
Brasília - Naturalmente inconformado com as críticas à sua diplomacia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa da política externa brasileira ontem. Em discurso durante a formatura de novos diplomatas no Itamaraty, o presidente disparou contra os que queriam que ele atacasse "a garganta" de Evo Morales, quando o presidente boliviano nacionalizou as reservas de gás e mandou o Exército ocupar as plantas da Petrobras no país, e que "esganasse" Fernando Lugo, quando o presidente do Paraguai exigiu a renegociação do Tratado de Itaipu. "O Brasil é a maior economia e tem de ser generoso, aquele que ajuda o avanço dos outros", disse o presidente. Segundo ele, o aumento da participação do Brasil em discussões externas passou a gerar "ciúmes".
Seguindo a linha de defesa à política externa adotada pelo governo Lula, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse que não aceita as críticas de que o Brasil deve se omitir e não se envolver no processo de paz do Oriente Médio e no enriquecimento de urânio pelo governo iraniano. Também em discurso na formatura de novos diplomatas, Amorim afirmou que o país não pode abdicar da sua própria capacidade de julgamento, nem delegar suas decisões aos mais poderosos "por temor de um suposto isolamento".
Os elogios de Lula e de Amorim à diplomacia do país foram feitos no mesmo dia em que o jornal britânico Financial Times publicou um artigo com críticas ao estilo de negociação do governo federal no exterior. O texto assinado pelo jornalista John Paul Rathbone afirma que, após a crise financeira global, o Brasil "tornou-se importante na comédia das nações, quase sem ninguém perceber".
No entanto, segundo o artigo, "a política de arco-íris do Brasil pode estar atingindo o seu limite e poderia até colocar em risco a vaga permanente no Conselho de Segurança que o país cobiça".
As críticas do periódico britânico foram endossadas pela oposição, que classificou de "ridícula" a política externa brasileira. Os oposicionistas afirmam que as "gafes" cometidas pelo presidente Lula ao defender posições polêmicas na comunidade internacional podem colocar em risco o pleito brasileiro de ocupar uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"Está para se configurar um descompasso entre o tamanho do país e as inconsequentes posições de seu presidente", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).
Antecessor
Em seu discurso em defesa da política externa do Brasil, o presidente Lula ainda tratou do plano eleitoral. Lula valeu-se do episódio dos sapatos descalçados pelo ex-chanceler tucano Celso Lafer ao ingressar nos Estados Unidos, em 2002, para atacar o PSDB e declarou que os brasileiros "foram induzidos" a se ver como "vira-latas" na gestão do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. "Ministro meu que tirar o sapato deixará de ser ministro", disse ele, no Itamaraty, ao comentar uma ordem que teria dado a seus colaboradores no início de seu governo.



