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Em seus bons tempos de poder, o senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) dizia que reuniões sem a sua presença não tinham valor. Hoje, cabe ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o papel de tabelião chefe do Senado: seu "carimbo" é o que empresta validade aos acordos na Casa. Ao tentar escapar da chancela do peemedebista, o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), deu-se mal. A negociação conduzida pelo petista com os tucanos para acertar a divisão de poder na CPI da Petrobrás não passou das primeiras conversas de bastidor ao esbarrar no veto de Renan.

Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ensaiou uma manobra para assumir a relatoria da CPI e acabou descartado por Renan, que não o perdoou pelo ato de independência.

Agora é o ex-presidente da República e presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) quem precisa do líder peemedebista - como nunca -, para sobreviver à crise dos atos secretos e do nepotismo cruzado que atingiu a família e os aliados.

Renan é hoje o mais poderoso articulador e operador do Senado. Um político que fala cada vez menos em público e faz cada vez mais no bastidor. "Não há nenhum outro articulador como ele. Nem Sarney, nem o presidente da Câmara, Michel Temer, nem meu pai", atesta o senador Lobão Filho (PMDB-MA), incluindo na lista o ministro de Minas e Energia, o Edison Lobão pai.

Na síntese de um "olheiro" do Palácio do Planalto, ele é também "o dono de um lote precioso de votos da base aliada", imprescindível a qualquer vitória do Planalto no Congresso. Para esse "olheiro", Renan só não é dono do PMDB porque "não tem a chave do cofre dos votos da convenção nacional", que decidirá as alianças na corrida sucessória de 2010 - propriedade controlada, não é de hoje, pelos deputados que comandam a bancada da Câmara.

Recordista na velocidade de recuperação do prestígio político, voltando à cúpula do Congresso um ano depois de enfrentar dois processos de cassação que lhe custaram a presidência do Senado, Renan passou a ser reconhecido como "o homem mais forte da Casa" É o que dizem até velhos adversários de lutas partidárias, como o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

A ironia é que, no tamanho do líder peemedebista, que no momento supera até a figura de Sarney, mora sua fragilidade. A débâcle de Sarney enfraquece Renan e ameaça seu projeto de poder, que foi ancorado em um parceiro forte na presidência da Casa, em 2010.

Modéstia

"Me atribuem um poder maior do que eu realmente tenho Não tenho esse poder todo", diz Renan, que faz questão de repetir que "quem elegeu Sarney foi Sarney". A frase é a expressão de cordialidade com que trata adversários e aliados, sempre munido de paciência para ouvi-los.

A história explica o empenho em manter a majestade de Sarney, no momento em que parlamentares e funcionários o apontam não só como o responsável pela eleição do presidente como o peemedebista que mais manda no Senado.

Para Pedro Simon, o enredo lembra um filme semelhante protagonizado por Sarney, no início da Nova República.

Nos primeiros tempos em que assumiu a Presidência no lugar de Tancredo Neves, Sarney foi assombrado pela figura do então presidente do PMDB, deputado Ulysses Guimarães (SP). Quando todos começaram a comentar que Ulysses mandava mais no governo que o próprio presidente, Sarney dava risada. "Mas no fim, acabou escanteando o doutor Ulysses", lembra Simon.

Hoje, Sarney não acha graça das insinuações do poder de mando de Renan, e mais: já tratou de estabelecer um canal independente de conversa com o colega presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que, por sinal, o considera um interlocutor mais confiável do que Renan. Outra sequela da briga da sucessão do Senado, em que Temer responsabiliza o líder Renan pelas dificuldades que teve para fechar o apoio do PT à sua candidatura.

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