A Polícia Federal instaurou inquérito criminal nesta sexta-feira para apurar o acidente entre o barco Costa Azul e o cargueiro Roko na Baía de Guanabara. Na noite de terça as duas embarcações bateram a 1,5 km da Praça Quinze e a traineira naufragou. Oito pessoas morreram.
O delegado Carlos Pereira, da delegacia da Polícia Federal de Niterói, encaminhou ofício ao juiz federal do município pedindo que impeça o cargueiro e sua tripulação de deixar o Rio de Janiero até o fim do inquérito. O prazo para a conclusão da investigação é de 30 dias.
O delegado também solicitou à Marinha as provas técnicas elaboradas até o momento sobre o acidente.
Virada brusca
Registros do radar do navio cargueiro Roko revelam que as duas embarcações estavam em rotas paralelas, distantes cerca de 150 metros uma da outra, como mostra reportagem do jornal "O Globo" desta sexta-feira . Ainda segundo a plotagem, o barco Costa Azul navegava à direita do cargueiro e foi atingido pelo lado esquerdo. O capitão dos Portos, o capitão-de-mar-e-guerra Antônio Fernando Monteiro Dias, acredita que em algum momento da navegação uma das embarcações tenha feito uma manobra brusca, provocando a colisão. A plotagem é uma apresentação gráfica dos registros do radar do navio.
A Marinha investiga a possibilidade de o acidente ter sido causado por falha humana. Regras internacionais de navegação estabelecem que embarcações com comprimento inferior a 20 metros não devem atrapalhar a passagem dos navios que seguem por canais ou vias de acesso.
O cargueiro frigorífico Roko, com 108 metros de comprimento, e não 180 como anunciado anteriormente, entrara na baía para abastecer antes de seguir para a Ucrânia. Por volta das 23h, a 1,5km da Ponte Rio-Niterói, o navio colidiu com o Costa Azul, de 15 metros de comprimento, de Santa Catarina, a serviço da empresa Tecsub, de Santos, que atua nas obras do emissário da Barra. O Roko navegava no canal de entrada e saída da baía. A embarcação menor tinha 12 pessoas a bordo: nove mergulhadores, dois marinheiros e o mestre-arrais. Quatro mergulhadores sobreviveram. Após a colisão, o Costa Azul naufragou e foi parar a 37 metros de profundidade. O navio frigorífico transportava carne congelada para a Rússia e nele viajavam 14 tripulantes (13 russos e um ganense).
O capitão Monteiro Dias. Foto de Ricardo Leoni (O Globo) Antônio Fernando Monteiro Dias, descartou a possibilidade de falha em equipamentos:
- Oitenta por cento dos acidentes marítimos acontecem por falha humana. Já temos muitas informações sobre o acidente, como a rota feita pelo barco e pelo navio. Temos boa noção do que aconteceu, mas só divulgaremos após a conclusão das investigações. Mas podemos adiantar que a legislação internacional tem uma regra básica: quem avista uma embarcação pela direita (no caso, a traineira) tem a obrigação de manobrar.
Sem querer afirmar de quem foi o erro, o capitão dos Portos destacou que seria mais difícil para o navio cargueiro, com 108 metros de comprimento, fazer uma manobra brusca.
É difícil um navio mercante fazer uma virada brusca. Ele se movimenta lentamente. Além disso, é regra que embarcações de menor porte, ao avistarem um cargueiro, saiam do caminho. É um processo rotineiro no mar disse o capitão dos portos. O navio vinha no máximo a 12 nós (20 km por hora) e o barco a nove nós (15 km por hora). Seria possível desviar. No mar não se deixa que as coisas aconteçam muito perto. O bom navegador toma medidas que evitam problemas a curta distância completou.
O contramestre do Roko e o prático Expedito Damasco, contratado para auxiliar nas manobras dentro da Baía de Guanabara, prestaram depoimento na Capitania dos Portos. O prático depôs durante quatro horas e deixou o prédio sem falar com a imprensa.
O depoimento do prático é importante. Eu o conheço, é um profissional com 40 anos de experiência, um dos melhores que temos e viu tudo. Ele tem todas as informações, mas por enquanto não podemos divulgar disse o capitão-de-mar-e-guerra Monteiro Dias.
Segundo a Capitania dos Portos, pelo menos cem embarcações circulam pela Baía de Guanabara diariamente.
Nesta quinta-feira, os quatro sobreviventes do acidente na Baía contaram o que viveram . Mergulhadores falaram do drama de resgatar corpos de colegas no fundo do mar.



