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Repercussão

Todos os condenados no mensalão apresentam recursos ao STF

Até o início da noite, foram protocolados 26 embargos de declaração, normalmente utilizados para pedir esclarecimentos sobre ambiguidades ou omissões no julgamento

Todos os 25 condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão (Ação Penal 470), esquema de compra de apoio político denunciado em 2005, apresentaram recursos à corte até o início da noite desta quinta-feira (2). O prazo para a apresentação de embargos de declaração, uma espécie de recurso, termina à meia noite desta quinta, quando completam exatamente dez dias da publicação do acórdão, documento que contém todo o teor do julgamento.

Até o início da noite, foram protocolados 26 embargos de declaração, normalmente utilizados para pedir esclarecimentos sobre ambiguidades ou omissões no julgamento. Mas as defesas dos acusados terão mais cinco dias para a apresentação de outro tipo de recurso, os embargos infringentes, que questionam principalmente as decisões que não foram unanimidade no colegiado.

Dentre os questionamentos já apresentados, estão o da defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pedindo que o recurso não seja relatado pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, que relatou a ação penal do mensalão. A tese foi refutada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. "Não há nenhuma consistência (no pedido)", disse. Ele disse ainda que resta aos condenados conformar com as penas. "Os embargos não se prestam à modificação de julgamento nem à redução de penas", afirmou.

Vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski disse nesta quinta-feira (2) que o plenário do tribunal deve ter que avaliar se o presidente Joaquim Barbosa permanecerá como relator do mensalão. Nos recursos apresentados pelas defesas dos condenados, os advogados questionam o fato de Barbosa acumular a presidência com a relatoria.

Defesas

A defesa do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) afirma, em recurso, que os ministros utilizaram critérios "discrepantes" para o cálculo das penas do mensalão, apesar de considerarem que os crimes foram cometidos em "circunstâncias quase idênticas". O advogado também pede que o tribunal rediscuta a questão da perda de mandato dos réus condenados, ao entender que os argumentos utilizados foram "obscuros".

A defesa do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também apresentou recurso nesta quinta contra a condenação no processo do mensalão. No documento, que traz duras críticas ao acórdão - resultado final do julgamento -, o petista pede um novo julgamento na primeira instância da Justiça.

Já a defesa do presidente do PTB, Roberto Jefferson, pede que Joaquim Barbosa não seja mais o relator do processo. Essa estratégia também foi utilizada pela defesa do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), apontado como o chefe da quadrilha que organizou o esquema de desvio de recursos público para a compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula. A reportagem apurou que são poucas as chances dessa tese prosperar na corte.

O deputado federal José Genoino (PT) pediu a anulação do acórdão do julgamento do mensalão, que no ano passado o condenou a mais de seis anos de reclusão pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. À época do escândalo, Genoino ocupava a presidência do PT. O recurso está fundamentado no argumento de que houve cerceamento de defesa durante o julgamento.

Advogado do ex-dirigente do Banco Rural José Roberto Salgado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos afirmou que o julgamento do mensalão ocorreu "a toque de caixa" e o acórdão -documento que oficializa o resultado do caso- é "confuso, desorganizado e incompleto". Ele apresentou nesta quinta um recurso de 143 páginas, dizendo que a pena de seu cliente, de quase 17 anos de prisão, é "elevadíssima e injusta". Bastos apresenta uma série de questionamentos à decisão do Supremo, afirmando haver "inúmeras contradições, dúvidas, obscuridades e omissões".

Os advogados de Katia Rabello pediram a redução das penas aplicadas à ex-presidente do Banco Rural. Ao final do julgamento do mensalão no ano passado, Katia foi condenada a mais de 16 anos de reclusão por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas. De acordo com os advogados, o acórdão do julgamento apresenta "contradições, obscuridades e omissões".

Os advogados do empresário Ramon Rollerbach, ex-sócio de Marcos Valério, cobrou dos ministros do STF que reavaliem se há mesmo elementos que comprovem a participação dele no esquema do mensalão. A defesa pediu também que o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, deixe a relatoria do mensalão, mesma estratégia adotada por outros réus. Os advogados de Rollerbach ainda apontaram supostas contradições no julgamento e na aplicação das penas.

Ação Penal 470

Concluído em dezembro do ano passado, após mais de quatro meses de trabalho, o processo do mensalão é o maior julgado em toda a história do STF. Além do grande impacto político, a complexidade da ação penal vem da própria estrutura do processo. Originalmente com 40 réus, a ação produziu mais de 50 mil páginas e demandou a oitiva de 600 testemunhas. O julgamento durou 53 sessões e consumiu 204 horas de funcionamento do plenário, monopolizando o trabalho do STF no segundo semestre de 2012 – em geral, a Corte leva até quatro sessões para julgar casos mais complexos.

Dos 40 réus iniciais, três não chegaram a passar por julgamento. Dos 37 réus que foram julgados, 25 foram condenados e 12 absolvidos. A Corte decidiu que 11 deles devem cumprir a pena em regime inicialmente fechado, 11 em regime semiaberto, um em regime aberto e dois tiveram a pena substituída por medidas restritivas de direito, como pagamento de multa e proibição de exercício de função pública. Ao todo, as condenações somaram 273 anos, três meses e quatro dias de prisão, e as multas superaram R$ 20 milhões em valores ainda não atualizados.

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