O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Roberto da Costa Kramer foi considerado culpado de racismo pela comissão de sindicância instalada na universidade para apurar condutas irregulares do professor em sala de aula. Kramer foi condenado administrativamente a 30 dias de suspensão e teve a pena convertida em pagamento de multa de 50% do valor de seu salário.
Há cerca de um ano, o professor foi acusado por um grupo de alunos de cometer práticas racistas em sala de aula ao se referir à população negra como "crioulada". De acordo com o estudante Gustavo Amora, o professor chegou a se desculpar por e-mail, mas voltou a repetir as declarações em outra aula, quando disse que o estudante pertenceria à "Klu-Klux-Klan negra". Algumas das declarações foram gravadas e utilizadas como provas no processo administrativo instalado na universidade.
De acordo com a assessoria de imprensa da UnB, a decisão da sindicância é de âmbito administrativo e condenou o professor pela violação de artigos da Lei 8.112, que regulamenta o trabalho dos servidores públicos. O julgamento da acusação de racismo não está sob a a esfera de investigação administrativa, mas diz respeito ao direito penal e deve ser feito pela Justiça. Além da sentença administrativa, a UnB vai encaminhar o caso ao Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), que deverá investigar o crime de racismo.
A decisão de suspender o professor e enviar o processo ao MPDFT foi publicada pelo reitor Timothy Mulholland no dia 29 de junho. Kramer ainda pode recorrer administrativamente do julgamento da comissão.
Apesar de considerar branda a pena aplicada ao professor, o estudante Gustavo Amora disse que a decisão da universidade deve ser comemorada:
É a primeira vez que a UnB pune um caso dessa natureza e o julgamento da comissão mostra que as pessoas que diziam que estávamos perseguindo o professor Kramer ou que queríamos aparecer, estavam erradas.
Amora disse que, a partir de agora, vai acompanhar a investigação do Ministério Público.
Para o representante do Movimento Brasil Afirmativo, Dojival Vieira, a decisão da universidade "é uma demonstração de que a sociedade está atenta, que as pessoas não mais aceitarão as agressões e humilhações que a população negra vem sofrendo ao longo de anos, significa um basta".
Vieira lembra que a UnB foi a primeira universidade a implantar o sistema de cotas para negros no vestibular e a que a decisão pioneira da comissão de sindicância ao condenar um professor acusado de racismo é mais um passo importante da universidade.
A decisão mostra que a UnB não está disposta a ter suas cátedras transformadas em tribuna de discursos racistas, sejam explícitos ou camuflados acrescenta.



