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| Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

Na última versão da Esplanada que o vice-presidente Michel Temer, que pode assumir a Presidência da República a partir desta semana, estudou na noite de domingo, a conclusão foi de que, para diminuir o número de ministérios, será preciso abrir mão da indicação de “notáveis” e aceitar que os partidos que comporão a base escolham os nomes para as pastas que irão ocupar.

Um exemplo disto, fechado na noite deste domingo, é o deputado Ricardo Barros (PP-PR). Favorito do PP para ser ministro da Saúde, o nome sofria forte resistência de Temer, que desejava ter o médico Raul Cutait no cargo. No entanto, Barros aproveitou este fim de semana para ter conversas com profissionais da área em São Paulo e, segundo interlocutores de Temer, conseguiu viabilizar sua ida ao ministério.

Este é apenas um exemplo da solução intermediária encontrada por Temer para tentar finalizar a montagem do seu Ministério. Desta forma, o entorno do vice espera vencer o dilema que estava vivendo de ter de reduzir o número de pastas e, ao mesmo tempo, manter amarrada sua base de apoio no Congresso.

Um impasse ainda a ser enfrentado é contemplar os pequenos partidos que desejam ter seu naco de poder no eventual governo Temer. O PRB, por exemplo, insiste em ter o pastor Marcus Pereira, presidente da legenda, no comando de Ciência e Tecnologia. O entorno do vice tem resistências ao nome.

“Ou Temer abre mão para que os partidos façam as nomeações, ou consegue reduzir os ministérios. As duas coisas, não dá”, admitiu ao GLOBO um auxiliar do vice que participa das reuniões.

Na reunião da noite de domingo, Henrique Meirelles tranquilizou o vice-presidente sobre a convivência com os diretores do Banco Central da atual gestão. O ministeriável reafirmou ao vice que não havia pressa para promover as mudanças no órgão.

Dificuldades para compor novo governo

As dificuldades de Temer para formar um eventual Ministério são tamanhas que a tendência, segundo relatos de aliados, é que ele anuncie apenas os nomes que comporão o núcleo duro de seu governo, na economia e no Palácio do Planalto, caso eventualmente assuma o governo se o Senado aprovar o afastamento da presidente Dilma Rousseff nesta semana. A sessão que analisará a saída temporária da petista por até 180 dias começa na próxima quarta-feira.

Desde a aprovação do processo de impeachment na Câmara, em 17 de abril, o peemedebista tem negociado com partidos a escolha de ministros, e as demandas já o fizeram desistir da meta de reduzir o número de ministérios de 32 para cerca de 20. Ele chegou a afirmar, em entrevista, que cortaria apenas três ministérios. Nos últimos dias, porém, o vice estaria tentando montar, junto a seus auxiliares, uma configuração intermediária, com cerca de 25 pastas.

Pressão por mais espaço

Segundo relatos de aliados, o movimento surgiu da avaliação de que a manutenção de quase todos os ministérios, após ter anunciado que haveria um enxugamento, pegou muito mal politicamente, e demonstraria falta de firmeza do vice em suas decisões. Pesa contra uma redução maior a imensa dificuldade para acomodar as demandas de todos os partidos que devem fazer parte de sua base no Congresso. Alguns não se contentam com a perda de espaços que atualmente ocupam no governo Dilma, e outros querem se ver mais representados de forma direta no hipotético novo governo.

Se a tendência se confirmar, Temer deve anunciar no início de um eventual governo o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda; o senador Romero Jucá (PMDB-RR) no Planejamento; Eliseu Padilha na Casa Civil; Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo; e Moreira Franco em uma secretaria especial ligada à Presidência para tratar de privatizações. Caso adote essa solução, o vice corre o risco de ter que manter ministros de Dilma. Temer tem dito que pouco até o momento foi definido e que há muita especulação sobre o Ministério.

Dificuldades com o próprio PMDB

Por enquanto, Temer está “maturando” a percepção de que é preciso fazer uma redução no número de vagas, de acordo com seus interlocutores. Na sua própria legenda, há um xadrez delicado, e ele encontra dificuldades para agradar a todos. A bancada de deputados do PMDB contava com três ministérios: Desenvolvimento Social para Osmar Terra (RS); Esporte para Leonardo Picciani (RJ); e Aviação Civil para José Priante (PA). Mas, ontem, aliados do vice afirmaram que ele estaria retomando a ideia de incorporar a Aviação Civil ao Ministério dos Transportes, já prometido a Maurício Quintella (PR-AL). Ao saber da possibilidade de recuo, peemedebistas se queixaram:

“O problema não é enxugar Ministério, e, sim, a pressão do PR para ficar com a Aviação Civil. Se a bancada não ficar com essas três pastas, vai ter chiadeira”, afirmou um deputado do PMDB.

Na noite de ontem, o vice recebeu em sua residência oficial Henrique Meirelles, Jucá, Padilha, Moreira e Geddel. Segundo auxiliares próximos, Meirelles falou sobre as diretrizes da política econômica que deseja implementar e estabeleceu que, provavelmente, haverá apenas a divulgação das linhas gerais para a condução da política econômica, sem o anúncio de medidas específicas, nos primeiros dias após o eventual afastamento de Dilma.

A principal preocupação de Temer com relação ao futuro próximo é com a economia, hoje marcada pela recessão, o desemprego e a falta de confiança no Brasil. A prioridade de Meirelles é sinalizar ao mercado que o novo governo estará comprometido com um ajuste fiscal gradual, que permita colocar a dívida pública em trajetória de queda. O ex-presidente do BC já indicou que esse processo será lento, diante dos sucessivos rombos nas contas públicas. Também caberá a Meirelles decidir quem assumirá o Banco Central no lugar de Alexandre Tombini. A equipe atual do BC deve ser mantida pelo menos até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os nomes mais cotados para integrar a diretoria do banco são os do ex-diretores da instituição Afonso Bevilaqua, Ilan Goldfjn e Mário Mesquita.

Na noite de sábado, Temer recebeu o senador José Serra (PSDB-SP) em São Paulo, para conversar sobre a participação que ele terá no Ministério. Havia um acordo para que Serra se tornasse ministro de Relações Exteriores em uma pasta que seria turbinada por comércio exterior. Mas, no início da semana passada, o tucano foi comunicado de que havia resistência no setor produtivo sobre a mudança. Segundo relatos, Serra teria demonstrado então insatisfação com isso e sinalizado que, nesse caso, preferia o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A conversa de sábado, de acordo com auxiliares de Temer, serviu para reafirmar o convite ao tucano para comandar o Itamaraty.

Além de Serra, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) também deve integrar a cota do PSDB no Ministério de Temer, com a pasta de Cidades. Outro nome que passou a ser cogitado foi o do senador Tasso Jereissati (CE) para o Desenvolvimento.

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