
Há exatos seis meses, com a prisão do fotógrafo Marcelo “Tchello” Caramori, em 29 de janeiro, as investigações sobre o “tripé” formado por abusos sexuais contra adolescentes, fraude numa licitação do Departamento de Transportes do governo do estado e corrupção na Receita Estadual, davam um passo importante.
Caramori, que até então tinha um cargo de assessor no Palácio Iguaçu, lotado na Casa Civil, foi o primeiro investigado a fazer acordo de delação premiada, que consiste na redução da pena em troca de contribuição para as investigações. Poucos dias depois, ele passou a responder em liberdade. Quebrou o primeiro acordo, mas conseguiu costurar um novo e desde então não voltou a ser preso.
Caramori foi o primeiro a citar o envolvimento do empresário Luiz Abi Antoun, parente distante do governador Beto Richa (PSDB), tanto no caso da licitação, investigado pela Operação Voldemort, quanto na Operação Publicano, que investiga fraudes na Receita Estadual.
Meio ano depois, Caramori não dá entrevistas. Segundo o seu advogado, Leonardo Vianna, ele voltou a trabalhar como fotógrafo e tenta “reconstruir” a vida. “Ele está tocando a vida na medida do possível, porque isso o abalou”, diz.
A tatuagem no braço, que ele chegou a exibir nas redes sociais com um código de barras e a inscrição “100% Beto Richa”, passou por uma “reformulação” e foi transformada em “100% família”. A alteração seria reflexo do tratamento dispensado por Richa ao ex-assessor.
Para desqualificar os depoimentos de Caramori, o tucano se referiu a Caramori, em entrevista, como “acusado de pedofilia”.
Apesar de postar no seu perfil no Facebook muitas fotos ao lado de Richa, Caramori não tinha tanta influência junto ao governador, daí os limites da sua contribuição para as investigações. Mesmo assim, a colaboração foi considerada importante.
Contribuição
Para o promotor Renato Lima Castro, Caramori tinha “informações mais gerais” e não uma “análise específica sobre o andamento da corrupção”. “A contribuição dele foi bem mediana, ele mostrava a estrutura geral. Não é igual à do Luiz Antônio de Souza [auditor da Receita que está preso e também colabora com a investigação], a pessoa que estava dentro da organização criminosa”, ressalta o promotor. “Embora tivéssemos já uma radiografia da organização, não tínhamos [naquele momento] dados concretos de dentro para fora”, diz o promotor, analisando a relevância da delação do ex-assessor.
Apesar de alguns empresários e contadores envolvidos com o esquema dos auditores fiscais terem colaborado com as investigações, depois de Caramori, a delação mais importante foi a de Souza, que só começou a colaborar com as investigações após 90 dias, já no mês de maio.
Estrutura montada
Leonardo Vianna, advogado de Marcelo Caramori, afirma que apesar de seu cliente ter sido o primeiro a denunciar Luiz Abi, primo distante do governador Beto Richa, “não há nenhum indicativo de que possa sofrer represália”. “Ele tem a proteção do Gaeco. Se tiver alguma coisa, alguém rondando a casa, há um telefone disponibilizado”, diz.



