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Impostos

Requião admite revogar lei se os preços não caírem

Governador sugere que deputados aprovem essa proposta na reforma tributária. Órgão do próprio governo avaliaria se houve queda de custo para o consumidor

O governador Roberto Requião (PMDB) admitiu ontem a possibilidade de revogar a minirreforma tributária, que pretende implantar a partir do ano que vem, caso a redução de impostos não provoque a diminuição dos preços ao consumidor. Durante a sétima e última audiência pública para discutir o projeto de autoria do próprio governo, realizada ontem na Associação Comercial do Paraná (ACP), em Curitiba, Requião sugeriu aos deputados estaduais que aprovem uma emenda prevendo a extinção da lei se não houver benefícios ao consumidor.

A proposta, feita a empresários e deputados, foi em tom de ameaça. Era uma tentativa de rebater as críticas de que o governo não tem como garantir que a diminuição da alíquota do ICMS de 95 mil itens de consumo popular beneficiará diretamente o consumidor. "Se o mercado avaliado pelo Ipardes chegar à conclusão que os nossos empresários não estão repassando a redução do imposto para ninguém, que seja feita a revogação automática da mudança", disse Requião. O Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão citado pelo governador como responsável por avaliar se houve redução de preços, faz parte do governo do estado. O governador não cogitou a possibilidade de essa atribuição ficar a cargo de órgãos independentes.

Requião disse, porém, não acreditar que a lei venha a ser revogada porque a concorrência no setor supermercadista seria "brutal" e não existiria cartel ou lobby que resistisse a esse processo. Para ele, a concorrência vai baixar o preço. Ele citou um estudo do governo indicando que a queda pode chegar a 6,8%, mas os donos de supermercados apontam números mais otimistas – uma redução de até 9%.

O governador sinalizou, no entanto, que não está disposto a aceitar grandes mudanças no projeto original. Uma dessas mudanças foi apresentada ontem pela Associação Comercial do Paraná. A ACP propôs que o aumento do ICMS da gasolina, telefonia, energia elétrica, cigarro e bebidas alcoólicas não seja de dois pontos porcentuais, mas de apenas um. Esses produtos e serviços, pelo projeto, terão aumento de imposto para compensar a perda de arrecadação com a diminuição do tributo dos 95 mil itens de consumo popular.

Requião avisou que não existe a menor possibilidade de recuar no aumento do ICMS. "Isso é uma besteira. Estamos fazendo uma conta de compensação para viabilizar a constitucionalidade da medida. Só podemos baixar imposto compensando de outra forma", argumentou.

O argumento é que o estado está cumprindo o que estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Segundo Requião, se ele não fizesse isso, a lei "cairia" no dia seguinte à entrada em vigor se alguém a questionasse na Justiça. A LRF prevê que os governos não podem abrir mão de receitas tributárias.

Os pequenos empresários vem se posicionando contra o projeto porque temem perder competitividade com os grandes supermercadistas. Como estão enquadrados no Simples, não terão o mesmo porcentual de redução de impostos com a nova lei.

Mas a grita dos pequenos não deve ser levada em consideração. Para o governador, o temor não se justifica porque os pequenos empresários já não pagam impostos e irão perder uma "vantagem relativa", enquanto a medida beneficiaria 85% da população do Paraná.

Empresários estão divididos

A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e a Associação Comercial do Paraná (ACP) fizeram ontem duras críticas à proposta de reajuste do ICMS da gasolina, energia elétrica, telecomunicações, cigarro e bebidas alcoólicas. Mas o projeto do governo também agrada a outros segmentos empresariais. A Federação do Comércio e a Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná (Faciap) elogiaram o pacote tributário do governo.

Durante a audiência pública, 13 entidades se manifestaram. A presidente da ACP, Avani Slomp Rodrigues, disse que um reajuste de dois pontos porcentuais é muito oneroso para vários setores e defendeu que os deputados façam uma emenda fixando o aumento da alíquota em apenas um ponto porcentual. "Assim não vai impactar tanto e será suportável para os empresários que não terão vantagem com a lei e ainda arcarão com os custos do aumento."

O vice-presidente da Fiep, Evaldo Kosters, disse que a entidade é contra qualquer aumento de impostos. Para Kosters, o projeto do governo não aponta benefícios para ninguém. "A percepção do setor industrial é de que a única conta que, em tese, pode se beneficiar é a da arrecadação tributária", afirmou. Ele prevê que alguns setores da indústria serão diretamente prejudicados porque não aproveitam os créditos tributários para compensação junto ao estado ou porque terão o ICMS dos seus produtos reajustados.

Outro problema do projeto, segundo o vice-presidente da Fiep, é a falta de competitividade das indústrias paranaenses frente a de outros estados. "Quanto aos benefícios que podem ser gerados, não há garantias explícitas, já que eles dependerão da dinâmica do mercado", argumentou Kosters.

A Fiep defende que a Assembléia inclua no projeto uma "cláusla de salvaguarda" para que os setores produtivos que vierem a perder competitividade tenham seus negócios protegidos. Mas Kosters não especificou de que forma essa proteção poderia ser feita pelo estado.

Em defesa do projeto, o presidente da Fecomércio, Darcia Piana, declarou que não existe nenhum aspecto negativo para o comércio. Ele disse acreditar na redução dos preços. "Qualquer empresário gostaria de ficar com a parte da lucratividade para contratar mais gentes ou fazer estoque, mas a competição impede."

O presidente da Faciap, Ardisson Akel, sugeriu que a lei traga uma espécie de "gatilho" definindo que, se houver aumento de arrecadação em função do reajuste da alíquota de ICMS, o imposto deve ser reduzido.

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