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A Polícia Federal ampliou as investigações sobre o papel de Valter Cardeal, diretor licenciado da Eletrobras, no suposto esquema de pagamento de propina a partir dos contratos da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Considerado um dos homens fortes da presidente Dilma Rousseff no setor elétrico, Cardeal está licenciado do cargo de diretor de Geração desde julho, por conta da revelação dos primeiros trechos da delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa. A partir dos depoimentos de Pessoa sobre Angra 3, a PF faz uma série de diligências para tentar comprovar as acusações, dentro de inquérito oculto que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre essas diligências está um pedido à Eletrobras Eletronuclear, responsável por Angra 3, dos dados funcionais de Cardeal e dos registros de todas as visitas feitas a ele entre 2011 e 2015. A mesma solicitação foi feita em relação a Othon Pinheiro, almirante que presidiu a Eletronuclear e que virou réu na Justiça Federal em Curitiba por conta das suspeitas de recebimento de propina no esquema de desvios dos contratos de Angra 3. Pinheiro foi preso em uma das fases da Lava-Jato.

A PF levanta ainda “registros pessoais, societários ou criminais” do diretor licenciado da Eletrobras, além de eventuais trocas de e-mail ou anotações que relacionem Cardeal e as empreiteiras UTC, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Essas empreiteiras integram um dos consórcios responsáveis pelas obras de Angra 3.

O diretor licenciado da Eletrobras deveria ser intimado a depor na PF, conforme um despacho do delegado Felipe Alcântara Leal de 30 de setembro deste ano. E o Ministério de Minas e Energia (MME) precisou fornecer aos policiais uma cópia do procedimento administrativo de pré-qualificação dos consórcios que disputaram os contratos de Angra 3.

O inquérito oculto no STF, de número 4075, investiga supostos pagamentos de propina a caciques do PMDB no Senado a partir de Angra 3. Segundo Pessoa, o pedido partiu do senador Edison Lobão (MA), que era ministro de Minas e Energia, e resultou em doações de campanha solicitadas pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador Romero Jucá (RR). Também são investigados no inquérito o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, e o ministro do TCU Raimundo Carreiro. A suspeita é de venda de informações privilegiadas ao dono da UTC.

As menções de Pessoa a Cardeal são investigadas pela PF. O dono da UTC afirmou que o diretor da Eletrobras “é bastante conhecido no mercado de energia e é voz corrente nesse mercado que se trata de pessoa muito próxima da presidente da República”. Segundo delação, o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, pediu doações de campanha ao PT correspondentes a 4% de valor estipulado para as obras de Belo Monte e Angra 3. O GLOBO procurou a Eletrobras. “Valter Cardeal está licenciado da Eletrobras. O posicionamento da empresa a respeito das investigações vem sendo divulgado por meio de comunicados ao mercado”, informou.

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