
O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu ontem um processo criminal contra o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP); a mulher dele, Sylvia; quatro filhos do casal; e mais dois parentes por suspeita de lavagem de dinheiro. O Ministério Público Federal sustentou que a família se envolveu num esquema de lavagem de recursos desviados de obras públicas da época em que Maluf foi prefeito de São Paulo.
Como consequência da decisão, Maluf e os parentes passarão da condição de investigados para a de réus. O ex-prefeito e a mulher ficaram livres da acusação de formação de quadrilha porque, segundo os ministros, em razão da idade deles já ocorreu a prescrição. Mas os outros réus responderão por formação de quadrilha.
Relator do processo, o ministro Ricardo Lewandowski destacou os valores "astronômicos" dos supostos desvios. Ele citou que o prejuízo ao erário foi de cerca de US$ 1 bilhão. Também disse que há informações de que a família Maluf teria movimentado no exterior cerca de US$ 900 milhões, valor superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países, como Timor Leste, Guiné Bissau e Granada.
O ministro destacou que o total de recursos consumidos com a obra da Avenida Águas Espraiadas, na capital paulista, foi de R$ 800 milhões. Mas que as suspeitas são de que cerca de US$ 1 bilhão teriam sido lavados. Além dos valores altíssimos, o ministro mostrou ter ficado surpreso com o fato de o caso envolver mais de uma dezena de empresas off shore.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusou membros da família Maluf de envolvimento com crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com ele, a maioria dos recursos foi desviada da construção da avenida, que, segundo o procurador, consumiu a quantia "absurda" de R$ 796 milhões. Na época das obras Maluf era prefeito de São Paulo.
"O que está provado nos autos, fartamente, é que integrantes da família Maluf uniram-se em torno do objetivo comum de ocultar e dissimular a origem de valores provenientes de crimes contra a Administração Pública praticados por Paulo Maluf enquanto exerceu o mandato de prefeito de São Paulo", disse o procurador.
O destaque da sessão foi o advogado José Roberto Leal de Carvalho, que defende Maluf. "É muito difícil defender Paulo Maluf. Paulo Maluf carrega um carisma de ódio, desde a Copa de 1970 [quando ele presenteou jogadores com automóveis Fusca]. Começa o calvário dele lá", disse Carvalho.
O advogado também criticou o fato de o Ministério Público Federal ter denunciado por formação de quadrilha oito integrantes da família Maluf. "A quadrilha só vai acabar quando matarem todos e restarem três", disse.
José Roberto Batocchio, advogado do filho do deputado, Flávio Maluf, também tratou do assunto. "No Brasil, transformaram formação de família em formação de quadrilha", disse. Batocchio reclamou do uso pelo Ministério Público de provas fornecidas pela Suíça. Defensor também de Jaqueline Maluf, o advogado disse que ela é uma dona de casa. "É uma dona de casa que só acompanhou o marido e se dedicou a cuidar dos filhos e a administrar o seu lar, disse.



