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Depois de uma reunião-almoço de quatro horas, 16 deputados deixaram um hotel de São Paulo nesta segunda-feira sem definição de um candidato para disputar a eleição à presidência da Câmara. Com isso, foi adiada a formação de uma terceira via em oposição às candidaturas de Aldo Rebelo (PCdoB) e Arlindo Chinaglia.

No documento intitulado "Autonomia, Transparência e Combate à Corrupção", os parlamentares apresentaram pontos programáticos que consideram relevantes para a eleição da Mesa Diretora da Câmara, tais como: autonomia do parlamento, aprovação do voto aberto, racionalização de gastos, definição de critérios permanentes para remuneração dos parlamentares, "compatíveis com a realidade brasileira", atualização do Regimento Interno da Casa, prioridade à reforma política e eleição de um presidente "cuja imagem não tenha sido atingida pelos episódios degradantes da legislatura passada".

No encontro, o grupo, que volta a se reunir na semana que vem, não descartou apoiar nome do PMDB, já que o partido se reúne nesta terça-feira em Brasília para tratar do assunto. Também não abandonaram a idéia de apoiar um candidato do próprio PT ou de outro partido da base de apoio do governo. O apoio, no entanto, dependerá de o candidato assumir os compromissos que constam de uma carta elaborada na reunião de hoje.

Os parlamentares que participaram da discussão evitaram lançar seus próprios nomes como candidatos ou sugerir alguém para a disputa. Em sintonia, todos discursaram a favor de se lançar um nome capaz de retomar a credibilidade da Casa.

Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos líderes do grupo, descartou a sua candidatura por não se considerar popular entre alguns setores da Casa e disse que o novo nome pode até sair da base governista.

- Existe, da parte de alguns companheiros, uma posição em buscar um candidato da base do governo, do PMDB e do PT, mas ele precisa estar com sintonia. Precisamos restabelecer autonomia da Câmara, uma relação equilibrada entre medidas provisórias e nossos projetos, a reconstrução de pontes com a sociedade e contribuir para o crescimento do país - disse.

O deputado considera que Aldo e Chinaglia não levantam a bandeira da reconstrução das ''pontes com a sociedade''.

- Eles têm o apoio do presidente, a simpatia do Planalto, mas não são candidatos que nasceram dentro da Câmara - disse Gabeira, criticando a postura dos dois parlamentares ao defenderem o aumento de 91% para os deputados, no fim do ano passado.

Já o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), disse que apenas Aldo e Chinaglia devem disputar a presidência da Câmara, evitando o lançamento de um terceiro nome, mesmo que seja também da base aliada.

- Não sei qual dos candidatos está em melhor posição, nem mesmo entre os deputados do PMDB, mas penso que o melhor para a Câmara é que apenas um deles seja candidato, expressando a maioria de todos os partidos, do governo e da oposição - disse Temer à Reuters.

Temer confirmou que a bancada do PMDB - que será a maior da Câmara a partir de fevereiro - reúne-se nessa terça para tomar uma posição. Embora políticos ligados a Chinaglia afirmem que o petista teria o apoio de até 80 % dos 69 eleitores do PMDB, Temer não confirmou a previsão.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) mandou recado ao ministro das Relações Internacionais, Tarso Genro.

- Tarso, se o Chinaglia chegar ao poder, você não vai mandar nada. Quem vai voltar a comandar é o José Dirceu.

Tarso se encontra com líderes de dez partidos

Neste contexto, Tarso Genro começa, também nesta segunda-feira, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em férias, um ciclo de reuniões com os presidentes dos dez partidos aliados que formam o Conselho Político. O objetivo é chegar a um nome de consenso e em plena sintonia com o Palácio do Planalto. Nas conversas, serão mapeadas as intenções de voto em Aldo e Chinaglia e as chances de crescimento da terceira via. O temor é que se repita o cenário de 2005, quando um racha no PT levou à eleição de Severino.

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana, entende que para resolver o impasse na disputa pela presidência da Câmara o presidente Lula deverá oferecer um ministério ao candidato da base que recuar . O petista ressaltou que esta era sua opinião pessoal e que o ministério não seria um prêmio para a desistência, mas o reconhecimento da importância do aliado para assumir o primeiro escalão do governo.

Aldo Rebelo disse duvidar das declarações do líder.

- Não creio que o deputado Henrique Fontana, pelo cavalheirismo dele... possa falar em ministério para resolver uma disputa no Legislativo - afirmou o presidente da Casa.

Aldo calcula ter o apoio de 17 governadores a sua campanha pela reeleição. Seu adversário Chinaglia contesta esse amplo leque de adesão das lideranças estaduais. O petista alega que alguns nomes ou manifestaram neutralidade ou disseram apoiá-lo. Mas enquanto tomava um café com um grupo de jornalistas em seu gabinete, nesta manhã, Aldo recebeu uma boa surpresa. O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), ligou para dizer que estava do seu lado. Na lista dos 17 figuram importantes nomes da oposição, entre eles os tucanos José Serra (São Paulo) e Yeda Crusius (Rio Grande do Sul), os dois com forte influência sobre suas bancadas na Câmara.

Na terça-feira, Aldo visitará o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL). Aldo Rebelo tem o PFL com um dos avalistas de sua campanha e trabalha para conquistar parcela maior do PSDB e do PMDB, que está mais próximo de Chinaglia.

Presente de Cesar vira mascote de Aldo

E do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), Aldo recebeu uma estátua do corneteiro de Pirajás, personagem que teria colaborado com a vitória sobre os portugueses em 1822. Aldo pôs a estátua em sua mesa e disse que ela será sua mascote na campanha pela reeleição. Na semana passada, ao garantir que não recuaria de sua candidatura, Aldo disse que seu lema agora seria o do corneteiro:

- Meu lema agora é o do corneteiro de Pirajá: o toque de avançar a cavalaria - disse Aldo na ocasião.

Conta a história que o corneteiro do Exército Luiz Lopes teria sido decisivo na vitória do Brasil contra Portugal pela independência, na Batalha dos Pirajás. Com a batalha praticamente perdida, o comandante brasileiro teria ordenado que as troas se retirassem, mas o corneteiro deu o toque de avançar, o que teria dado ânimo à tropa e feito o inimigo se retirar.

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