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Magnus: “nem nos piores momentos, me arrependi de denunciar” | Arquivo pessoal
Magnus: “nem nos piores momentos, me arrependi de denunciar”| Foto: Arquivo pessoal

Citados preferiram não se manifestar

A reportagem da Gazeta do Povo procurou todas as pessoas citadas na entrevista concedida pelo empresário Hermes Magnus. Assad Jenani, irmão do ex-deputado federal José Janene, disse que não conhece o empresário. Jenani responde um processo judicial por envolvimento no esquema comandado por Janene. "Não há nada no processo além da informação de que eu fui fiador dele [Magnus]. Isso porque eu era fiador do meu irmão [José Janene]", afirmou. O advogado de Alberto Youssef e Danielle Janene, Antônio Figueiredo Basto, afirmou que não vai comentar o assunto.

Os advogados de Rubens de Andrade Filho, Renato Neves Tonini, e de Meheidin Hussein Janene, Marlos Luiz Bertoni, não retornaram aos pedidos de entrevista feitos pela reportagem. O deputado João Pizzolatti não atendeu às ligações da reportagem. José Muggiati Neto, Roberto Brasiliano e Claudio Mente não foram localizados para comentar o assunto. O Ministério Público Federal e o Ministério da Justiça não se manifestaram sobre a afirmação de Magnus de que ele teria pedido proteção após denunciar o esquema.

Hermes Magnus é dono da empresa Dunel Indústria e Comércio, usada pelo ex-deputado José Janene, morto em 2010, e pelo doleiro Alberto Youssef para lavar dinheiro do Mensalão. O caso foi descoberto depois de denúncias de Magnus e virou uma das ações penais referentes à Operação Lava Jato. A seguir, ele conta como foi a ação dos envolvidos.

Na denúncia do Ministério Público Federal, os investigadores apontam que a Dunel foi usada pelos operadores do esquema para lavar dinheiro do mensalão. Como o ex-deputado José Janene e o doleiro Alberto Youssef chegaram até o senhor para tentar usar a Dunel no esquema?

Eu procurava investidores para conseguir atender às solicitações de meus clientes, no Brasil e exterior. Cheguei até a empresa CSA Project Finance [empresa de fachada controlada por Youssef] por meio do paranaense José Muggiati Neto. Naquele momento, eu, completamente desconectado da política, não liguei seu nome [Janene] ao mundo da política. Janene me disse: "Eu li seu plano de negócios e, se quiser, temos dinheiro do Banco do Nordeste, basta montar uma empresa do Espírito Santo para cima. Mas se não quiser um banco, temos dinheiro nosso, menos burocrático. Para isso, deverá abrir uma filial de sua empresa em Londrina, no Paraná". Infelizmente, eu aceitei a proposta.

Quando o senhor percebeu que havia alguma coisa errada nas atividades de Janene e Youssef e resolveu denunciá-los?

No mesmo fim de semana que eu cheguei a Londrina, Janene acionou ao menos quatro prefeitos para que conseguissem galpões. Finalmente, ao fim da tarde ligou um assessor dele, [Roberto] Brasiliano, dizendo que encontrou um galpão em uma imobiliária. Chegamos ao local, bairro Aeroporto, em Londrina. Assinamos o contrato, com Janene de avalista. Depois o contrato sumiu e a tal imobiliária negou ter intermediado algum negócio. Aí foi o primeiro grande indício de algo estranho.

De acordo com o Ministério Público Federal, a intenção do grupo criminoso era afastar o senhor do comando da Dunel. O senhor percebeu esse movimento? Quando?

