
A organização criminosa que desviou R$ 18 milhões de um convênio com o Ministério do Trabalho buscou apoio e incentivo do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para obter aditamentos e novos repasses de verbas para o Centro de Atendimento ao Trabalhador, ONG que teria se transformado no reduto da quadrilha.
Relatório da Operação Pronto Emprego, da Polícia Federal, deflagrada dia 3 em São Paulo, revela que o ministro era tratado pela quadrilha como seu interlocutor junto à pasta do Trabalho. Interceptações telefônicas mostram que, em maio, o grupo estava preocupado com perda de espaço no Ministério e com uma divisão na cúpula da pasta. "Gilberto Carvalho irá resolver isso", diz Jorgette Maria Oliveira, presidente da ONG, em ligação gravada.
Carvalho recebeu em seu gabinete muitas vezes padre Lício de Araújo Vale, a quem a PF atribui papel destacado na quadrilha, "articulador dos constantes aditamentos irregulares junto ao Ministério do Trabalho".
Outros dois personagens centrais da trama foram recebidos pelo ministro da Secretaria Geral Jorgette e o advogado Alessandro Rodrigues Vieira, diretor jurídico da ONG.
O relatório da PF descreve os movimentos da organização e o assédio sobre ministro. "É bastante comum a dupla ir a Brasília para tratar da renovação junto a funcionários de alto escalão do Ministério do Trabalho e da Secretaria-Geral da Presidência da República", diz o documento, à página 82, referindo-se a Vieira e padre Licio.
A ONG foi criada pela Arquidiocese de São Paulo, em 2002. Depois, desvinculou-se da Cúria e virou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para capacitação e colocação de trabalhadores. Em 2008, firmou convênio com o Ministério do Trabalho.
O escoadouro do dinheiro público, diz a PF, se deu por meio de aditamentos. Nessa fase a organização pediu colaboração de Carvalho e corrompeu assessores do Trabalho. Gleide Santos Costa, da Secretaria de Políticas Públicas do Ministério, foi preso em flagrante com R$ 30 mil que recebera de Jorgette.
Em várias ligações interceptadas pela PF, a presidente do Ceat conversa com aliados da ONG, pedindo intermediação junto ao Ministério do Trabalho por meio do ministro Gilberto Carvalho. Entre os interlocutores, estão o padre Lício, definido pela PF como "sacerdote e empresário, sócio do Centro Brasil do Trabalho, que não existe de fato, e recebeu R$ 1,26 milhão do Ceat, recursos desviados por meio de prestação de serviços fictícios".
A maior preocupação dos dirigentes é esclarecer o posicionamento político do Ceat, entidade que seria ligada ao ex-ministro Carlos Lupi e que por isso não estaria sendo prestigiada pelo atual titular da pasta, Manoel Dias.
No dia 4 de junho, Jorgette comenta com o padre que Manoel Dias "não está se aproximando" do Ceat porque seriam ligados a Lupi. "Está na hora do Gilberto Carvalho falar com o Manoel Dias e informar que o Ceat é do governo", diz a presidente da ONG. Ela orienta o religioso a falar com Carvalho e pedir que os ajudem porque "existe uma divisão no Ministério e, de alguma forma equivocada, os associaram ao Lupi". Jorgette recomenda ao padre que diga a Carvalho que "não são ligados a ninguém, a não ser ao próprio governo, ao ministro e ao ex-presidente Lula".



