
Brasília - A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) vão fazer um pente-fino em todos os contratos de informática firmados pelo governo do Distrito Federal com empresas particulares nos anos de 2007, 2008 e 2009. Segundo as investigações da PF sobre o mensalão do DF, empresas de informática são, até o momento, as principais suspeitas por abastecer o suposto esquema de propina que o governador José Roberto Arruda (sem partido) teria comandado na administração brasiliense para comprar apoio político de outras autoridades públicas.
As novas investigações devem abranger inclusive uma empresa paranaense, que até o momento não é citada no inquérito da PF que apura o caso (leia mais ao lado).
Por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Secretaria de Fazenda do Distrito Federal deverá encaminhar até a próxima segunda-feira uma planilha com a discriminação dos pagamentos feitos pelo governo do DF, de 2007 a 2009, a todas as empresas que prestam ou prestaram serviços de informática a órgãos da administração pública direta e indireta de Brasília. A determinação é do ministro do STF Fernando Gonçalves, que preside o inquérito. Ele acolheu pedido do MPF e da PF, que solicitaram as informações para prosseguir as investigações.
Busca e apreensão
Também com a autorização de Fernando Gonçalves, a Polícia Federal cumpriu anteontem cinco novos mandados de busca e apreensão da Operação Caixa de Pandora, que apura o mensalão do DEM. Foram recolhidos computadores e documentos que serão analisados e periciados pelo Instituto Nacional de Criminalística. Segundo informações da PF, a operação foi deflagrada em bairros nobres da cidade: Asa Sul, Asa Norte e Lago Sul. Dentre os envolvidos nessa investigação estão a mulher do governador, Flávia Peres Arruda. A ONG que ela administra é suspeita de receber propina paga por empresas de informática (veja reportagem abaixo).
Empresários do transporte são suspeitos de pagar propina
Em nova frente de investigação, o Ministério Público do Distrito Federal apura denúncia de que deputados acusados de participar do chamado mensalão do DEM teriam cobrado propina milionária de empresários de transporte coletivo em troca da aprovação de uma emenda que beneficiaria o setor.
Em depoimento prestado na última quinta-feira a promotores do Núcleo de Combate a Organizações Criminosas, o ex-senador e empresário Valmir Amaral, dono de uma das principais companhias de transporte de Brasília, dá detalhes da negociata. A reportagem obteve cópia do depoimento de Amaral.
O ex-senador disse ao MP que os donos das empresas de transporte teriam se cotizado para pagar o que os deputados distritais pediam: R$ 1,6 milhão para aprovar uma emenda que criava passe livre para deficientes físicos nos ônibus de Brasília. A emenda interessava aos empresários porque, com a criação do passe livre, eles passariam a receber do governo um subsídio de pelo menos R$ 4 milhões por mês.
O ex-senador disse que a proposta lhe foi apresentada pelo presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público do DF, Wagner Canhedo Azevedo Filho, filho de Wagner Canhedo, ex-controlador da falida Vasp. Amaral disse ter ouvido de Canhedo que, primeiro, seria preciso pagar R$ 1 milhão aos deputados para aprovar a emenda. Num segundo momento, os parlamentares cobrariam mais R$ 600 mil caso fosse preciso derrubar em plenário um eventual veto do governo.
A tramitação da emenda se deu justamente como os empresários queriam. O texto foi aprovado na Câmara Distrital, o governador José Roberto Arruda vetou o subsídio. Mas em seguida os deputados derrubaram o veto.
Segundo Amaral, o rateio da propina foi feito conforme a participação de cada empresa no mercado. A maior fatia da propina, segundo o depoimento, seria paga pelas empresas de Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas e do conglomerado que detém a maior fatia (39%) do mercado de transporte coletivo urbano do DF. A cota que cabia à empresa de Amaral era de R$ 170 mil ele garantiu aos promotores que não pagou.
O ex-senador disse ao MP que o dinheiro seria repassado ao presidente da Câmara, Leonardo Prudente, à líder do governo, Eurides Brito (PMDB), e ao deputado Benício Tavares (PMDB).
Procurado, o deputado Leonardo Prudente disse por meio de assessores que não se manifestaria. A deputada Eurides Brito não foi localizada. Já a assessoria do deputado Benício Tavares afirmou que ele só falará sobre o assunto "no momento oportuno".
Wagner Canhedo Filho disse, também por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece os fatos denunciados por Valmir Amaral e que cabe ao ex-senador provar o que disse. A assessoria da Viação Planeta, de propriedade de Nenê Constantino, nega que a empresa tenha dado propina aos deputados.



