
Um partido sem quadros históricos ou políticos experientes, que nasceu no seio da esquerda, mas que não quer ficar preso ao dogmatismo das bandeiras vermelhas. E que pretende instituir uma "nova forma de fazer política", sem fisiologismos ou trocas de favores. Com essa plataforma, não serão poucos os obstáculos no caminho da Rede Sustentabilidade, da ex-ministra Marina Silva. O primeiro deles ainda não foi vencido: reunir 492 mil assinaturas em todo o país para formalizar a criação do partido até 4 de outubro pela lei eleitoral, os partidos devem estar registrados até um ano antes das eleições.
O caminho da Rede em busca do registro não tem sido dos mais fáceis. Marina chegou a fazer uma reclamação ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a lentidão de alguns cartórios para validar as assinaturas dos apoiadores. Segundo o site da Rede, já foram coletadas quase 900 mil assinaturas, mas até a sextafeira apenas 345 mil haviam sido validadas. No Paraná, segundo coordenador estadual da Rede, Evandro Martini, foram coletadas cerca de 34 mil assinaturas, mas só 17 mil foram reconhecidas.
Desilusão e resgate
Dificuldades à parte, o que leva quase 900 mil pessoas a assinarem uma ficha em apoio à criação de um partido, em um momento de desilusão tão profunda com a política? Para os apoiadores da Rede, um dos atrativos é a figura de Marina a ex-ministra do Meio Ambiente teve 19,6 milhões de votos na eleição presidencial de 2010, quando concorreu pelo PV.
Mas não fica nisso: a avaliação é que as pessoas se cansaram da forma como se faz política no Brasil. Em sintonia com essa desilusão, a Rede já prevê a realização de um grande congresso daqui a dez anos que, segundo os militantes, poderá levar à extinção da sigla, caso ela se desvirtue da proposta original.
"A maioria das pessoas da Rede vem da iniciativa privada e dos movimentos sociais. São pessoas que se interessam, que não são políticos, mas são politizadas", diz o empresário Alfredo Parodi, coordenador da Rede Sustentabilidade em Curitiba. "Nenhum partido está acima dos demais, mas a nossa ideia é criar uma política sem conchavos, sem a adesão de políticos tradicionais."
O descontentamento com a política, que poderia ser um entrave, tem gerado efeito contrário e ajudado a aumentar o número de apoios. A possibilidade da criação de um novo partido ajudou a "resgatar" militantes que haviam desistido da vida partidária. "Participei da criação do PSB, mas me desfiliei logo depois, na primeira campanha presidencial do Lula [em 1989]. O PT começou a desandar e fui cuidar da minha vida", conta o empresário Claudino Dias, de Curitiba. "É preciso romper com os políticos tradicionais e criar uma possibilidade de mudança, fazer as reformas que o PT não fez."
Um novo caminho também era o que procurava Evandro Martini, coordenador da Rede no Paraná. "Sempre fui partidário das causas trabalhistas, mas a decepção foi grande. O PT não quis cortar na própria carne." Martini procura fugir das definições de esquerda e direita. "O principal é que o país tenha um projeto. Mas, se tivermos que tomar medidas de esquerda, vamos tomar."
Perguntas e respostas
Veja alguns pontos que marcam a Rede:
Esquerda ou direita?
Os membros da Rede procuram escapar das definições ideológicas, mas a maioria dos militantes está mais à esquerda. O nome de mais expressão do futuro partido, a ex-senadora Marina Silva, foi filiada ao PT e ministra do governo Lula. Além disso, há muitos ex-filiados do PT, PV e PSol. "Temos uma presença forte de ambientalistas e de gente dos movimentos sociais, além de desiludidos com o PT e ex-integrantes do PSol", diz o coordenador da Rede no Paraná, Evandro Martini. "Conservadores não temos. Se fôssemos definir, diria que seria mais centro-esquerda", diz Alfredo Parodi, coordenador em Curitiba.
Perfil
O perfil dos membros é heterogêneo: de estudantes a advogados, de empresários a ex-militantes de outros partidos. Mas uma característica é comum: a maior parte dos apoiadores não tem um histórico de atuação política. Segundo Parodi, 70% dos apoiadores nunca tiveram atuação partidária.
Fogo cruzado
Os apoiadores da Rede têm consciência de que o principal nome do futuro partido, a ex-ministra Marina Silva, enfrentará um fogo cruzado nas eleições de 2014. De um lado estará o PT, seu antigo partido, e do outro o PSDB, que tem aglutinado os setores mais conservadores nas últimas eleições. Recentemente, Marina se envolveu em uma polêmica ao defender o polêmico deputado federal Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP).




