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O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz negou nesta quinta-feira(2) que tenha recebido do diretor-geral afastado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, ordem específica para investigar o banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity e um dos presos na Operação Satiagraha. Em depoimento ao Ministério Público no Distrito Federal, o delegado Protógenes afirmou que as investigações da Satiagraha foram "uma missão presidencial ao Paulo Lacerda".

Ao ser condecorado nesta quinta na sede do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o delegado disse que "em nenhum momento" houve orientação de Lacerda para investigar Daniel Dantas. O delegado, que foi afastado do comando da Operação Satiagraha em julho, negou ainda que as investigações da Polícia Federal eram de conhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A única situação que envolve o gabinete do presidente da República é que Luiz Inácio Lula da Silva, no Haiti (no final de maio) , elogiou o nosso trabalho", afirmou Protógenes.

Ele disse ainda estar confiante na punição dos suspeitos presos na Operação Satiagraha. "Depois de toda essa investigação concluída com a devida punição daqueles que têm que responder para a sociedade, nós vamos construir um País melhor", afirmou Protógenes, que foi afastado do comando da Satiagraha depois de supostos excessos cometidos pela PF durante a operação.

Conselheiro

Protógenes mostrou que se sente injustiçado e incompreendido e que quer ser tratado como herói, apto a distribuir conselhos políticos. Depois de receber medalha de honra ao mérito, Protógenes sacou do bolso do paletó uma espécie de "pronunciamento" à Nação, onde afirmou ter ocorrido o "assassinato" da reputação de pessoas e instituições envolvidas na Satiagraha, sem que o trabalho fosse "compreendido por aqueles que tinham o dever de preservá-lo".

"Fomos sucumbidos pela vontade de fazer acontecer, pelas vaidades pessoais, emoções por parte de alguns, conflitos e escândalos fabricados em favor do crime e dos criminosos, sobretudo, na prática, com a edição de atos insanos em desfavor da segurança jurídica e da sociedade", disse Protógenes. Foi o próprio delegado que anunciou em seu blog que receberia medalha da Associação Nacional de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), seção Pernambuco, "por seu trabalho eficiente no combate à corrupção no Brasil".

Rodeado pela imprensa, Protógenes deixou claro que foi mordido pela mosca azul da política. Usando o plural majestático, ele fez discurso de candidato - apesar de garantir que não pretende disputar nenhum cargo eletivo - afirmou que há uma crise institucional instaurada no País e defendeu que, nas eleições municipais deste domingo, os cidadãos escolham candidatos comprometidos com a "causa pública, com a honestidade, contra a corrupção". Em Brasília, não há eleições municipais.

"Dedico essa homenagem a todos aqueles que acreditam num país melhor, ainda que digam que é uma frase messiânica, mas eu acredito num Brasil melhor, senão eu não teria realizado os trabalhos que nós realizamos, quando eu estava à frente do setor operacional da Polícia Federal por quase dez anos", disse Protógenes. "Foram dez anos de trabalhos dedicados e ao respeito à sociedade, as nossas famílias, a vocês, jornalistas, que acordam cedo e sabem o que é o preço de uma escola de filho, de um plano de saúde para filho, o que é um preço de fazer conta no final do mês contando com o seu salário", afirmou o delegado, que foi à homenagem acompanhado da mulher Heloísa e do filho Juan.

Na pequena platéia que foi ao Corpo de Bombeiros assistir a condecoração do delegado e de outras cinco pessoas, o destaque foi a presença do sargento Idalberto Martins de Araújo, do Centro de Inteligência da Aeronáutica. Foi Idalberto que indicou Francisco Ambrósio, araponga aposentado da Abin, para trabalhar na operação Satiagraha. Ambrósio é apontado como um dos suspeitos de participar da gravação telefônica clandestina que flagrou conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

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