
O silêncio de quatro depoentes na semana que passou vai forçar uma mudança de postura dos membros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira. Sem a previsão de que os trabalhos vão se sustentar por declarações bombásticas, deputados e senadores vão ter de se dedicar mais ao trabalho "calado" das investigações e ao cruzamento de dados e menos aos holofotes dos interrogatórios. A nova fase começa pela definição de qual será o foco das apurações.
Após um "acordão" selado por tucanos e petistas, devem ser colocados em votação na terça-feira os requerimentos de convocação dos três governadores suspeitos de envolvimento com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira Agnelo Queiroz (PT-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). No mesmo dia, os parlamentares vão decidir se quebram o sigilo da matriz nacional da construtora Delta.
"São as únicas coisas que a CPMI pode fazer que ainda não foram feitas pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público. Ou seja, é a saída que sobrou para trabalharmos de verdade", diz o deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR). Até agora, a CPMI tem se pautado pelas investigações das operações Vegas e Monte Carlo, sem o aprofundamento de questões próprias.
"Se não nos dedicarmos ao trabalho mais chato, de cruzamento de informações, não vai sair nada", opina o deputado Dr. Rosinha (PT-PR). O problema, segundo ele, é que esse tipo de trabalho "não dá Ibope".
Francischini e Rosinha se desentenderam e quase trocaram agressões físicas durante sessão da comissão na última quinta-feira. Os dois extravasaram uma disputa entre petistas e tucanos que dura desde a instalação da CPMI. A confusão começou quando Francischini disse que o relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), estava se comportando como "tchutchuca" ao falar de Agnelo Queiroz e "tigrão" quando o assunto era Marconi Perillo.
Durante a passagem de Cachoeira pela comissão, na terça-feira, os tucanos também seguiram a estratégia de "bombardear" o bicheiro com perguntas sobre as ligações dele com o governo petista no Distrito Federal e deixaram de lado os questionamentos sobre os tucanos de Goiás. Cachoeira e dois integrantes de seu grupo, Idalberto Araújo e Jairo Martins de Souza, compareceram à comissão e não fizeram declarações. O ex-vereador Wladimir Garcez fez um pronunciamento de defesa, mas também negou-se a responder perguntas dos parlamentares
A tendência agora é que seja firmado um novo acordo entre os dois lados para garantir que os governadores sejam "convidados" e não "convocados" à CPMI. Outra hipótese é que, inicialmente, apenas Perillo deponha ex-senador, ele declarou na semana passada que não vê problemas em prestar esclarecimentos. A decisão forçaria Agnelo e Cabral a também comparecer.
Além de colher depoimentos, a comissão tem os mesmos poderes de investigação de uma autoridade judicial. Ou seja, não precisa ficar a reboque de outras instituições como a Polícia Federal. Entre outras ações, os parlamentares podem quebrar sigilos bancário, fiscal e de dados, além de requisitar informações e documentos sigilosos diretamente a instituições financeiras.
Todas as decisões, contudo, precisam ser deliberadas em plenário. Para o deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR), um dos motivos para os trabalhos da CPMI não ter deslanchado tem sido o excesso de centralização das decisões nas mãos do relator Odair Cunha. "Se ele não criar logo sub-relatorias, vai tudo continuar devagar", avalia Bueno. A CPMI dos Correios, que apurou o escândalo do mensalão entre 2005 e 2006, teve cinco sub-relatores e outros dois relatores-adjuntos.



