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Tragédia

Pouso sem o reverso é possível, mas gera risco em Congonhas

Técnicos garantem que é seguro aterrissar um Airbus sem usar um dos reversos. Mas pilotos e especialistas dizem que numa pista curta a operação envolve riscos

Aterrissar um avião de grande porte sem o uso do reverso (equipamento que inverte a pressão da turbina e ajuda a aeronave a frear) é possível. Mas a falta desse equipamento pode dificultar o pouso em situações não ideais da pista - como é o caso em Congonhas.

A questão foi levantada após reportagem de quinta-feira (19/07) do "Jornal Nacional", da TV Globo, revelar que o avião da TAM que se chocou contra um prédio em Congonhas tinha um defeito no reverso da turbina direita desde o último sábado (14). Ao menos 188 pessoas morreram no acidente - o mais grave da história da aviação brasileira.

Por causa do defeito, a TAM informou que o reverso foi travado - ou "pinado", na linguagem técnica dos pilotos. Logo, o comandante do Airbus que se acidentou tinha à sua disposição o reverso da outra turbina.

"É possível parar um avião de grande porte, como o Airbus, sem acionar o reverso. Mas numa pista curta, sem área de escape e considerada crítica, como Congonhas, o uso do reverso dá mais segurança na hora da aterrissagem", afirmou ao G1 o engenheiro aeronáutico João Zacharakis, que desde os anos 70 dá treinamento a pilotos em simuladores de vôo.

Segundo ele, frear um Airbus sem o uso do reverso requer mais espaço na pista do aeroporto para que o avião reduza sua velocidade. A própria fabricante do Airbus reconhece isso. Em seu manual, diz que são necessários mais 55 metros de pista para frear a aeronave sem o reverso em uma condição de "pista contaminada" -isto é, em uma situação de chuva forte.

O que poderia aumentar o risco de um pouso sem reverso em Congonhas é o tamanho da pista principal -de 1.940 metros de extensão, considerada curta por especialistas, ainda mais para aviões grandes e pesados, como o Airbus A320. O fato de não haver uma área de escape no mais movimentado aeroporto do país também contribui para aumentar a dificuldade em realizar um pouso ou uma decolagem.

Restrições

"Quanto mais restrições existem na hora do pouso, menos flexibilidade de opções o piloto e o avião têm", disse ao G1 Jorge Filipe Almeida, ex-piloto da FAB e hoje dono de uma empresa de treinamento de aviadores e de segurança em vôo.

Segundo ele, o piloto do avião da TAM "com certeza" sabia que um dos reversos estava travado. "Antes de decolar ele recebe um pacote pronto com as instruções de seu vôo e as condições da aeronave. Mas é difícil avaliar qual terá sido sua atitude ao pousar em Congonhas com apenas um reverso funcionando."

Ao ver as imagens divulgadas pela Infraero do avião da TAM trafegando pela pista de Congonhas em alta velocidade segundos antes da colisão, Almeida diz que provavelmente o piloto do Airbus acionou o reverso que estava funcionando. "Deu pra ver uma fumaça junto à turbina. Deve ser a água que sobe do solo molhado com o impacto do fluxo de ar do reverso."

A mesma opinião tem Sérgio Marques, porta-voz da Federação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo. Para ele, a imagem deixou evidente que o piloto acionou um dos reversos.

Se a informação sobre o uso de um dos reversos for confirmada com a abertura da caixa-preta, na semana que vem, a questão que ficará é: será que o uso do reverso de apenas um dos lados do avião pode ter desestabilizado o Airbus? A dúvida ganha relevância quando se lembra que o avião da TAM fez uma curva para a esquerda antes de sair do aeroporto, voou sobre a avenida Washigton Luís e se chocou contra um prédio da própria TAM.

"Pelas leis da física, o avião com apenas um reverso em uso deveria dar uma guinada para o lado", aponta Almeida. "Esses aviões modernos têm um sistema de correção que poderia compensar esse desvio. Mas se a pista estivesse escorregadia, como comentaram pilotos nos últimos dias, o uso de apenas um reverso poderia, sim, influir na trajetória do avião na pista", completa Marques.

Infraero e TAM

O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse nesta sexta-feira (20) que alguns aviões podem voar com segurança apenas com um reverso ligado, como supostamente foi o caso do Airbus da TAM.

"Para alguns aviões com tecnologia avançada não é impeditivo voar apenas com um dos reversos ligados", disse Pereira. Mas até ele ponderou que cabe ao piloto julgar se há segurança em pousar numa pista curta e molhada, como era o caso da principal do Aeroporto de Congonhas, com um dos reversos desligado.

O vice-presidente técnico da TAM, Rui Amparo, disse ao "Jornal Nacional" que o problema no reverso não impossibilitava o uso da aeronave. Segundo ele, o reversor esquerdo da aeronave envolvida no acidente de terça-feira (17) foi desligado, mas o do lado direito estava funcionando normalmente.

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