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O presidente do TJ-PR, Clayton Coutinho de Camargo, é um dos citados no inquérito da Polícia Federal | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
O presidente do TJ-PR, Clayton Coutinho de Camargo, é um dos citados no inquérito da Polícia Federal| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A Polícia Federal investiga o envolvimento de desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná, juízes de primeira instância e servidores do Judiciário com uma máfia que manipula a administração de processos de falências em todo o Estado.

A investigação chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) em abril. Nesta semana, juízes da Corregedoria Nacional de Justiça e a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo fizeram uma busca no TJ do Paraná em busca de novos indícios contra os suspeitos.

Escutas telefônicas feitas com autorização judicial indicariam, conforme os investigadores, uma "relação incestuosa" entre magistrados do Estado e advogados que buscam a primazia na administração de falências. O negócio é rentável, especialmente no caso de grandes empresas em processo de falência com o patrimônio a ser negociado. O advogado recebe uma porcentagem definida pelo juiz sobre a administração dos bens e sobre as vendas do patrimônio da empresa, como imóveis e máquinas.

Dois grupos opostos se enfrentam na disputa por esse quinhão e, para isso, estariam travando no tribunal uma guerra por prestígio e favores a desembargadores e juízes. Um dos principais beneficiários desse suposto esquema e alvo das investigações seria o advogado Marcelo Simão. De acordo com dados preliminares colhidos nas investigações, esse grupo recebia somente com a administração da massa falida R$ 200 mil mensais, além do ganho com a venda dos bens da empresa em processo de falência.

As gravações, conforme avaliação dos investigadores, revelam que nove desembargadores e dois juízes de 1.ª instância podem estar envolvidos no direcionamento das falências para determinados advogados. Um dos nomes constantes do inquérito é o do presidente do tribunal, desembargador Clayton Coutinho de Camargo.

Parentesco

O magistrado é pai de uma juíza da Vara de Falências e do deputado Fábio Camargo, que, como advogado, administrava falências no passado. A suspeita dos investigadores é de que ele seria inimigo do grupo liderado por Simão e trabalharia para direcionar os casos para outros advogados.

Na Assembleia Legislativa do Paraná, Fábio Camargo patrocinou uma CPI para investigar as atividades de Marcelo Simão. A apuração foi barrada por decisão dos integrantes do tribunal, o que levantou suspeitas da PF.

Os dois trocam acusações. Mas em uma das gravações, segundo os investigadores, o pai de Marcelo Simão, Rubens Simão, sugeriria um acordo com Clayton Camargo. O pacto seria selado com a indicação do filho do magistrado para o Tribunal de Contas do Estado.

O teor das conversas entre advogados e magistrados chamou a atenção da PF, da Corregedoria e do Ministério Público. O tom de amizade entre advogados e desembargadores sugere a existência de um conluio. E o receio de magistrados de conversar por telefone, sugerindo encontros reservados, reforçou a suspeita.

No início da semana, a subprocuradora Lindôra e juízes auxiliares da Corregedoria foram ao Paraná aprofundar a investigação. Nos próximos dias, o corregedor de Justiça, Francisco Falcão, pedirá explicações aos magistrados citados.

A investigação estava na Justiça paranaense e até os nomes de desembargadores aparecerem. O inquérito é relatado pelo ministro Ari Pargendler e tramita em segredo de justiça. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

Outro lado

Segundo matéria publicada neste sábado (15) pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o advogado Marcelo Simão negou que tenha sido beneficiado por decisões de magistrados ou que mantenha relações próximas com os juízes. "A relação que mantive com serventuários ou magistrados foi sempre de cunho profissional", disse ele ao jornal. Ele sustentou ainda que só conheceu os juízes que o nomearam síndico de falências no dia da decisão. "A concentração de falências quer dizer resultado. Hoje, para trabalhar nessa área, é preciso know how. Meu trabalho é de referência".

Ao jornal, o deputado estadual Fábio Camargo afirmou que de fato se candidatará a uma vaga no Tribunal de Contas, mas negou que precise de apoio da família Simão. Ele se disse perseguido pela família. "Desde que comecei a investigar as falências, essa família me persegue".

Segundo a matéria, o Tribunal de Justiça do Paraná foi procurado pela reportagem, mas não encaminhou resposta até sexta-feira (14).

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