Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
gestÃO PÚBLICA

Senado atualiza Lei de Licitações com “janela para corrupção”

Projeto dificulta paralisação de obras suspeitas de irregularidades, favorece grandes empreiteiras ao exigir seguro caro e cria nova modalidade em que poder público vai conversar com empresas antes de lançar concorrência

 | Jonas Pereira/Agência Senado
(Foto: Jonas Pereira/Agência Senado)

Em meio aos projetos batizados de Agenda Brasil, com a intenção de reativar a economia brasileira, o Senado aprovou mudanças na Lei de Licitações que atendem aos interesses da Odebrecht e de outras grandes empresas.

O texto, que segue agora para análise da Câmara dos Deputados, também limita a atuação dos tribunais de contas, dificultando a suspensão de obras suspeitas de irregularidades, permite a contratação integrada e elimina a obrigação de audiência pública prévia.

ENTENDA: Veja as mudanças mais polêmicas do projeto

Saudado por Renan Calheiros (PMDB-SP), que considerou a atualização da Lei de Licitações (8.666/93) como “talvez a mais importante decisão deste ano legislativo”, o texto recebeu críticas de diversas entidades, como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU) e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Em carta aberta aos deputados federais pedindo alterações na lei, a CBIC apontou “janelas para a corrupção” no projeto.

Na delação do executivo Cláudio Melo Filho, vazada à imprensa, ele relata negociações feitas em 2007 entre a Odebrecht e senadores para aprovar alterações à Lei de Licitações, como “a possibilidade de inversão de fases”. Outra sugestão da Odebrecht era que se considerasse o “mecanismo de performance bond”, espécie de seguro-garantia, relatou Melo Filho na delação.

As duas questões foram alteradas no texto aprovado no Senado no dia 13 de dezembro (PLS 559/13). O projeto diz que a apresentação das propostas e julgamento delas antecede a fase de habilitação em qualquer concorrência, incorporando uma inovação do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), feito sob medida para a Copa do Mundo e Olimpíadas.

O texto também adotou a previsão de seguro-garantia, de 20% do valor da obra e de 30% para obras com valor acima de R$ 100 milhões. Segundo a CBIC, esses percentuais são altos, o que vai restringir a participação de empresas nos certames.

Outro problema, diz a entidade, é que não há seguro para o atraso nos pagamentos feitos pelo poder público, descrito como “o principal fator que gera problemas nas obras”. Por isso a medida seria inócua, além de dar à administração pública “uma perigosa assimetria de prerrogativas”.

Outra “janela para a corrupção”, diz a CBIC, é uma nova modalidade licitatória, o diálogo competitivo, pelo qual o poder público pode realizar conversas prévias com as empresas antes de lançar o respectivo edital.

Controle

Pelo projeto do Senado, a partir de agora todas as obras com valores acima de R$ 20 milhões podem ser licitadas por meio da contratação integrada, como era previsto no RDC. Para o CAU, “a contratação integrada é um instrumento fracassado não apenas nas obras da Copa e das Olimpíadas, para o qual foi criado, mas em outros empreendimentos grandiosos, pois não há notícia de que tenha impedido atrasos ou aditamentos de contratos”.

Além disso, o texto inviabiliza a suspensão de obras suspeitas de conter irregularidades. A paralisação só poderá ser feita quando forem observados: impactos econômicos da paralisação, custo da deterioração, empregos diretos e indiretos perdidos com a paralisação e custos para realização de nova licitação, entre outros quesitos mais ou menos subjetivos.

Foi acolhida uma emenda de Antonio Anastasia (PSDB-MG), que limita a suspensão a uma única vez, pelo prazo máximo de 30 dias, sem prorrogação.

O novo texto também concede à administração pública o direito de realizar audiência pública antes de uma licitação; pela norma em vigor, ela é obrigatória para obras de grande vulto.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.