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Eleições

Políticos abordam mais pobres para comprar voto

Líderes comunitários dizem que muitos acabam negociando seu voto

Os candidatos da última eleição, realizada em outubro do ano passado, abordaram os moradores de comunidades de baixa renda para tentar comprar seus votos. É o que dizem os líderes comunitários ouvidos pela Gazeta do Povo. Eles completam que, apesar das orientações dadas, muitos moradores acabam mesmo vendendo seu voto. Em troca, recebem uma pequena quantidade de dinheiro, cestas básicas, promessas de emprego, até tijolo e madeira. "Nada muito caro. Coisas básicas que qualquer um pode comprar", diz o líder comunitário Robinson Nogueira.

Situações como essa colocaram o Paraná como o estado brasileiro onde mais eleitores receberam oferta de compra de votos na eleição passada. Na pesquisa do Ibope encomendada pela ONG Transparência Brasil e pela União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon), divulgada nesta semana, 22% dos entrevistados paranaenses disseram ter sido procurados para trocar seu voto por algum benefício. A média nacional foi de 8%. Mas há o alerta dos estudiosos de que os números tratam apenas de um indício, sem a informação de que os eleitores tenham realmente vendido seu voto (leia abaixo).

É o caso da diarista Olívia Nogueira, 54 anos, que mora em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba (RMC). Ela conta que foi procurada por uma candidata que tinha a prática de entregar junto com seu cartão uma quantidade em dinheiro. "Fiquei arrasada. Já odeio política, ainda mais na minha porta", diz. O caso de Olívia entraria nas pesquisas, mas não entre os eleitores que venderam seu voto. "Estamos prometendo que se ela voltar vamos sair com cabo de vassoura", brinca.

Para a coordenadora nacional de Curitiba da União de Moradias Populares, Maria das Graças Silva de Souza, além dos políticos caracterizados por oferecer dinheiro e bens materiais em troca e votos, há também os denominados "periquitos". Em outras palavras, são os que usam a máquina para fins eleitorais e se nomeiam responsáveis pela construção de determinadas obras. "Apareceu alguém que diz que fez nossa recolocação. As pessoas vem me perguntar e digo que não foi essa pessoa que veio aqui. Ela não fez nada disso", conta.

Maria representa a Associação de Moradores A Força de Um Poder Maior, onde mora parte das família que ocuparam a sede do Banestado em 2003, das quais, segundo ela, só meio porcento tem carteira assinada. Os candidatos acabam se aproveitando dessa situação, como, por exemplo, da construção de 308 casas populares. "Disseram que se as famílias não votassem naquele candidato, iam acabar com a obra", conta. "Tive de fazer panfleto dizendo que a realidade não era essa."

Nesta eleição, no entanto, menos candidatos procuraram o Clube de Mães Vila das Torres, como conta a presidente Irenilda Arruda, que trabalha indiretamente com 8 mil pessoas. Apesar da diminuição, ela conta ter visto a distribuição de cestas básicas e dinheiro e pagamentos aos moradores para que cedessem seus muros para que o candidato exibisse seu número. O valor dado pelo muro variava entre R$ 30 e R$ 200. "Uma pessoa me disse que pegou mesmo porque estava passando fome. Orientei para que não votasse no candiato por causa de uma cesta básica", conta a presidente, que completa orgulhosa que as pessoas estão mais informadas e que alguns moradores aceitaram a ajuda, mas não necessariamente votaram no candidato.

A oferta de compra de voto por dinheiro vivo, segundo a pesquisa da ONG Transparência Brasil, foi feita a 18% dos entrevistados paranaenses, enquanto a média nacional foi de 4%. Na Região Sul foi de 8%, seguida das regiões Nordeste (6%), Norte/Centro Oeste (3%) e Sudeste (2%).

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