
O delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, deve retomar suas atividades na Polícia Federal nesta semana. Ele ficou afastado por quatro meses para realizar um curso superior da instituição, na Academia Nacional de Polícia. Protógenes, porém, não irá retornar ao comando da Satiagraha. Também já está definido que ele deixará de trabalhar em uma das divisões mais importantes da PF, a diretoria de inteligência. Sua nova função na Polícia Federal ainda não foi definida.
O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, disse ontem que Protógenes não vai reassumir o comando da Satiagraha "por um princípio de continuidade". "É importante dizer que a operação não é propriedade de ninguém. Uma operação da PF é um serviço público e o custo disso é suportado pelo cidadão, nós somos meros instrumentos. A regra é a impessoalidade", afirmou Corrêa.
O diretor-geral afirmou que caberá aos chefes diretos de Protógenes definir a nova função do delegado. Ontem, Protógenes também foi informado pelo diretor de inteligência da PF, Daniel Lorenz, que não retornará à divisão. O delegado da Satiagraha ficará à disposição da diretoria de gestão de pessoal. A PF informou que deve analisar qual setor mais precisa de pessoal para designar Protógenes para essa área.
Protógenes foi afastado da Satiagraha em meio a denúncias de que teria vazado informações da operação. A versão oficial divulgada pela PF foi a de que o delegado deixaria o caso para participar do curso.
A PF chegou a divulgar parte da gravação de uma reunião em que o delegado teria, supostamente, pedido o seu afastamento da operação. Posteriormente, porém, a íntegra da fita mostrou que Protógenes foi afastado pelos superiores da investigação por suspeitas de má condução da Satiagraha.
O delegado chegou a protocolar representação no Ministério Público Federal para denunciar que foi forçado a deixar o caso. Além de supostamente vazar informações da operação, o delegado é acusado de utilizar indevidamente agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas investigações.
As acusações provocaram uma crise entre Protógenes e a cúpula da PF. O delegado denunciou a existência de uma suposta articulação comandada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, para afastar o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara de Justiça Criminal de São Paulo, das investigações da Satiagraha. De Sanctis foi responsável por expedir os mandados de prisão do banqueiro, que acabou liberado por dois habeas corpus concedidos pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
No período em que esteve no comando da operação, Protógenes indiciou o banqueiro e mais nove pessoas investigadas por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Após o afastamento de Protógenes, o delegado Ricardo Saadi assumiu o comando das investigações.
Adiamento
O juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, deve deixar para semana que vem uma decisão que dará andamento ao processo em que Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, é acusado de uma suposta tentativa de suborno a um delegado federal.
De Sanctis viajou a Mônaco para participar do encontro regional do Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro (Gafi, em inglês). O juiz deve retornar apenas sábado. Quando voltar, De Sanctis terá que decidir se aceita ou não o pedido feito pela defesa de Dantas de ouvir novamente o delegado Protógenes e o diretor-afastado da Abin, Paulo Lacerda.
Os advogados do banqueiro também pediram acesso ao inquérito contra Protógenes que está na 7ª Vara e uma cópia da gravação da reunião da PF que decidiu pelo afastamento dele do comando da Satiagraha. Caso aceite os pedidos, De Sactis terá que marcar uma nova data para que as testemunhas sejam ouvidas e para incluir as informações pedidas pela defesa do banqueiro ao processo.



