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Dilma Rousseff em Cuba: presidente participou da deposição de flores no memorial de José Martí, herói cubano | Adalberto Roque/AFP
Dilma Rousseff em Cuba: presidente participou da deposição de flores no memorial de José Martí, herói cubano| Foto: Adalberto Roque/AFP

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Cuba receberá dinheiro brasileiro para comprar alimentos

O Brasil vai abrir uma linha de crédito de US$ 350 milhões para financiar a compra de alimentos por Cuba. Os recursos, por meio do Programa de Financiamento à Exportação (ProEx), representam a maior parte do pacote de apoio de US$ 523 milhões que a presidente Dilma Rousseff levou na primeira viagem dela à ilha.

Esgotados pela falta de produção interna – importam 80% dos que consomem –, os cubanos precisam hoje de recursos para comprar café, soja e, em alguns casos, até mesmo o açúcar dos quais já foram um dos maiores produtores mundiais. Os US$ 350 milhões representam quase quatro vezes o que Cuba consegue obter em um ano com exportações para o Brasil.

"Eu acredito que a grande contribuição que podemos dar aqui é ajudar a desenvolver todo o processo econômico. O Brasil hoje participa de várias iniciativas que eu considero importante. A primeira é uma política de alimentos. É impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo", afirmou a presidente, referindo-se ao bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos há 50 anos.

O governo brasileiro ainda abriu outra linha de crédito de US$ 200 milhões, por meio da Câmara de Comércio Exterior (Camex), para o programa Mais Alimentos, que permite a compra de equipamentos e insumos para a agricultura, como tratores, colheitadeiras. Para este ano já foram liberados US$ 70 milhões. Outros US$ 230 milhões, também pela Camex, são a última parcela do financiamento do Porto de Mariel.

No total, Cuba tem um crédito de US$ 1,37 bilhão com o Brasil.

Em sua primeira visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff seguiu o roteiro escrito pelo seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva: falar de direitos humanos no país de Fidel Castro é apenas para lembrar que todos têm problemas – e, de preferência, citar a prisão de Guan­­tánamo, ainda mantida pelos Estados Unidos dentro do território cubano.

"Se vamos falar de direitos humanos, nós começaremos a falar de direitos humanos no Brasil, nos Estados Unidos, a respeito de uma base aqui chamada Guantánamo, direitos humanos em todos os lugares", disse a presidente pouco antes do encontro com o presidente Raúl Castro, irmão de Fidel.

"Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países têm de se responsabilizar, inclusive o nosso. Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós no Brasil temos o nosso", afirmou. "Então, eu concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral. Agora, de fato, é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral. Não podemos achar que direitos humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro."

A fala de Dilma foi um balde de água fria nas esperanças de que os dissidentes da ilha pudessem ter uma declaração mais contundente da presidente. Da mesma forma que Lula nas suas duas visitas ao país, em 2008 e 2010, Dilma recusou-se a fazer qualquer tipo de crítica, mesmo velada, às constantes prisões de dissidentes e aos intermináveis problemas de direitos humanos em Cuba. Mas, como já esperavam os opositores, a presidente também não chegou a defender a situação cubana abertamente.

A agenda de Dilma, centrada na cooperação e nos projetos brasileiros, abriu espaço apenas para um personagem ilustre: Fidel Castro, a quem confirmou que iria ver "com muito orgulho".

Dissidentes

Já os vários dissidentes que pediram audiências no curto tempo que a presidente passará em Cuba não encontraram espaço, nem com outras pessoas da sua comitiva. Mesmo a blogueira e colunista Yoani Sánchez, que em uma carta à presidente pediu o visto e uma audiência. Pergun­­­tada se iria pedir pela permissão de saída para que a blogueira pudesse vir ao Brasil, a presidente afirmou que o país já havia feito sua parte.

A presidente também foi questionada sobre o significado de ter ido ao Fórum Social, na semana passada, e vir essa semana a Cuba, uma pergunta que a deixou, disse, "estarrecida". "Eu fico estarrecida com esse tipo de pergunta. Eu fui à União Euro­­­peia, eu recebi os EUA. Eu andei pra danar. Fui no G20, na China. Como a gente interpretaria o ano passado? O Brasil faz política internacional com todos os países. Nós somos um povo absolutamente pacífico, acreditamos no diálogo, achamos que é fundamental também dialogar com os movimentos sociais", afirmou.

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