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Paulo Bernardo (ao centro) é escoltado por policiais federais durante a transferência de Brasília para São Paulo | José Cruz/Agência Brasil
Paulo Bernardo (ao centro) é escoltado por policiais federais durante a transferência de Brasília para São Paulo| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Os obstáculos para o PT se manter vivo nas eleições municipais deste ano aumentaram nesta quinta-feira (23), com a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A Operação Custo Brasil, deflagrada em cinco estados, com 65 mandados cumpridos, atinge candidaturas locais e também a estratégia de defesa da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, que tem a parlamentar paranaense como uma de suas principais combatentes.

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As imagens da operação de busca e apreensão na sede do PT em São Paulo, com a presença de força policial especial, também vão impactar negativamente no partido, avaliam os especialistas. Segundo a Polícia Federal (PF), há a suspeita de pagamento de R$ 100 milhões em propina a funcionários e agentes públicos. Bernardo teria recebido R$ 5,6 milhões. O dinheiro desviado também teria abastecido o caixa do PT.

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O PT já vinha desenhando uma participação reduzida na disputa pelas prefeituras. Na última quarta-feira (22), o partido decidiu que não terá candidatura própria em um de seus mais importantes redutos eleitorais: Salvador. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad sofreu mais um golpe para se reeleger – o secretário municipal de Gestão, Valter Correia, foi um dos presos na Custo Brasil, que é um desdobramento da 18.ª fase da Operação Lava Jato. Por enquanto, há pré-candidaturas definidas em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Rio Branco e Manaus. Em 2012, das 26 capitais, o partido tinha nomes do próprio quadro em 13 delas.

Para o cientista político David Fleischer, da UnB, a operação causa dano extra ao PT por implicar também o ex-tesoureiro João Vaccari Neto. “Consta que ele está negociando delação premiada, e se por acaso for acusado e culpado também por esta nova investigação, ficará estimulado a entregar mais rápido mais informações”, avalia.

Segundo Geraldo Tadeu Monteiro, cientista político no Iuperj, o PT vai sentir o golpe eleitoral principalmente nas capitais e grandes cidades. “Nas cidades pequenas, impera a lógica local, de alianças e problemas da comunidade. Nos municípios maiores, o tema nacional ganha importância, e ficará mais clara a dicotomia entre PT e os anti-PT”, avalia. Para Monteiro, o partido vai “apanhar” bastante nas capitais.

Dilma

A operação foi deflagrada em um momento em que a força-tarefa da Lava Jato se voltava para a participação de outros partidos nos esquemas de corrupção e desvio de dinheiro. No Senado, aliados de Dilma Rousseff negociam a manutenção dela no cargo, com a premissa de que sejam realizadas novas eleições. As incertezas políticas envolvendo o primeiro escalão do governo interino Michel Temer contribuíram para esse cenário.

Gleisi Hoffmann é uma das mais aguerridas defensoras de Dilma na Comissão do Impeachment no Senado. Ela também é alvo de investigações no âmbito da Lava Jato, mas como tem foro privilegiado o processo tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e em segredo de Justiça. Não é possível saber se ela tem envolvimento no suposto recebimento de propina pelo esquema.

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O deputado estadual Tadeu Veneri (PT), pré-candidato à prefeitura de Curitiba, diz que a campanha eleitoral não sofrerá mudanças por conta da Operação Custo Brasil, que levou à prisão o ex-ministro Paulo Bernardo. “É uma situação desconfortável, mas todos os políticos precisam estar disponíveis para prestar os esclarecimentos que se fazem necessários”, diz.

Veneri, porém, cita os mesmos argumentos que o comando do PT nacional e critica o abuso de imagens em operações. “A priori não faço absolvição ou condenação de ninguém, mas seria fundamental um tratamento equânime. Do mesmo jeito que a mulher e a filha do Eduardo Cunha prestaram depoimento, em sigilo, sem ter sua imagem divulgada, todos deveriam ter esse direito”, pondera.

O pré-candidato diz que vai tratar dos temas municipais na eleição. “Não faria sentido questionar à candidata do PP daqui o porquê de o ex-tesoureiro do partido ter sido preso”, disse, em referência a João Claudio Genu, preso na 29.ª fase da Lava Jato. “Precisamos é discutir os temas da cidade, o que foi acerto, o que foi erro, e nossas propostas para as áreas”, acrescentou Veneri.

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Ainda que o PT seja particularmente atingido com os recentes desdobramentos da Operação Lava Jato, o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro afirma que todos os políticos estão sujeitos à revolta popular.

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“Fiz uma pesquisa na cidade do Rio de Janeiro, e repeti na Baixada Fluminense. A proporção de votos brancos e nulos chega a quase 22%, o triplo do usual. E não há nenhum candidato que some o mesmo porcentual em votos”, conta.

Segundo ele, a Lava Jato criou um grau de incerteza muito grande para as negociações políticas. “Fica difícil planejar uma candidatura, se você, seu partido ou seus apoiadores podem entrar na mira das investigações. Do lado do eleitor, há uma má vontade muito grande com todos os candidatos”, acrescenta.

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