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Planalto

Sai o discurso, entra em cena o PowerPoint

Primeira semana de Dilma Rousseff na Presidência ressalta as diferenças de estilo entre a nova comandante e o antecessor, Lula

Reunião com ministros quinta-feira, no Planalto: plano contra a pobreza apresentado no computador | Roberto Stuckert Filho / PR
Reunião com ministros quinta-feira, no Planalto: plano contra a pobreza apresentado no computador (Foto: Roberto Stuckert Filho / PR)

Nenhuma declaração pública. Pontualidade. Reuniões no horário do almoço. Dois computadores ligados ao mesmo tempo para verificar informações e cobrar os subordinados. A rotina da primeira semana de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto é o retrato da nova gestão. Sai o bonachão, que adorava o jogo político e os discursos; entra a rainha do PowerPoint (software utilizado para apresentações e palestras).

Nos primeiros sete dias de governo após a posse, Dilma permaneceu enclausurada no gabinete presidencial, preparando ações como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o combate da pobreza extrema. Não ficou imune, contudo, à crise deflagrada pelo PMDB por mais cargos no governo e à polêmica sobre a criação de uma "comissão da verdade" para investigar crimes cometidos durante a ditadura militar (leia mais na página 16). No pacote, também foi forçada a conviver com os problemas deixados por Lula, como a decisão de não extraditar o ex-terrorista Cesare Battisti para a Itália, as férias em uma instalação militar no Guarujá (SP) e a concessão de passaportes diplomáticos para dois filhos do ex-presidente a dois dias do fim do mandato.

O comportamento e a reação às turbulências reforçaram algo que já era esperado: a petista faz questão de executar pessoalmente as tarefas de coordenação e planejamento, mas aceita terceirizar a negociação política. Para resolver o embate com os peemedebistas, escalou os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Antonio Palocci (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações). Sobre as polêmicas envolvendo Lula, só falaram o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

"Não dava para esperar da Dilma a mesma atuação do Lula. Ele é um político intuitivo, ela tem o perfil de gerente, de planejadora. Se depender dela, nada no governo vai acontecer de improviso", avalia o cientista político Valeriano Mendes Ferreira Costa, da Universidade de Campinas.

Segundo ele, a postura adotada por Dilma até agora é coerente. "Se ela resolver, por exemplo, se colocar na linha de frente dessa briga com o PMDB, é bem possível que ela bata de frente e se queime." O professor prevê que a presidente só irá aparecer em situações como essa depois que tudo estiver acertado entre as partes – e apenas para chancelar acordos.

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Após realizar um discurso no dia da posse, no qual enfatizou o combate à miséria e prioridade à saúde e educação, Dilma começou a trabalhar logo no domingo e teve audiência com presidentes e representantes de Vene­­zuela, Espanha, Uruguai, Coreia do Sul, Portugal, Palestina, Cuba e Japão. Na segunda-feira à noite, comandou a primeira reunião da equipe de coordenação política e ouviu do vice-presidente Michel Temer o pedido do PMDB para que todas as negociações para o segundo escalão fossem suspensas até fevereiro.

No mesmo dia, o novo chefe do Gabinete de Segurança Ins­­­titucional da Presidência da República, general José Elito Siqueira, disse ser contra a criação da Comissão da Verdade, defendida pela nova ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Siqueira foi repreendido por Dilma e depois disse que as declarações teriam sido "mal interpretadas".

Entre terça e sexta-feira, Dilma realizou uma maratona de audiências com ministros. Nos encontros, ela preparou a apresentação de um plano para eliminar a pobreza extrema, anunciado na quinta-feira. O novo "PAC" ainda não tem metas, mas foi o marco positivo da semana.

Para o especialista em marketing político Carlos Manhanelli, a primeira semana de trabalho da nova presidente mostrou a diferença de perfil entre Dilma e Lula. "Ela não é uma mulher do povo, uma operária. É uma técnica esclarecida, estudada, e vai ser cobrada por isso. A ficha das pessoas pode ainda não ter caído, mas acabou o ‘companheiros e companheiras’ (início de discurso de Lula) e começou o ‘queridos brasileiros, queridas brasileiras’ (bordão de Dilma)."

Professor de Comunicação Política da Universidade de Salamanca (Espanha), Manhanelli também cita que as características de Dilma são raras na história das democracias ocidentais. "Talvez apenas Margaret Thatcher (primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990) tenha chegado ao poder com um perfil muito mais técnico do que político."

Sobre o sucesso da novidade, ele diz que a aceitação popular real só poderá ser medida após os 100 primeiros dias de governo.

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