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Lula e seu “pupilo” Haddad: para eleger o ex-ministro em São Paulo, PT negocia cargos em Brasília | Antônio Cruz/ABr
Lula e seu “pupilo” Haddad: para eleger o ex-ministro em São Paulo, PT negocia cargos em Brasília| Foto: Antônio Cruz/ABr

Polarização não é regra em outras capitais

Ao contrário de São Paulo, as outras cinco capitais mais populosas do país não devem seguir a tendência de polarização direta entre candidatos de PT e PSDB nas eleições de 2012. Em Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro o confronto entre os dois partidos está praticamente descartado. Em Fortaleza e Salvador vai haver disputa entre nomes das duas legendas, mas eles não aparecem como favoritos.

Na capital mineira, petistas e tucanos são aliados desde 2008, quando apoiaram a candidatura de Márcio Lacerda (PSB), que é candidato à reeleição. Há possibilidade de o vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) se candidatar. O PSDB vai manter o apoio a Lacerda.

No Rio de Janeiro, a tendência é que os petistas apoiem o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB). O principal nome tucano é o deputado federal Otávio Leite, mas o partido ainda estaria aberto a coligações – em 2008, os tucanos se aliaram a Fernando Gabeira (PV).

Em Manaus, os candidatos mais competitivos são o atual prefeito, Amazonino Mendes (PDT), o ex-prefeito Serafim Correa (PSB) e o ex-governador Eduardo Braga (PMDB). Em Fortaleza, cinco petistas lutam pela indicação do partido (Artur Bruno, Camilo Santana, Acrísio Sena, Waldemir Cata­nho e Elmano Freitas). Já o PSDB tem dois pré-candidatos (Pedro Fiúza e Marcos Cals). O favorito na capital cearense, contudo, é o senador Inácio Arruda (PCdoB).

Em Salvador, o candidato petista será o deputado federal Nelson Pelegrino, que terá o apoio do governador Jaques Wagner. Já o PSDB contará com o ex-prefeito e ex-governador Antonio Imbassahy. A tendência, no entanto, é de uma polarização entre Pelegrino e o deputado federal ACM Neto, do DEM.

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  • FHC e Serra: candidatura do ex-governador foi decidida para que tucanos não percam São Paulo
  • Fruet: abandonado pelos petistas?
  • Ducci e Richa: prefeito e governador decidiram não fazer empréstimos para o metrô.

Em 1978, um metalúrgico bigodudo e um sociólogo desgrenhado panfletavam juntos na saída da fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP). Era Lula, então um sindicalista sem partido, colocando a mão na massa para ajudar a eleger Fernando Henrique Cardoso para o Senado pelo PMDB. Faltavam dois anos para a fundação do PT e mais dez para a do PSDB. Passaram-se décadas, as lideranças dos dois partidos se afastaram e agora polarizam o cenário nacional. Mas o palco central da disputa nunca deixou de ser paulista.

Em 2012, a campanha pela prefeitura de São Paulo dita o ritmo das articulações partidárias em Brasília e produz reflexos em todo país. O embate é encarado como decisivo para o futuro do xadrez inventado por petistas e tucanos. De um lado, Lula trabalha pessoalmente para eleger o pupilo Fernando Haddad (PT). Do outro, José Serra (PSDB), tradicional aliado de FHC, ressurge após duas derrotas presidenciais.

Visando ao arranjo paulistano, o PT manteve Marta Suplicy na vice-presidência do Senado e escalou Jilmar Tatto para a liderança da legenda na Câmara dos Deputados – ambos eram concorrentes internos de Haddad na disputa pela prefeitura e os cargos acabaram virando um prêmio de consolação por terem desistido em favor de Haddad. Além disso, os petistas negociam cargos no primeiro escalão federal com PR e PDT em troca do apoio em São Paulo.

Na semana que passou, o PRB, partido ligado à Igreja Universal, ganhou o Ministério da Pesca em uma estratégia para tentar blindar Haddad dos ataques de evangélicos. Quando ministro da Educação (2005 a 2012), ele ficou marcado pela defesa do "kit gay", material de prevenção à homofobia que seria distribuído em escolas públicas e que recebeu fortes críticas de setores religiosos.

Raízes semelhantes

Já os tucanos tiveram de forçar Serra a disputar a eleição para não perderem espaço para os petistas. "O PSDB está encurralado no Centro-Sul do país e sentiu que poderia ficar prestes a tomar um xeque-mate. Como não sobrou margem de manobra, teve de recorrer a uma de suas principais lideranças", diz Valeriano Mendes Ferreira Costa, professor da pós-graduação em Ciência Política da Universidade de Campinas.

