Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Eleições 2010

PT e PSDB debatem ideologia. Mas só na política exterior

Tucanos usam decisões polêmicas de petistas como arma de campanha. Bolívia, Irã e Colômbia já foram assunto de Serra e seu vice

Veja o que os dois lados já disseram sobre política externa |
Veja o que os dois lados já disseram sobre política externa (Foto: )

Parelhas no tom das propostas sociais e econômicas, as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) encontraram na política externa o campo ideal para o confronto ideológico. A opção ficou clara na recente acusação do candidato a vice-presidente Índio da Costa (DEM) sobre a suposta ligação dos petistas com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o narcotráfico. Antes, Serra já havia feito uma série de críticas à estratégia de relações internacionais do governo Lula.As declarações de Índio da Costa foram divulgadas no fim de semana pelo portal Mobiliza PSDB. "Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior", disse o deputado federal. Na segunda-feira, Serra endossou a tese, retirando apenas o envolvimento dos rivais com o tráfico de drogas.

O posicionamento gerou reação imediata. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Índio da Costa teve "comportamento de idiota". O presidente do PT, José Eduardo Dutra, qualificou a oposição como "tresloucada" e fez um pedido judicial de direito de resposta.

Em maio, Serra fez acusações graves contra a Bolívia, cujo presidente Evo Morales é aliado do governo Lula. "O governo boliviano é conivente com a exportação de drogas para o Brasil", disse. Segundo ele, 90% da cocaína consumida no país é produzida pela Bolívia.

No mesmo mês, o tucano classificou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, como um "ditador". "Ele faz parte do mesmo grupo de ditadores da década de 30, como Hitler e Stalin." Serra também afirmou que não acreditava que os iranianos cumpririam o acordo intermediado por Lula para enriquecer urânio na Turquia e manter seu programa nuclear sem sanções internacionais.

Em abril, Serra também atacou o Mercosul, chamando o bloco econômico de "farsa". Segundo ele, a parceria com os vizinhos tem atrapalhado o país na formalização de novos acordos internacionais mais vantajosos. Ao longo dos oito anos de governo, Lula fortaleceu os laços com as nações latino-americanas e sempre fez questão de criticar o legado deixado pelo PSDB de suposta subserviência aos países ricos.

O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Alcides Costa Vaz, explica que há uma diferença evidente de doutrinas entre as gestões tucana e petista. "A política externa do período Fernando Henrique (1995-2002) deu continuidade à inserção do Brasil em um cenário internacional capitalista de viés liberal. A do Lula foi especialmente crítica a essa estratégia e colocou o Brasil em uma posição contrária às assimetrias entre pobres e ricos, dentro de um eixo Sul-Sul."

Vaz diz que as declarações de Índio da Costa servem para "marcar posição", mas destaca o destempero dos ataques. "Foi uma atitude inconsequente."

Do outro lado, as diretrizes para o programa de governo de Dilma aprovadas pelo congresso do PT, em fevereiro, destacam a "pequenez" dos tucanos. "Devía­­­mos (no governo Fernando Henrique) nos conformar a um papel secundário na cena global, a não pretender sermos maiores do que somos", diz o documento.

Para o professor Alberto Pfeiffer, integrante do Grupo de Análise da Conjuntura Internacio­­­nal da Universidade de São Paulo, o embate envolve saber exatamente como o Brasil quer se posicionar para o mundo – mas não como os partidos pensam o país internamente. "Nenhum dos dois lados questiona a necessidade de manter a estabilidade econômica, a distribuição de renda, o Bolsa Família. Na política externa tudo é diferente, é preto no branco. Isso é bom para a diferenciação."

Pfeiffer acredita que há outros temas polêmicos que deverão ser abordados pelos dois lados. "Como fica a questão dos direitos humanos em Cuba? Como melhorar o relacionamento com os Estados Unidos? E a parceria comercial com a China?", questiona.

A partir de agosto, essas questões devem estar na linha de frente do programa eleitoral. Para Vaz, será a primeira vez nas eleições recentes do país em que a política externa será tema prioritário. "Ainda assim, é um assunto que vai pesar pouco na decisão de voto."

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.