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Crise na base

“Sobrevivência” do PMDB está por trás da rebelião

Ganhar mais cargos não é o único motivo da revolta contra o Planalto. Partido também quer manter seu “espaço político”, ameaçado pela nova estratégia eleitoral do PT

Deputados comemoram criação de comissão para investigar a Petrobras, numa derrota do Planalto imposta pelos aliados | Valter Campanato/ABr
Deputados comemoram criação de comissão para investigar a Petrobras, numa derrota do Planalto imposta pelos aliados (Foto: Valter Campanato/ABr)

A rebelião do PMDB na Câmara dos Deputados – que reuniu outros sete partidos da base aliada – teve como mote inicial a distribuição de cargos no primeiro escalão do governo federal. Mas o pano de fundo é a nova estratégia eleitoral do PT, que desde 2012 vem fortalecendo candidatos petistas nos estados que reúnem 60% do eleitorado brasileiro. Isso ameaça enfraquecer o PMDB em seu "espaço político" – os municípios, os estados e o Congresso.

"Em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná [seis maiores colégios eleitorais do país], o PT tratou de consolidar possibilidades de eleição, tanto nos governos estaduais como em cidades maiores. Se isso se concretizar, o PMDB é o principal prejudicado", avalia o filósofo Marcos Nobre, professor da Unicamp.

Para ele, esse plano hegemônico de poder é mal visto pelos peemedebistas. Segundo Nobre, a preocupação do PMDB é definhar, caso o PT ganhe mais força no cenário regional – o que tiraria o principal espaço político dos peemedebistas: as cidades e os estados. Além disso, a estratégia petista ainda pode enfraquecer o PMDB no Congresso. Isso porque candidatos fortes para os governos estaduais costumam "puxar" bancadas expressivas no Congresso; e a tendência petista seria aumentar sua presença no Parlamento.

A situação é ainda mais preocupante para os peemedebistas porque há semelhanças no eleitorado do PMDB e do PT. "De 2006 em diante, os dois partidos têm como alvo um eleitor muito parecido. O PT começou a ‘desfalcar’ o público cativo do PMDB, aquele que não tem tantas marcas ideológicas, mas sociais. Os peemedebistas viram que o PT tem candidato a presidente e que começou a crescer nas lideranças regionais, reduto anteriormente dominado pelo PMDB", diz Rudá Ricci, cientista social.

Porém, a capilaridade do PMDB – que tem o maior número de prefeitos e vereadores do país, além da maior bancada no Senado e o segundo maior número de deputados federais, perdendo apenas para o PT – pode levar os dois partidos a selar a paz. "Não se governa sem o partido majoritário; é essa sigla que dá as cartas. Para manter essa força aliada, os governos se vergam à maioria", afirma Octaciano Nogueira, cientista político da Universidade de Brasília. Nogueira avalia que o conflito não deverá ter consequências drásticas. "A manutenção de um acordo é positiva para ambos."

"Um sabe que depende do outro", diz Rudá Ricci. "Haverá bravata e chantagem, mas a situação é delicada para ambos. O PMDB não tem força para lançar um candidato nacional [à Presidência] e quer estar no governo. E o PT precisa de apoio para assegurar votações no Congresso."

Ao longo dos anos

Em geral, o PMDB, por ser um partido grande, sempre teve divisões internas. Mas, desde a aliança com o PT durante o governo Lula, o partido apresentava poucas divergências em relação à situação nacional.

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