Um dos procuradores da Operação Zelotes, Frederico Paiva, reconheceu que, embora haja indícios de que parlamentares tenham recebido propina durante a tramitação de medidas provisórias, dificilmente será possível comprovar os pagamentos. “Parlamentar deve ter recebido. Agora, provar isso vai ser muito difícil, infelizmente”, concluiu Paiva.
Ele disse que o modus operandi de dois dos réus – os lobistas Alexandre Paes dos Santos, o APS, e José Ricardo da Silva– dificulta o rastreamento de valores. “Houve saque de um R$ 1 milhão na boca do caixa. Na medida em que há cash, uma mochila cheia de dinheiro, [provavelmente] não se consegue rastrear mais”, justificou.
Segundo ele, o montante era guardado num cofre a que apenas APS e Silva tinham acesso. “A partilha era feita em dinheiro vivo, justamente para dificultar, e dificulta”, afirmou Paiva, sem especificar, nesse caso, quem se beneficiava da divisão dos recursos.
Ele lembrou ainda que, para o Ministério Público, está claro que parte da propina foi paga a Lytha Spíndola, ex-secretária de Comércio Exterior no Ministério do Desenvolvimento, e ao ex-diretor de Comunicação Social do Senado Fernando Cesar Mesquita.
O procurador lamentou o fato de algumas medidas solicitadas pelo Ministério Público Federal, como quebras de sigilos, terem sido negadas pela Justiça Federal. “Isso [os vetos aos pedidos feitos pela Procuradoria] também atrapalhou, mas faz parte, são entendimentos jurídicos”, concluiu Frederico Paiva.
Ironia
O procurador comentou ainda as declarações do ex-ministro Gilberto Carvalho, que, após prestar depoimento nesta segunda (25), afirmou que a Operação Zelotes está direcionada para prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele fala o que quer. Fala também que nos últimos oito anos tomaram todas as medidas para beneficiar a população. Deram todas certo, né, é só ver a crise que está”, rebateu Frederico Paiva, em tom de ironia.
Outro lado
As defesas de Lytha e Fernando Cesar Mesquita, sempre que procurados, negam que os clientes tenham recebido qualquer vantagem indevida nem participaram da elaboração das medidas provisórias investigadas.
Os advogados de José Ricardo da Silva e Alexandre Paes dos Santos sustentam que seus clientes jamais subornaram quem quer que fosse para aprovar as MPs. Ambos dizem que atuaram num espécie de consultoria técnica e administrativa, durante a tramitação das matérias.



