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Poder público

Prefeitura dá cargos a dirigentes de associações comunitárias

Líderes de entidades ganham salários em postos de confiança. Especialistas dizem que relação traz prejuízos para a democracia

Nilson Pereira, da Femoclam, e Edson Pereira Rodrigues, do Parolin: entidades têm relações com a prefeitura de Curitiba | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Nilson Pereira, da Femoclam, e Edson Pereira Rodrigues, do Parolin: entidades têm relações com a prefeitura de Curitiba (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

Presidentes de associações de bairros de Curitiba estão ganhando cargos dentro de instituições públicas para "intermediar" o diálogo com a população mais carente da capital. Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostra que pelo menos 14 dirigentes de associações de moradores e clubes de mães de Curitiba e região metropolitana foram contratados pela prefeitura da capital, pelo governo do Paraná e pela Câmara de Curitiba em cargos comissionados.

Especialistas afirmam que pode estar ocorrendo uma perigosa cooptação dos dirigentes dessas entidades: ao ganhar um salário público, eles estariam se comprometendo a carrear votos para seus novos chefes políticos. Os líderes comunitários negam que haja problemas no relacionamento, mas as três principais centrais que reúnem as associações de bairros têm ligações políticas e partidárias.

A Federação Comunitária das Associações de Moradores de Curi­­tiba e Região (Femoclam), por exemplo, tem três diretores e coordenadores empregados na prefeitura de Curitiba. Um deles é funcionário da Câmara Muni­cipal. O presidente licenciado é o ex-vereador Valdenir Dias, atualmente contratado como assessor parlamentar das comissões do Legislativo municipal.

O presidente da Femoclam, Nilson Pereira, diz, porém, que os líderes de bairro são orientados a ter independência do poder pú­­blico. Ele destaca que a entidade é autônoma e afirma que o ex-vereador Valdenir não participa da administração por ter vinculação com a Câmara. "Para não dar rolo, para não dizerem que estamos nos beneficiando." Contraditoria­mente, a sala da presidência da entidade é recheada de fotos e ho­­menagens a Valdenir.

O presidente interino da Fe­­deração das Associações de Mora­­dores do Paraná (Famopar), Luiz de Mauro, é funcionário em co­­missão na prefeitura da capital contratado como agente público da Companhia de Habitação Po­­pular de Curitiba (Cohab). Tam­bém integra o Conselho da Ci­­dade de Curitiba (Concitiba) e o Con­­selho Estadual de Saúde (CES).

"Trabalho com regularização fundiária e conflitos fundiários. Na mobilização das comunidades", diz Mauro. O presidente, que está reativando a organização, admite proximidade com algumas instituições, mas minimiza o problema. "Eles fazem palestras e nos dão o espaço para reuniões ou fornecem o café", afirma.

Do outro lado, está o presidente da Federação Democrática das Associações de Moradores, Clu­bes de Mães, Entidades Benefi­centes e Sociais de Curitiba (Fe­­mo­­tiba), Edson Feltrin. Embora não tenha cargo político no momento, Feltrin é filiado ao PDT – partido de oposição ao prefeito Luciano Ducci (PSB). E atua como verdadeiro oposicionista: foi ele, por exemplo, quem levou à Câmara um pedido de impeachment contra o presidente do Legislativo municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), por supostas irregularidades em contratos de publicidade.

Feltrin também prega independência. Diz que "líderes co­­munitários não podem ser pedintes a vida toda" e por isso defende a autonomia das associações. Ele defende a atuação que faz como uma forma de "conscientização". "A finalidade da Femotiba é elevar a consciência política das lideranças", resume.

Interatividade

As ligações das associações de bairro com a prefeitura são prejudiciais? Por quê?

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