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| Foto: Beto Barata/PR

Michel Temer (PMDB) tinha pressa para que o impeachment fosse aprovado pelo Senado ainda no mês de agosto. Ele queria – e conseguiu – embarcar a tempo para a China como presidente em definitivo. Lá se reunirá com empresários chineses para assinar contratos de pelo menos R$ 10 bilhões; terá encontros bilaterais com mandatários de China, Espanha, Japão, Itália e Arábia Saudita; e participará da reunião de dois dias do G20, que reúne as maiores economias do mundo.

Veja a agenda do presidente recém-empossado na China

Novo governo terá de mostrar atitudes práticas de austeridade e não apenas discurso

Professor universitário de Comércio Internacional, Luis Alexandre Carta Winter afirma que o presidente Michel Temer (PMDB) terá como primeira missão na China mostrar ao mundo que as disputas internas já estão superadas e que o país está consolidado. Mas segundo ele, atrair investidores estrangeiros exige atos concretos e não apenas o discurso de que o Brasil tem agora estabilidade e segurança jurídica.

“É preciso implementar mudanças estruturais para que o mundo tenha confiança aqui. Além disso, investimentos diretos e permanentes – não apenas os especulativos – só virão quando mudarmos uma série de legislações, como a tributária e a reforma política”, argumenta.

Na mesma linha, Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP, diz que, diante da dramática crise financeira que o país atravessa, Temer precisa indicar a implantação de uma agenda de austeridade e contenção dos gastos públicos. “Ele terá de reafirmar a governabilidade como algo que permita a atração de capitais estrangeiros públicos e sobretudo privados, para ajudar o país a se recuperar.”

Winter também projeta que o peemedebista dará uma guinada no cenário econômico internacional, demonstrando que privilegia o G20 em detrimento dos países do 3.º mundo. “Deixaremos a questão do bem-estar social e vamos investir no modelo mais neoliberal, com maior incremento das exportações.” Tanto que ele destaca a decisão já tomada pelos governos de Equador, Venezuela e Bolívia de chamar de volta seus embaixadores que atuam no Brasil.

Mais do que atrair recursos para o país, o peemedebista tentará convencer o mundo de que a instabilidade política ficou para trás e que seu governo já está tomando as medidas necessárias para ajustar a economia e garantir segurança jurídica para investimentos estrangeiros.

Em uma agenda bastante extensa, Temer terá de vencer a desconfiança da comunidade internacional em relação a todo a polêmica que cercou o processo que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os principais parceiros comerciais do país, como Estados Unidos, União Europeia e Argentina, já manifestaram oficialmente o desejo de manter e ampliar as relações com o Brasil. “A União Europeia vai continuar trabalhando com o governo brasileiro para fortalecer ainda mais nossas relações, além da nossa parceria estratégica para progressos no acordo com o Mercosul de forma a lidar com desafios regionais e globais”, afirmou a Comissão Europeia em comunicado.

Somente um dia depois do impeachment, porém, o mundo ainda age com certa cautela em relação ao Brasil. “Será uma vergonha se a História mostrar que ela estava certa. Mas o legado de Dilma Rousseff e os eventos que levaram a sua queda são mais complexos do que se admite”, escreveu o jornal americano New York Times, em editorial publicado nesta quinta-feira (1.º), ao comentar a menção à narrativa de “golpe” encampada pela petista.

Na quarta (31), na primeira reunião ministerial como presidente efetivo, o próprio Temer reconheceu que, no plano internacional, o PT conseguiu “com algum sucesso dizer que no Brasil houve um golpe”. “Não estamos viajando a passeio, mas para revelar aos olhos do mundo que temos estabilidade política e segurança jurídica. Será o primeiro momento de revelarmos ao mundo a unidade brasileira e já começar a trazer recursos para cá”, disse na ocasião.

Conforme Temer afirmou aos ministros, que fará “muitas viagens para o exterior”, a agenda dele até o fim do ano ainda terá uma ida a Nova Iorque no fim deste mês, onde participará da Assembleia-Geral das Nações Unidas – tradicionalmente, o representante do Brasil faz o discurso de abertura. Em outubro, participará da 8.ª Cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na Índia, e da 25.ª Cúpula Íbero Americana, na Colômbia. O Palácio do Planalto também planeja compromissos nos Estados Unidos, Japão, Argentina e Paraguai.

Agenda extensa na China

Saiba o que o presidente Michel Temer (PMDB) fará em sua primeira viagem internacional

Assinatura de 11 acordos comerciais

- Operação de crédito de US$ 1 bilhão com um prazo de 10 anos entre a Petrobras e o China Eximbank

- Venda de 50 aviões da Embraer

- Venda da participação da Camargo Correa na CPFL Energia, por US$ 1,83 bilhão

- Construção de um terminal multicargas privado, com investimento de US$ 1,5 bilhão apenas na primeira fase, e de uma siderúrgica no valor de US$ 3 bilhões, ambos no Maranhão

- Fechamento de parcerias com o Banco Modal para ser braço financeiro do CCCC (China Communications and Construction Company Internacional) na análise e execução de projetos na área de infraestrutura no Brasil

- Criação de um fundo de US$ 1 bilhão dos grupos Pengin e Haitong para investimento em armazenamento, logística e infraestrutura de escoamento de grãos

- Compra de 50,1% da sociedade de investimentos Rio Bravo pelo Grupo Fosun

Cinco discursos

- Dirá que o período de instabilidade política no Brasil foi superado e que o governo já está tomando medidas para ajustar a economia e dar segurança jurídica aos investidores estrangeiros

- Admitirá que o desafio mais urgente do país é fiscal e prometerá que o gasto público não terá crescimento real nos próximos 20 anos graças à PEC 241

- Falará que o Banco Central tem atuado de forma decisiva para trazer a inflação para o centro da meta

- Exporá uma ampla agenda de reformas estruturais em curso

- Defenderá o investimento em energia limpa

- Levantará a discussão em torno dos subsídios agrícolas e da remoção de barreiras comerciais para países em desenvolvimento

- Defenderá uma política para estabilização e desenvolvimento dos locais de origem dos fluxos migratórios

- Condenará o terrorismo

Fonte: Jornal O Globo.

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