
Pressionado pelos próprios colegas de partido a desistir de seu mandato na Câmara Federal, o deputado paranaense André Vargas (PT) vai renunciar hoje ao cargo. Vice-presidente da Casa e um dos petistas que mais se destacaram na defesa dos condenados no mensalão, Vargas caiu em desgraça após a revelação de suas ligações com o doleiro preso Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato deflagrada pela Polícia Federal. Com a renúncia, o parlamentar deverá ficar inelegível até fevereiro de 2023, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa.
INFOGRÁFICO: Veja as relações políticas de André Vargas
A crise envolvendo Vargas começou há duas semanas com a divulgação de que ele usou um jatinho cedido por Youssef suspeito de participar de um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões para passar férias com a família no Nordeste. Na sequência, vieram a público mensagens de texto interceptadas pela Polícia Federal em que os dois tratavam de um projeto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde, envolvendo a empresa Labogen. Na conversa, Youssef dizia que estava trabalhando pela "independência financeira" de ambos. Em outra troca de mensagens, o petista cobrava do doleiro um pagamento que não havia sido feito a um irmão dele, Milton Vargas.
Saída
Após os casos virem à tona, André Vargas ficou isolado dentro de seu próprio partido. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que o deputado precisava "explicar à sociedade" sua relação com o doleiro para que o PT "não pague o pato".
Vargas se licenciou do mandato por um período de 60 dias. Depois, anunciou a renúncia ao cargo de vice-presidente da Câmara. Até a semana passada, porém, ele resistia em abrir mão do mandato em definitivo. Até àquela altura, a renúncia poderia evitar a cassação, o que, na prática, permitiria a ele eventualmente se candidatar de novo nas eleições de outubro.
No entanto, o paranaense decidiu renunciar agora por avaliar que já foi condenado pela Câmara antes mesmo de seu processo ser investigado pelo Conselho de Ética da Casa. "Não tem saída, vão continuar me sangrando até quando?", questionou ele, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. "Eu me sinto triste."
Ele negou, entretanto, que sua decisão tenha sido motivada por pressão do PT. Afirmou somente que a renúncia é para preservar sua família e seus filhos. Sobre a Labogen, o laboratório ligado a Youssef, Vargas disse que se interessou "pelo projeto". "Achei que era bom para o país, era bom para a economia. Nunca pedi nenhum favor nem advoguei", defendeu-se.
Na semana passada, pelo Twitter, o parlamentar disse que não havia cometido atos ilícitos e que iria provar sua inocência "de cabeça erguida". Procurado, o presidente do PT do Paraná, deputado estadual Enio Verri, disse que, por enquanto, não iria comentar o assunto.
Sigla - PT irá decidir sobre Comissão de Ética
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, recebeu ontem um relato verbal de três dirigentes petistas que formaram uma comissão designada para ouvir as explicações do deputado André Vargas sobre suas relações com o doleiro preso Alberto Youssef. Segundo Falcão, um documento escrito será entregue para ser analisado pela Executiva Nacional do partido, que deve definir pela instauração ou não de uma Comissão de Ética para julgar o caso do parlamentar paranaense.
"Recebi um relatório muito sucinto e pedi que eles encaminhem um por escrito até amanhã [hoje]. Com o relatório em mãos, vão reportar [o relatório à Executiva] para instalar ou não a Comissão de Ética", disse o presidente da sigla.
Ainda de acordo com Falcão, o relatório traz os fatos que foram noticiados até agora pela imprensa e não há divergência de posição entre os três petistas. A conclusão do relatório pode ser opinativa ou conter apenas constatações. Em uma tentativa de tranquilizar Vargas, as lideranças petistas informaram-no de que, por enquanto, não há risco de ele ser expulso do partido.



