
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido do Movimento Democrático do Brasil (PMDB) e o Partido Progressista (PP) têm na essência uma característica em comum: o governismo. Numa adaptação própria a um famoso jargão, os três partidos rezam pela cartilha do: "se há governo, sou a favor". Entre 1989 e 2013, as três legendas mantiveram taxa de fidelidade ao Executivo na casa dos 80% nas votações na Câmara Federal. O levantamento é do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
INFOGRÁFICO: Veja a média de fidelidade dos partidos
Especialmente em relação aos peemedebistas, o índice mostra que, no longo prazo, é primordial ao Palácio do Planalto apostar numa aliança com a legenda, que tem consciência do seu tamanho e importância. Atualmente, porém, o PMDB tem sido o principal partido a dar dor de cabeça a presidente Dilma Rousseff na reforma ministerial, ameaçando, inclusive, deixar o comando de duas pastas, na tentativa de pressioná-la.
Ranking
Desde o fim da redemocratização, é de 64,5% a média de votação favorável ao Palácio do Planalto entre todos os partidos extintos e atuais. No topo do ranking e levando-se em conta legendas com bancadas relevantes , estão PTB, PMDB e PP. Em comum, os três se caracterizam por terem ficado por raros momentos do lado oposicionista desde 1989.
O paranaense Ricardo Barros (PP), por exemplo, chegou a ser líder na Câmara dos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. Já o PMDB fez oposição apenas ao governo de Fernando Collor (1990-1992) além de um curto período durante parte do primeiro ano de mandato de Lula, em 2003. Outros partidos que estão no topo do ranking de fidelidade ao Executivo são o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Social Cristão (PSC) e o Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB).
Análise
Doutor em Ciência Política e professor da PUC de Minas Gerais, Malco Camargos afirma que é muito difícil ser oposição diante da centralidade que tem o Executivo na distribuição de recursos. "Os partidos medem o custo que há em ser oposição e chegam a um cálculo racional de que é conveniente estar sempre ao lado da situação, independentemente de quem esteja no governo e de quais sejam as bandeiras defendidas", explica.
Ele diz ainda que, no processo de barganha por espaço político, essas legendas acabam se tornando coadjuvantes, mas sabem que são fundamentais para garantir maioria nas votações. "O problema do Collor, por exemplo, foi justamente ter perdido o apoio do PMDB e, assim, perdido também a maioria no Congresso", avalia.
Outra explicação desse governismo incondicional de determinados partidos, na visão do cientista político Antônio Octávio Cintra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, é a falta de quadros próprios com projeção nacional para disputar a Presidência da República. Segundo Cintra, eles traçam uma "estratégia racional e pragmática" em que abrem mão de enfrentar as legendas protagonistas nas urnas, mas tiram proveito disso por serem essenciais para garantir a chamada governabilidade.
"Eles apoiam o governo e, assim, conquistam espaços que garantem a eles boa representação parlamentar. Dessa forma, conseguem se realimentar, satisfazer seus caciques e continuam tendo poder."



