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O presídio Evaristo de Moraes, mais conhecido como Galpão da Quinta, em São Cristóvão, na Zona Norte da cidade, é uma espécie de central telefônica das extorsões com que presidiários têm atemorizado o Rio de Janeiro e outros estados.

Levantamento do Ministério Público (MP) estadual mostra, que, só no ano passado, foram apreendidos 229 telefones celulares no Galpão da Quinta, apontado por promotores e agentes de segurança como a mais vulnerável da cidade. O total de apreensões na Quinta supera as de outras 43 penitenciárias fluminenses.

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Investigações sucessivas têm flagrado detentos praticando extorsão por telefone, golpe conhecido como disque-seqüestro, e que conta com a ajuda de cúmplices de fora da cadeia. A Secretaria de Administração Penitenciária do estado não quis comentar o levantamento feito pelos promotores.

A entrada de celulares e armas nos presídios poderia ser evitada na revista aos visitantes, desde que o detector eletrônico de metais funcionasse. "O sistema de detector metais não funciona na maioria dos presídios", critica o promotor da área de execuções penais do MP fluminense, André Guilherme Tavares de Freitas.

A Secretaria de Administração Penitenciária não informou quais são os presídios que têm o equipamento. Mas, segundo a assessoria de imprensa, existem bloqueadores de sinal de celular nos presídios de segurança máxima (Bangu 1, 2, 3 e 4) e na Penitenciária Ary Franco, em Água Santa, no subúrbio do Rio.

Depois do Galpão da Quinta, aparecem a Penitenciária Industrial Esmeraldino Bandeira, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste, com 147 telefones apreendidos só ano passado, e o Presídio Ary Franco, em Água Santa, no subúrbio, com 80 celulares e três armas de fogo, segundo o levantamento do MP.

Na Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, conhecida como Bangu 1, também em Gericinó, não houve apreensões de armas ou celulares no ano passado, mas a Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho, Bangu 5, teve 24 telefones apreendidos. Até no serviço especializado em tratamento psiquiátrico, o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, havia um celular.

"Depósito de seres humanos"

Recordista em apreensões, o Galpão da Quinta tem 1.346 detentos. O presidente do sindicato dos agentes penitenciários, Francisco Rodrigues, considera a cadeia um "depósito de seres humanos".

"Não se encontra, lá dentro, o mínimo de segurança necessária para ter cidadãos presos", afirma Rodrigues. A opinião é compartilhada pelo promotor Freitas, um dos responsáveis pela fiscalização do sistema prisional do Rio. O principal problema do presídio é mesmo a fiscalização da entrada de visitantes.

"Tem que intensificar a fiscalização das entradas dos objetos dentro dos presídios", afirma, explicando que o MP faz uma média de duas visitas a unidades prisionais diferentes por mês. "A corrupção dos agentes penitenciários permite tais ocorrências, bem como a falta de revista nos advogados", diz o promotor.

O presidente do sindicato, Francisco Rodrigues, considera "hipocrisia" atribuir a culpa a "cinco ou seis funcionários por plantão porque, na maioria dos presídios, não há sequer detector de metal". E defende:

"Deveriam pôr nas portarias só agentes que nunca tiveram contato social com a classe marginal", diz, argumentando: muitos agentes penitenciários moram em favelas e não resistem ao assédio de conhecidos marginais; pressionados, eles acabam facilitando a entrada de drogas ou celulares.

O efetivo pequeno, na proporção de dez agentes para mil presos, segundo estimativa do sindicalista, é alvo de críticas. "A Organização Internacional do Trabalho considera a pior função laborativa do mundo", informa, acrescentando: "A maioria das mortes é por doenças causadas pelo estresse. Em segundo lugar, é a morte matada, vingança. A profissão transforma o funcionário do cárcere em uma bomba. Não tem equipe de acompanhamento psicológico", conclui o sindicalista.

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