
Depois de completar a limpa no Ministério dos Transportes e fazer as substituições dos cargos vagos na cúpula do setor, o que deve acontecer até o fim deste mês, o governo federal desencadeará uma devassa de alcance idêntico ou maior nas superintendências estaduais do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit). Em todo o país, o Dnit tem 23 superintendências e pelo menos 15 delas, dois terços do total, apresentam problemas como corrupção, superfaturamento de obras, fraude em licitações e tráfico de influência.
Não há data para o início dessa "faxina" nas superintendências ou reestruturação, como prefere chamar a presidente Dilma Rousseff , mas já se sabe que deve ocorrer na sequência, em agosto, logo após o fim do recesso do Congresso e que poucos superintendentes sobreviverão.
As denúncias mais graves atingem os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, alvos de investigações no Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público, Controladoria Geral da União (CGU) e Polícia Federal.
Com a cabeça a prêmio, o superintendente de Mato Grosso, Nilton de Britto, antecipou-se aos fatos e colocou o cargo à disposição, em encontro com o ministro Paulo Sérgio Passos esta semana. Mas ele condicionou sua saída à do diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que entrou de férias para não receber a ordem de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Britto explicou que é amigo de Pagot de longa data, trabalhou com ele no governo de Blairo Maggi (hoje senador do PR) até 2005 e em 2008 atuou em cargo de direção do Dnit em Brasília, assumindo a Superintendência em dezembro passado.
"Se ele [Pagot] sair eu saio junto", disse Britto. Mas há outros motivos: Britto é acusado de favorecer a empresa do irmão, o engenheiro Milton de Britto, em contratos com o órgão de cerca de mais de R$ 20 milhões nos últimos dois anos. Ele nega a acusação.
O ministro Paulo Sérgio Passos confirmou que os ajustes alcançarão as superintendências estaduais do Dnit, mas informou, pela assessoria, que só tratará do caso numa segunda fase, após o preenchimento dos cargos de direção vagos na pasta e na estatal.
A escolha dos novos superintendentes será discutida com o futuro diretor-geral do órgão, antes de ser submetida a Dilma. Passos usará interlocutores para convencer os superintendentes a colocarem os cargos à disposição, como fez Britto.
Mas, por enquanto, na indefinição, os superintendentes em apuros ainda tentam ganhar tempo. "Continuamos trabalhando normalmente e aguardando as instruções da sede, em Brasília, e do Ministério dos Transportes", informou o superintendente do Paraná, José da Silva Tiago, cotado para sair por ser ligado a Pagot e enfrentar denúncias de irregularidades em obras, como o trecho da BR-376 que corta Maringá. Ele disse que as recomendações do TCU foram atendidas e que nenhum dos relatórios de fiscalização resultou em condenação até agora.
Por orientação de Dilma, que comanda as mudanças com rédea curta, duas premissas vão nortear a troca de guarda nas superintendências. Uma é a existência de irregularidades graves em obras no estado. A outra é o grau de ligação do superintendente com o núcleo da pasta investigado por suspeita de irregularidades. Os que estiverem nas duas situações têm chance zero de ficar no cargo.