Cientista política da Uni­versidade Federal de São Carlos, no interior paulista, Maria do Socorro Braga destaca ainda que todos os candidatos a presidente do PSDB desde 1989 foram de São Paulo. "Os tucanos possuem uma identidade muito sólida no estado, em especial no interior. É fruto do crescimento alavancado a partir das gestões Fernando Henrique (1995-2002) e Mário Covas (governador entre 1995 e 2000)", opina a professora.

Do outro lado, ao mesmo tempo em que tiveram mais habilidade para construir um projeto nacional, os petistas não deixaram de cultuar as raízes paulistas e a rixa local com os tucanos. "Estamos falando de dois partidos nascidos em São Paulo em campos políticos similares e que sempre brigavam pela mesma faixa do eleitorado", diz o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Cláudio Gonçal­ves Couto. Segundo ele, o ponto crucial para o desalinhamento entre as duas legendas ocorreu quando a então petista Luiza Erundina chegou à prefeitura de São Paulo, em 1988, e sofreu uma oposição cerrada dos tucanos.

Ao longo do tempo, o PSDB acabou assimilando um discurso mais conservador para ganhar os votos do eleitorado de direita, identificado com o ex-prefeito e atual deputado federal Paulo Maluf (PP). Segundo Couto, foi esse caminho que deu tanta força ao partido em São Paulo. E que, por outro lado, acabou acirrando o embate com os petistas – o que inviabiliza, três décadas depois daquela panfletagem em São Bernardo, que FHC e Lula trabalhem juntos em qualquer campanha.

Em Curitiba, disputa entre as duas siglas está "camuflada"

A eleição em Curitiba ficará sem um confronto direto entre petistas e tucanos, mas possivelmente será alinhada à disputa nacional entre os dois partidos. O PSDB do governador Beto Richa vai apoiar a reeleição do prefeito Luciano Ducci (PSB). Do outro lado, o PT tende a sustentar candidatura de Gustavo Fruet (PDT) – embora haja a possi­­bilidade de os petistas optarem pela candidatura própria, com o deputado federal Dr. Rosinha ou o deputado estadual Tadeu Veneri.

Os presidentes estaduais das duas legendas concordam sobre a influência nacional sobre a formação das alianças. "Temos dois projetos distintos e já conhecidos disputando a opinião pública", diz o petista Ênio Verri. Já o tucano Valdir Rossoni afirma que a candidatura de José Serra em São Paulo já trouxe reflexos ao Paraná: "Sinto que essa decisão deu um novo ânimo para o partido aqui no estado, abriu os nossos horizontes para a importância da disputa com o PT".

Na prática, as opções dos dois partidos estão ligadas às eleições de 2014. Ex-tucano, Fruet foi abraçado por uma ala do PT por ser visto como uma alternativa para evitar que Richa mantenha a hegemonia na capital. Já o governador, que teve Ducci como vice quando era prefeito (2005-2010), joga para fechar as portas para os petistas.

"De uma certa forma, é parecido com o que está acontecendo em São Paulo", diz Rossoni. Verri também não esconde o encaixe entre as duas disputas. "Nosso projeto para 2014 está inserido no de 2012", declara o petista.

Peso relativo

Para o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, a interferência do discurso nacional tem um peso relativo nas eleições municipais. "A decisão de voto para prefeito é um somatório de vários fatores, mas essa não é uma das prioridades", afirma o especialista. Ele lembra o caso do apoio do presidente Lula a Marta Suplicy na disputa pela prefeitura de São Paulo, em 2008. "Apesar da popularidade do presidente, ela perdeu."

Já o cientista político Fabrício Tomio, da Universidade Federal do Paraná, diz que o apoio nacional pode ter mais influência em Curitiba caso haja uma disputa acirrada entre Ducci e Fruet. "Na hipótese de o eleitor ver pouca diferença entre os dois candidatos, o apoio nacional pode dar mais robustez."

Segundo Tomio, Fruet não deve ter problemas, pelo menos entre o eleitorado tradicional do PT, ao aparecer na campanha recebendo apoio de lideranças nacionais como Lula e Dilma Rousseff, apesar de ter feito oposição à gestão petista como deputado federal. "Normalmente as pessoas pensam assim: se o próprio Lula relevou o que aconteceu no passado, não há porque culpar o candidato."

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