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A retomada das obras do Metrô, no último sábado, em Pinheiros, está levando insegurança aos proprietários de imóveis da Rua dos Pinheiros, por onde o shield, o verdadeiro nome do megatatuzão, vai passar. Desde a semana passada, os funcionários do Consórcio Via Amarela, responsável pela obra da linha 4 do Metrô, visitam cada imóvel para explicar o trabalho de escavação. Mesmo assim, a população se diz preocupada. A lembrança do acidente que causou a morte de sete pessoas na futura estação Pinheiros ainda está muito viva na memória de todos.

- Uma assistente social passou por aqui no sábado. Ela disse que o megatatuzão vai escavar a uma profundidade de 30 metros. Explicou que a máquina levará 1 mês para passar por esse trecho de rua e que não há risco no trabalho. Mas eu fico preocupada, afinal essa é uma obra que começou errada - disse Mira Dourado, gerente da CAL, uma loja de material de construção que fica na Rua dos Pinheiros, a 100 metros da futura estação Faria Lima.

A máquina fará a escavação dos 7,5 quilômetros do túnel de vias da Linha (Vila Sônia - Luz) entre o Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, e a estação Luz, em construção no centro da capital. Com roda de corte de 9,5 metros de diâmetro, o megatatuzão deverá escavar e finalizar cerca de 14 metros de túnel por dia, a uma profundidade média de 30 metros da superfície, sob o eixo da Rua dos Pinheiros, Avenida Rebouças, Rua da Consolação e avenidas Ipiranga e Cásper Líbero.

Segundo o Metrô, os trabalhos deverão durar 15 meses. Além de escavar o túnel, que abrigará as duas vias da Linha 4, o shield fará o revestimento definitivo do local com anéis de concreto e aço. Depois, de acordo com o Metrô, será preciso apenas montar os trilhos e instalar os sistemas de sinalização e de comunicação. Deverão ser utilizados cerca de 4.500 anéis de concreto, com peso de 30 toneladas cada.

- Passaram por aqui na semana passada, mas a gente sempre fica preocupado. Antes do acidente que deixou 7 pessoas mortas, a gente não tinha noção do perigo. Agora, sabendo de todas as complicações a gente fica intranqüilo. Meu medo é o afundamento do solo, como aconteceu perto da marginal. A funcionária do Consórcio até nos ofereceu uma visita ao túnel, mas se estou inseguro aqui em cima, imagina lá embaixo - disse Roberto Lo, proprietário de uma pastelaria na bem em frente ao canteiro de obras do Metrô, na Faria Lima.

- Estão fazendo tudo para nos tranqüilizar, dizer que está tudo bem com a obra. Mas todo mundo está muito cabreiro e ainda assustado. Lá embaixo (na estação Pinheiros) a região é um pouco vazia, sem muitos prédios e pedestres. Aqui, na Rua dos Pinheiros, passa muita gente todo dia. Se acontecer alguma coisa, será uma tragédia ainda maior - afirmou Érica Aparecida de Jesus, gerente do estacionamento Daijó, que fica na rua por onde passará o megatatuzão, que será monitorado pelos fabricantes diretamente da Alemanha.

Seis estações estarão no trecho que será perfurado pelo equipamento: Fradique Coutinho, Oscar Freire, Paulista, Mackenzie/Higienópolis, República e Luz. As plataformas de cada estação terão 130 metros de extensão e já foram escavadas pelo método NATM (New Austrian Tunneling Method), que usa explosivos. Segundo o Metrô, no trecho das estações, o megatatuzão será arrastado sobre os trilhos até sair na outra extremidade para continuar a escavação.

- A maior parte dos comerciantes está apavorada. Eu mesmo já não confio em mais nada depois do acidente. A empresa coloca o megatatuzão como se não tivesse acontecido nada. Nenhum laudo sobre o acidente ficou pronto e mesmo assim a obra continua. A loja já tem muitas rachaduras e os clientes desapareceram daqui depois do acidente - disse Maurício Ramacciotti, vendedor da Alta, uma loja de informática na Rua dos Pinheiros, bem ao lado da futura estação Fradique Coutinho.

No mês passado, o Consórcio Via Amarela e o Metrô fecharam com o Ministério Público um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a contratar uma empresa de auditoria para preparar um laudo sobre as condições de segurança. Enquanto isso, as obras ficariam paralisadas nas 26 frentes de trabalho. O documento, no entanto, liberava em uma cláusula específica a utilização do megatatuzão, inclusive para a abertura de poços de escavação na Avenida Rio Branco e na João Teodoro.

O promotor Carlos Alberto Amin Filho disse que não há perigo de o acordo ser interrompido, já que o shield fará a escavação de túneis e não a preparação de estações, que estavam apresentando problemas. Mesmo assim, de acordo com ele, se houver perfuração nos locais paralisados, o Metrô e o Consórcio estarão sujeitos às multas previstas no TAC.

Amin acredita, no entanto, que quando as escavações chegarem nas estações, provavelmente a obra toda já estará liberada.

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