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A Polícia Federal apreendeu na sede da Odebrecht em São Paulo um email enviado pelo executivo Roberto Prisco Ramos, da Braskem, para executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo Odebrecht | Antônio More/Gazeta do Povo
A Polícia Federal apreendeu na sede da Odebrecht em São Paulo um email enviado pelo executivo Roberto Prisco Ramos, da Braskem, para executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo Odebrecht| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A Polícia Federal apreendeu um bilhete manuscrito pelo presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, no qual há ​a expressão “destruir email sondas. US RR”. O bilhete começa com a frase “pts p/ o hc” e lista uma série de pontos que rebateriam acusações contra a empreiteira. O empresário, que estava fora da cela para encontrar com seus advogados, afirmou aos agentes federais que o bilhete seria entregue a eles. O bilhete foi apreendido por volta de 10 horas da última segunda-feira, foi fotocopiado pela PF e encaminhado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, na manhã desta quarta-feira.

Um dos agentes da PF que faziam a segurança do local acredita que o empresário tenha uma “mania”, pois sempre sai da cela com algum papel escrito nas mãos e presume que ele tenha sido ingênuo ao imaginar que seu bilhete não seria examinado pelos policiais, como é praxe nas prisões do país. Conforme policiais, o procedimento é adotado para evitar que ocorram crimes posteriores à detenção, como a destruição de provas. Outra possibilidade, segundo o agente declarou em depoimento à PF, é que o empresário tenha feito as anotações para que ele mesmo se lembrasse de pontos a serem conversados com os advogados. De acordo com o agente, Marcelo Odebrecht se encontraria naquele momento com quatro de seus defensores.

Convocados pelo delegado da PF a falarem sobre o teor do bilhete, os advogados da Odebrecht, Dora Cordani e Rodrigo Rios, afirmaram que o verbo “destruir” se referia a uma estratégia processual e não supressão de provas. Segundo eles, o bilhete original já havia sido levado para São Paulo. Segundo o delegado Eduardo Mauat afirmou na representação encaminhada a Moro, os advogados foram informados que, independentemente da posição deles, “havia clara possibilidade” de ter havido orientação para a prática de conduta estranha à relação advogado-cliente, com a possibilidade de comprometimento das investigações. Os advogados teriam sido avisados que deveriam entregar o bilhete original em 24 horas. Porém, segundo Mauat, até a manhã desta quarta-feira eles não o fizeram.

A Polícia Federal apreendeu na sede da Odebrecht em São Paulo um email enviado pelo executivo Roberto Prisco Ramos, da Braskem, para executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo Odebrecht. Neste email,havia menção a sobrepreço, que a Odebrecht alegou ser uma expressão de mercado. O email foi endereçado ainda para Márcio Faria e Rogério Araujo, dois executivos da Odebrecht apontados por delatores da Lava Jato como representantes da Odebrecht no cartel que agia na Petrobras.

Os agentes da PF disseram ter tido dificuldade inicial de entender o bilhete, devido à letra do empresário, mas que conseguiram identificar rapidamente a expressão “destruir email sondas”.

EMAIL É PRINCIPAL PROVA DO MPF

A existência deste email de Ramos, endereçado a Marcelo Odebrecht, é uma das principais provas apresentadas pelo Ministério Público Federal de que o presidente da Odebrecht sabia das manobras do cartel e participava diretamente delas.

“Falei com o André em um sobre-preço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia (por sonda). Acho que temos que pensar bem em como envolver a UTC e OAS, para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas. Já temos muitos brasileiros “aventureiros” neste assunto (Schahim, Etesco...)”

O delegado da PF informou o juiz Moro que notificou a Braskem, desde as buscas realizadas na sede da empresa, a apresentar em cinco dias os arquivos da caixa de email de Ramos, que ficam guardados em empresa terceirizada.

A PF acredita que Marcelo Odebrecht tenha se referido a Roberto Prisco Ramos como “RR” no bilhete manuscrito apreendido com ele na carceragem.

ADVOGADA DIZ QUE PF TENTA TUMULTUAR

A advogada de Marcelo Odebrecht, Dora Cavalcanti, acusou a Polícia Federal (PF) de “tentar tumultuar o processo para justificar a prisão ilegal” de seu cliente. A advogada não negou que o bilhete do empresário tenha a expressão “destruir email sonda”, mas afirmou que o sentido não era de destruição de provas, mas de rebater a prova, que é uma das principais da acusação ao presidente da Odebrecht. “Como ele [Marcelo Odebrecht] teria mandado destruir um documento que já estava apreendido desde novembro e que foi um dos objetos da prisão?”, questionou a advogada.

Dora Cavalcanti informou que ingressou com uma petição ainda na noite de ontem para o juiz Moro justificando o conteúdo do bilhete, flagrado por agentes da carceragem onde Odebrecht está preso. A advogada disse ainda que estuda levar o episódio para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como um caso de “violação de correspondência entre o preso e seus advogados”.

Augusto Botelho, que também atua na defesa de Marcelo Odebrecht, declarou que “chega a ser infantil a alegação e acusação da PF de que o bilhete ou o termo ‘destruir os emails’ constitui a prática de crime”. Segundo ele, trata-se apenas de uma comunicação entre o executivo e seus advogados elencando os pontos a serem utilizados no habeas corpus. “Não faz sentido algum alguém mandar destruir um e-mail que é público”, disse.

Oficialmente, a PF não quis comentar as alegações da defesa de Marcelo. O delegado Eduardo Mauat afirmou apenas a situação está sendo investigada.

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