Imediatamente após a posse da Danielle Janene [filha de Janene] na área comercial, a coisa começou a mudar. Todos os e-mails tinham de ser triados por ela. Depois que o Meheidin [Hussein Jenani, primo de Janene] veio a ser o gerente de produção, a coisa piorou. Eu era voto vencido em todas as reuniões. Eu, como já estava denunciando para diversas autoridades, contando a história aos quatro cantos do Brasil e do mundo, por meio de pseudônimos, acreditava que o prédio seria invadido a qualquer momento pela Justiça. Nos dias muito tensos, eu ia diversas vezes até o portão ver se alguém estava vigiando.

Qual era sua expectativa ao realizar a denúncia?

Queria que a Polícia Federal invadisse e prendesse toda aquela gente. Eu queria meus equipamentos da fábrica antiga de volta, que levei para Londrina, para poder voltar a produzir sozinho. Com o passar das semanas ele [José Janene] me contava coisas e eu comecei a dar corda, até que resolvi começar a fazer perguntas. Cada resposta dava origem a novo e-mail para as autoridades. Mas parecia não adiantar, eu sentia que estava falando com as paredes. Certifiquei-me de todos os cuidados, minha expectativa era não encontrar uma Justiça tão lerda e tão cega pelo caminho. Refiro-me ao âmbito local, de uma Londrina que parecia ter donos.

A denúncia foi realizada em 2008, mas a Operação Lava Jato só foi deflagrada em 2014. O senhor chegou a pensar que o caso tinha sido esquecido?

Cinco anos é muito tempo, mostra que algo saiu errado durante as investigações, falta de contingente ou ingerência. Também existe a estratégia, por isso não posso condenar.

Como o senhor recuperou o controle da Dunel?

Eles nunca tiveram o controle jurídico da empresa, nunca assinei, nem sob ameaça armada. Nunca assinei o que eles mais queriam — os recibos de mútuos para lavar o dinheiro. Tentaram também que eu assinasse a transferência dos ativos para a empresa do Assad Jenani, a JN Rent a Car. Dos cinco advogados contratados para fazer o distrato com o Janene e o Youssef (CSA) — em momentos diferentes —, todos queriam fazer acordo. Mas não havia chance de fazer acordo com bandido.

O senhor sofreu represálias por causa de sua denúncia? Chegou a ser ameaçado?

O cômputo geral foi negativo, sofri ameaças diretamente dentro da Dunel em Londrina. Quando fugi, Janene disse: "Se você não aceitar o meu investimento sua vida vai ficar azeda, vou te buscar onde quer que você esteja". Colocaram fogo em casa, em Santa Catarina. Janene dizia que em Blumenau o irmão dele, deputado [João] Pizzolatti [PP] se encarregaria de fazer a minha vida ficar azeda. A pressão era tanta que minha mãe faleceu e eu, que estava no exterior, nem ao seu enterro pude ir.

A polícia chegou a lhe oferecer proteção por ter denunciado o esquema?

Recebi escolta da PF, entre Londrina e Penha (SC) apenas uma vez, após o primeiro depoimento, em 2009. Recentemente solicitei segurança ao MPF e ao Ministério da Justiça, entretanto fui dissuadido da ideia, pois a única opção seria o Provita. Este sistema de proteção à testemunha é duvidoso e além do mais eu não poderia trabalhar. Quem iria indenizar meus clientes? Tentei porte de arma, mas deu errado.

Qual a sua opinião sobre os desdobramentos recentes da Lava jato, como a prisão de executivos de grandes empreiteiras?

Quando estava perto do Janene escutava muito o nome destes empreiteiros e ver parte do esquema sendo julgado já é um bom começo.

O senhor acha que os responsáveis serão punidos?

Olha, eu sei que as penas do Brasil são brandas. Vi depoimentos de dois presos da Lava Jato em que omitiram nomes que eu sei que eles sabem. Acredito no Dr. Sérgio Moro, nos procuradores, mas não acredito em todos os ministros do STF.

O senhor já chegou a se arrepender de ter feito a denúncia?

Nunca, nem nos piores momentos, me arrependi de denunciar. Muitos me chamam de burro, não me importo. Eu deito e durmo.

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