de US$ 820,5 milhões. O negócio custou ao todo US$ 1,2 bilhão. O valor de mercado da refinaria, porém, é de apenas US$ 180 milhões.

Rapidez

De acordo com o jornal, Cerveró relatou em 2008 que havia apresentado a proposta à Astra dois meses antes da reunião do conselho. Disse ainda que a empresa belga teria aceitado a oferta no mesmo dia. De acordo com o documento, a proposta teria recebido o aval do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli; e dos diretores Almir Barbassa, Renato Duque, Cerveró, Paulo Roberto da Costa (preso na quinta-feira) e Graça Foster, atual presidente da Petrobras.

Na ocasião, porém, o conselho da Petrobras ficou intrigado com a rapidez com que a Astra aceitou a oferta. A proposta acabou sendo discutida em outras três reuniões do conselho. Ela foi recusada.

Dois anos antes desse episódio, Cerveró havia sido responsável pelo relatório "falho" que, segundo a presidente Dilma Rousseff, a levou a assinar a compra de 50% das ações da refinaria, em 2006, sob condições desfavoráveis. À época, Dilma ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Altos cargos

O documento "falho" de 2006 e a desconfiança sobre o negócio proposto por Cerveró em 2008, porém, não impediram que ele continuasse ocupando altos cargos na direção da Petrobras. Até a semana passada, era diretor da BR Distribuidora, um braço da estatal do petróleo. Foi demitido em meio ao escândalo da compra da refinaria.

O Ministério Público do Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal estão investigando a compra e o valor pago pela refinaria.

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