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Diário de uma tragédia| Foto:

Acidente

O acidente aconteceu na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski na madrugada do dia 7. O deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Após a colisão, os carros foram parar na Rua Barbara Cvintal, uma via local paralela à Monsenhor Ivo Zanlorenzi.

Pedaços de lataria, vidros e ferros ficaram espalhados por cerca de cem metros. Os dois ocupantes do Honda, Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, morreram no local.

Reportagem da Gazeta do Povo revelou que Carli Filho estava com a carteira de motorista cassada no momento da ocorrência, em razão do excesso de multas – a maioria por excesso de velocidade.

Os pais do parlamentar defenderam que ele seja punido se for provada a sua responsabilidade no acidente. "Nós não vamos pôr a mão na cabeça. Se ficar provado que ele é culpado, ele vai ter que pagar pelo que fez", afirmou a mãe de Carli Filho, Ana Rita Carli, em entrevista ao Fantástico, transmitida no domingo (17).

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) encaminhou, nesta terça-feira (2), um pedido ao Tribunal de Justiça do Paraná para que encaminhe a um juiz de primeiro grau os autos do processo sobre o acidente envolvendo o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho. Na última sexta-feira (29), Carli renunciou ao mandato parlamentar e por isso perdeu o foro privilegiado. Carli Filho está hospitalizado desde o dia 7, quando se envolveu em um acidente que resultou na morte de duas pessoas.

Ao renunciar ao mandato de deputado, Carli Filho perdeu o direito de ser julgado perante a Justiça de segundo grau – o Tribunal de Justiça. O inquérito era acompanhada pelos promotores de Justiça Rodrigo Chemim e Fábio Guaragni. A partir de agora, por não ser mais atribuição do Procurador-Geral de Justiça, outro Promotor de Justiça deverá acompanhar o caso.

Segundo o MP-PR, até o momento, 26 pessoas foram ouvidas, entre testemunhas que viram o acidente, policiais e bombeiros que atenderam o caso e pessoas que presenciaram a ingestão de bebida alcoólica pelo ex-deputado antes do acidente.

No pronunciamento encaminhado ao Tribunal de Justiça, o MP-PR sustenta tese preliminar - uma vez que as investigações ainda não foram concluídas - de que o fato configuraria duplo homicídio com dolo eventual. No entendimento dos promotores, os depoimentos e informações técnicas reunidas até o momento levariam a crer que o então deputado, alcoolizado e dirigindo em velocidade excessiva, havia sido advertido de que não tinha condições de dirigir e, mesmo assim, assumiu o risco daquela situação.

Em entrevista coletiva, o advogado Roberto Brzezinski Neto, que defende o ex-deputado, disse que não poderia adiantar sua estratégia de defesa. "Não posso basear minha defesa em suposições. Enquanto o inquérito não for concluído e não houver uma acusação formal, não posso falar sobre a defesa", disse.

Brzezinski afirmou que seu cliente ainda não está em condições para prestar depoimento. O advogado contou que apresentou a polícia um documento atestando que o ex-deputado está com a boca parcialmente paralisada, é alimentado por uma sonda diretamente no estomago e tem grampos metálicos na cabeça.

Do acidente a renuncia

O que poderia ser apenas mais um acidente trágico com mortes a entrar para as estatísticas de trânsito acabou provocando a primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Além disso, expôs um histórico de multas não só de políticos, mas de 68 mil cidadãos que continuam dirigindo com a carteira de habilitação suspensa.

Depois da morte dos jovens Gilmar Rafael Yared e Carlos Murilo de Almeida, o governo do estado decidiu "caçar" os motoristas que ignoram as leis de trânsito. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) determinou a entrega das habilitações suspensas em 48 horas, sob ameaça de prender os desobedientes.

O resultado foi um crescimento de 568% na devolução de carteiras no primeiro dia medida, 28 de maio. Foram 695 devoluções só nesta data. A média de 2009, até então, era de 104 devoluções por dia.

Nesse universo em situação irregular, 26 deputados estaduais já receberam notificação de suspensão de carteira. A descoberta também veio na esteira do caso Carli.

A população também participou protestando contra a impunidade no trânsito, cobrando respostas da polícia, do Judiciário e da Assembleia Legislativa. Saiu às ruas em passeatas e fez campanha com adesivos nos carros – "190 km/h é crime".

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