
Brasília e Paris - A Força Aérea Brasileira (FAB) classificou o avião supersônico Rafale, fabricado pela francesa Dassault, em terceiro e último lugar em seu parecer técnico sobre a licitação FX-2, de renovação da frota de caças do Brasil. O caça sueco Gripen NG, da empresa Saab, ficou em primeiro lugar na avaliação, seguido pelo F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing. A informação foi divulgada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo.
A avaliação contraria o interesse político já expresso pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de comprar os caças franceses Rafale. O relatório da FAB, no entanto, não é determinante na escolha da empresa e poderá ser ignorado pelo presidente. Lula tem repetido que a decisão sobre a compra dos 36 aviões é "política e estratégica" para consolidar a parceria entre o Brasil e a França.
O vazamento do relatório do Comando da Aeronáutica com a avaliação ainda parcial das propostas para o projeto FX-2 irritou Lula e provocou mal-estar no governo.
Auxiliares do presidente disseram que o documento já foi modificado e não faz um ranking das melhores propostas, mas apenas avalia tecnicamente itens como transferência de tecnologia e aspectos comerciais e logísticos. Nota do Comando da Aeronáutica informou ontem que o relatório ainda não foi encaminhado ao Ministério da Defesa.
O fator financeiro contou pontos para o modelo da Saab, que foi avaliado como o mais vantajoso dos três jatos concorrentes considerando o preço da aeronave e os custos de manutenção. A estimativa é que a Saab tenha ofertado ao Brasil o Gripen NG por cerca de US$ 70 milhões cada, metade do preço que teria sido pedido pela Dessault por cada Rafale.
Na tentativa de reverter esse quadro e conquistar o contrato de fornecimento de 36 aviões para o Brasil, a companhia francesa estaria disposta a reduzir o preço dos seus jatos em 40%. A Dassault estaria, assim, alinhando o valor de seus aviões ao cobrado da Força Aérea Francesa, ou seja, 50 milhões de euros por unidade. A informação deve ser publicada hoje no jornal francês Libération.
O resultado do relatório gerou críticas da oposição à atitude do presidente Lula, que prefere o acordo com os franceses. Já a base aliada ao governo diz defender uma postura mais política em detrimento de uma escolha baseada em quesitos técnicos e financeiros.
O relatório, dizem congressistas da oposição, comprova que Lula fez uma "trapalhada ao anunciar o acordo com a França em setembro passado (veja quadro ao lado). "Além disso, é preciso respeitar a análise técnica e econômica, que são fundamentais. A questão política tem de ter menos peso, diz o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado.
Já na opinião de deputados do governo, o principal, neste momento, é respeitar a postura política do país. "Ver simplesmente qual é o caça mais barato é mesquinharia. Além disso, a questão não é puramente técnica, qualquer escolha será eminentemente política, diz o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).





