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Deputados durante sessão na Câmara Federal: modelo de financiamento e eleição divide as principais legendas. | Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Deputados durante sessão na Câmara Federal: modelo de financiamento e eleição divide as principais legendas.| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Do caso PC Farias, passando pelo mensalão até o petrolão, o financiamento de campanhas permeia os principais escândalos políticos brasileiros desde a volta das eleições diretas para presidente, em 1989. À banalização do caixa 2, somam-se agora denúncias de que empresas envolvidas em desvios da Petrobras teriam pago propina aos partidos por meio de doações legais. Em meio aos desdobramentos da operação Lava Jato, o tema é o eixo central e, ao mesmo tempo, a maior fonte de impasses da reforma política.

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O travamento da discussão se deve, em parte, ao fato de que ela está ligada às mudanças no sistema eleitoral para deputado federal, estadual e vereador. Uma das formas de se adotar o financiamento público exclusivo, por exemplo, é a implementação de listas fechadas para as eleições parlamentares (modelo no qual o eleitor vota no partido e não no candidato). Historicamente, no entanto, os deputados bloqueiam qualquer tentativa de mudar as regras que os elegeram.

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O que pensa cada partido sobre o tema:

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Há ainda os interesses diversos dos partidos. Maiores bancadas no Congresso, PMDB, PT e PSDB divergem sobre a melhor saída. Há duas décadas os petistas defendem as listas fechadas com financiamento exclusivo, proposta que bateu na trave na última vez em que a reforma política chegou ao plenário da Câmara, em 2007.

Brasil destina quatro vezes mais dinheiro público a siglas do que a França

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O salto de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões nos recursos do Fundo Partidário previstos no orçamento da União de 2015 vão fazer com que o Brasil destine 3,9 vezes mais recursos públicos às legendas políticas que a França. Os cálculos são do professor de ciência política e brasilianista da Sorbonne (Universidade de Paris 1) Stéphane Monclaire. “Não me parece que, especialmente neste momento, essa seja a melhor maneira de resolver os problemas financeiros, nem de melhorar a imagem dos partidos”, disse à Gazeta do Povo.

Em valores convertidos para euros, o contribuinte francês repassará 63,1 milhões para os partidos em 2015, enquanto o brasileiro, 250,7 milhões. “Fica ainda menos razoável se compararmos que a França tem mais mandatos parlamentares.” No Brasil, há um congressista para cada 320 mil habitantes, enquanto na França a relação é de um para R$ 70 mil.

Na França, as doações de empresas são proibidas e, além dos recursos públicos, cada cidadão pode doar aos partidos 4,5 mil euros ao ano. Esse valor é dedutível do imposto de renda. Monclaire considera que o teto francês é demasiado alto, mas pensa que o incentivo fiscal pode ser um bom modelo para o Brasil.

“É necessário encontrar um sistema de financiamento que garanta o funcionamento da democracia e que aproxime os cidadãos dos partidos e do sistema representativo”, defende. (AG e CM)

Já os tucanos defendem o voto distrital misto – no qual o eleitor vota duas vezes, em um candidato do seu distrito e numa lista partidária. O partido não tem posição fechada sobre mudanças no financiamento, mas é contra o modelo exclusivamente público.

Na semana passada, os peemedebistas oficializaram a proposta do “distritão”, sistema pelo qual são eleitos os candidatos a deputado e vereador mais votados, exatamente como nas eleições para prefeito, governador e presidente. A legenda defende a manutenção do financiamento misto (público e privado, com liberdade de doações de empresas e pessoas físicas), com a única exigência de que os repasses só possam ser feitos diretamente aos partidos.

“Eu estou vendo a proposta do Distritão [adoção de voto majoritário para as eleições parlamentares] crescer muito na Casa. Financiamento público não passa aqui”, disse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo na semana passada. Simulação feita pelo cientista político Márcio Carlomagno mostra que a defesa da tese tem lógica – se o “distritão” tivesse sido utilizado em 2014, o PMDB seria o maior beneficiado e elegeria mais cinco deputados federais.

“O financiamento público não passa simplesmente porque não tem apelo popular. Como é que você vai falar para a sociedade, em um momento de crise, que vai colocar mais dinheiro público nas mãos dos políticos?”, questiona o deputado paranaense Sandro Alex (PPS), que integra a comissão especial da reforma política na Câmara. Na semana passada, no entanto, o Congresso aprovou o orçamento de 2015 com um aumento de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões no Fundo Partidário.

Especialistas sugerem alternativas

Cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bruno Wanderley Reis considera que, no momento, o financiamento público exclusivo é uma solução “desesperada”. “A legislação brasileira tem algumas características que claramente favorecem a nossa gritante concentração de financiamento. Deveríamos começar por revogá-las.”

Reis defende em primeiro lugar a adoção de tetos nominais para doações privadas (atualmente, o teto legal é de 2% do faturamento anual bruto para pessoas jurídicas e de 10% da renda anual bruta para pessoas físicas). Depois, a restrição ao uso de recursos próprios dos candidatos (hoje não há limites e candidatos milionários costumam desequilibrar o jogo com “autodoações”). Por último, determinar que as doações precisam ser feitas apenas por um meio seguro e de fácil fiscalização – como as doações com cartões bancários pela internet.

O cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adriano Codato, concorda com a criação de tetos nominais, mas adiciona novos dispositivos.

“Um modelo ao meu ver mais sensato seria: financiamento empresarial com um teto bem baixo, financiamento individual com teto e financiamento público na exata medida do valor que se conseguisse na sociedade, com a doação de empresas e indivíduos”, afirma.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em parceria com entidades que apoiaram a criação da Lei da Ficha Limpa, defende o “financiamento democrático de campanha”. O modelo manteria o fundo partidário, excluiria as doações de empresas e estabeleceria um teto de doação de pessoas físicas de R$ 700.

A proposta se alinha à interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF), que no ano passado começou a votar a constitucionalidade das doações de pessoas jurídicas. O julgamento sobre o caso começou em 2014 e foi interrompido com seis votos contra as doações empresariais, o que forma a maioria dos 11 ministros do colegiado. (AG e CM)

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