
Brasília - A propaganda virou a "alma" da direção do Congresso Nacional para combater a onda de escândalos que assola a instituição nos últimos quatro meses. Um dia após dizer que crise "é do Senado" e não dele, o presidente José Sarney (PMDB-AP) apresentou ontem uma campanha para ressaltar a importância do Parlamento brasileiro. A medida contrastou com a manifestação de nove senadores (nenhum deles do Paraná) que sugeriram um pacote moralizador para a Casa.
Durante a apresentação, Sarney lamentou que a cobertura da imprensa seja focada em fatos negativos do Poder Legislativo. As declarações seguiram a mesma linha do discurso feito em plenário um dia antes, quando disse que vários países do mundo enfrentam uma "crise de representatividade", na qual segmentos sociais tentam ocupar o espaço dos parlamentares como representantes do povo. "Com todos os seus defeitos, o Congresso Nacional é a instituição que assegura os direitos de todos."
Ele ressaltou que a instituição está muito mais próxima do povo do que os poderes Executivo e Judiciário. "Na Câmara e no Senado, a população participa do processo. Quantas vezes recuamos ou avançamos de acordo com a participação do povo?"
Sarney esteve acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP). Ao contrário do colega senador, o paulista não foi envolvido pessoalmente nos escândalos que afetam a instituição. Segundo ele, o Legislativo é o poder mais "aberto" da República e por isso também está mais exposto a críticas.
O slogan escolhido para a campanha de valorização institucional é "O Congresso faz parte da sua história". O material é composto por seis peças promocionais que tratam de avanços na legislação que seriam de mérito de deputados e senadores. Entre eles, a Lei Maria da Penha, que trouxe punições mais rígidas para a violência contra a mulher, e a proposta que instituiu o seguro-desemprego.
A campanha abrange veiculações em jornais, rádios e televisões e está disponível para download no site do Senado (www.senado.gov.br). As peças foram desenvolvidas internamente e serão destinadas aos veículos de comunicação do Congresso e pelas demais emissoras públicas. "Institucionalmente, pode ser uma estratégia de propaganda interessante. Mas o que parece mesmo é uma tentativa de tirar o foco dos problemas, o que prejudica o efeito", avaliou o professor de Marketing da Universidade de Brasília, Rafael Porto.
Apesar do anúncio da propaganda, Sarney não quis antecipar o teor do relatório que será apresentado na próxima segunda-feira sobre os cerca de mil atos secretos do Senado nos últimos 14 anos, que teriam garantido a contratação de parentes de parlamentares para cargos comissionados sem publicidade. A medida provocou a reação de um grupo suprapartidário de nove senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Pedro Simon (PMDB-RS), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Tião Viana (PT-AC), Sérgio Guerra (PSDB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES) e Demóstenes Torres (DEM-GO).
Eles apresentaram um pacote de oito sugestões (veja na próxima página) para moralização da Casa, encabeçadas pela demissão do atual diretor-geral, Alexandre Gazineo. Jereissati falou como porta-voz do grupo e disse que as ideias refletem a visão da maioria dos demais colegas. "Nós queremos discutir (as propostas) e algumas podem ser aplicadas imediatamente. Se forem aceitas, podemos realmente abrir um novo caminho", defendeu o cearense.



