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eleições 2016

Vaga na Câmara de Curitiba custa até 17 meses de salário de vereador

Valor leva em conta apenas doações dos próprios candidatos às suas campanhas

 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
(Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

Os 38 vereadores que Curitiba terá a partir de 2017 tiraram, juntos, mais de R$ 1,1 milhão dos próprios bolsos para financiar suas campanhas para a eleição de outubro passado, informam as prestações de contas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Beto Moraes (PSDB) é o campeão de gastos, com R$ 190,5 mil doados à própria campanha. Isso quer dizer que ele terá que trabalhar por 17 meses para recuperar o “investimento” – atualmente, um vereador recebe salário líquido de R$ 11.486,04.

INFOGRÁFICO: Veja quem fez auto-doações durante a campanha

Pier Petruziello (PTB), Toninho da Farmácia (PDT), Professora Josete (PT) e Mestre Pop (PSC) também teriam que juntar mais de sete meses de salários líquidos, cada um, para repor o que tiraram de suas economias para alcançarem uma cadeira no legislativo municipal.

Na outra ponta, apenas quatro vereadores – três dos quais novatos – não declararam auto-doações ao TSE: Noemia Rocha (PMDB), Katia dos Animais de Rua (SD), Goura (PDT) e Thiago Ferro (PSDB).

Doações igualam ou superam patrimônio declarado

Além do alto valor, outro fato chama a atenção na doação feita por Beto Moares à própria candidatura. Os R$ 190,5 mil são quase o mesmo valor da sucinta declaração de bens que ele apresentou à Justiça Eleitoral: R$ 192,5 mil, referentes a uma camionete e duas motos, uma das quais importada.

“Foi necessário [gastar os R$ 190,5 mil]. Contratamos uma equipe grande. O que eu tinha em caixa foi gasto. Foram minhas economias de tempos consumidas na eleição”, justificou Gilberto Pires dos Santos, nome de batismo de Moraes.

“Vendi acho que um carro e uma moto [para cobrir as despesas]”, disse, questionado sobre a origem do dinheiro gasto em campanha.

Mas Moraes atrapalhou-se quando perguntado sobre a marca dos veículos de que disse ter se desfeito. “Foi uma camionete Ford e uma moto Harley Davidson”, disse, após titubear por alguns segundos – apenas a segunda consta da declaração de bens apresentada por ele ao TSE.

“É que faço uns ‘rolinhos’ de carros de vez em quando. Comercializo veículos. Alguns nem dá tempo de colocar no imposto de renda porque vende rápido”, falou.

Ainda mais curiosa é a situação de Adilson Alves Leandro, o Mestre Pop. Ele declarou ao TSE que R$ 81,4 mil gastos em sua campanha saíram de seu próprio bolso. Isso é mais do que o patrimônio que ele registrou – R$ 54 mil, referentes a apenas um carro, importado.

“É porque não tive doação de campanha e nem recurso do fundo partidário”, disse Mestre Pop, ao justificar porque tirou tanto dinheiro do próprio bolso. É quase isso. Na verdade, o TSE contabiliza três pequenas doações na faixa de R$ 1 mil, uma delas da campanha do candidato derrotado Ney Leprevost (PSD).

Apesar de anômala, a situação não é ilegal.

Empréstimos e poupanças

Para fazer frente aos gastos com a campanha, Mestre Pop disse ter recorrido a um empréstimo bancário. “Fiz um empréstimo pessoal no banco Itaú, a ser pago em mais de 20 meses”, afirmou.

“Me preparei para a eleição, guardei dinheiro para esta finalidade [a campanha], inclusive para não depender dos outros”, disse Petruziello, que, além do salário de vereador, tem outra fonte de renda. “Meu escritório de advocacia, onde sou sócio do meu pai e também do meu irmão.”

“Guardo parte do meu salário mensalmente, numa poupança, para podermos ter um recurso [para a campanha]. Elas ainda exigem investimento”, explicou Josete Dubiaski da Silva, a Professora Josete.

“Fico com o equivalente mais ou menos ao meu padrão [salarial como professora], o que dá uns R$ 7 mil. O que sobra vamos poupando”, falou.

Antonio Carlos do Carmo, o Toninho da Farmácia, foi procurado pela reportagem, diariamente, por e-mail e telefone, desde o dia 8 de dezembro, para que comentasse seus gastos de campanha.

Ele não atendeu às ligações feita a seus telefones celulares, não respondeu ao e-mail nem aos recados deixados no gabinete. Por fim, no dia 13 de dezembro, a assessoria da Câmara disse que ele não desejava dar entrevista.

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