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O diretor afastado da Eletrobras Valter Cardeal admitiu, em depoimento na Polícia Federal, que já participou de duas reuniões na casa de José Antunes Sobrinho, presidente da empreiteira Engevix. O objetivo, segundo Cardeal, era tratar das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Segundo ele, também participou dos dois encontros Ricardo Pessoa, presidente de outra empreiteira, a UTC. Os três são investigados na Operação Lava Jato.

Apontado como um dos homens fortes da presidente Dilma Rousseff no setor elétrico, ele foi afastado da Diretoria de Geração da Eletrobras em julho, em função das revelações dos primeiros trechos da delação premiada de Ricardo Pessoa.

No depoimento, prestado em 12 de novembro do ano passado, Cardeal diz que esses foram os dois únicos contatos que teve com Pessoa. O termo de declaração do depoimento informa que, ao ser questionado por que o encontrou em residência particular do presidente de uma outra empreiteira, Cardeal respondeu que “as duas foram reuniões emergenciais” e que “não é costume o declarante realizar reuniões em residências particulares, sendo estas as duas únicas oportunidades”.

Cardeal destacou ainda que qualquer contratação em Belo Monte era definida por decisão colegiada de uma empresa privada: a Norte Energia. A Norte Energia, responsável pela usina, tem a participação da Eletrobras, dos fundos de previdência e de algumas empresas privadas. Era o próprio Cardeal quem presidia seu Conselho de Administração da Usina Norte Energia. Hoje, quem toca a obra é o Consórcio Construtor Belo Monte, contratado pela Norte Energia e composto por dez empresas, muitas delas empreiteiras investigadas na Lava-Jato. UTC e Engevix não participam do consórcio. Mas, ao longo da construção da usina, elas disputaram o direito de executar parte da obra.

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O depoimento integra inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o suposto pagamento de propina a partir de contratos da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). No depoimento à PF, ele disse que nunca teve função na Eletronuclear e que nunca tratou de Angra 3 com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) ou Romero Jucá (PMDB-RR). Negou envolvimento em irregularidades ou repasses de propina ao PT. Também disse que nunca trocou e-mails ou telefonemas com Ricardo Pessoa ou com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari. Afirmou ainda que o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão acompanhava todos os empreendimentos de infraestrutura do setor elétrico.

Em dezembro do ano passado, a PF ampliou investigações sobre Cardeal. A partir dos depoimentos de Pessoa sobre Angra 3, a PF faz diligências para tentar comprovar as acusações. Durante as investigações, o então presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Pinheiro, foi preso. Segundo Pessoa, houve pagamento de propina a Renan e Jucá, acusação negada por ambos. Ele também envolveu Lobão, o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, e o ministro do TCU Raimundo Carreiro. A suspeita é de venda de informações privilegiadas dentro do tribunal ao dono da UTC.

Na delação, Pessoa também disse que o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, pediu doações de campanha ao PT correspondentes a 4% de valor estipulado para as obras de Belo Monte e Angra 3.

Cardeal pediu aos consórcios vencedores de Angra 3 – a UTC integra um deles – um desconto de 10% no valor das obras, segundo o relato de Pessoa. O diretor sugeriu a união dos consórcios, de forma a permitir redução de custos e preços. “Os consórcios chegaram à conclusão de que poderiam conceder um desconto de 6%, desde que houvesse a união de ambos os consórcios em um só”, relatou o dono da UTC.

A delação cita, então, a destinação dos outros 4% do desconto a campanhas do PT: “Othon Pinheiro alertou ao declarante que Valter Cardeal havia lhe dito que, como os consórcios de empresas de Angra 3 não haviam aceitado o desconto de 10% no preço das obras, tal como pretendido pelo Conselho de Administração da Eletrobras, tendo sido acertado um desconto de 6%, as empresas seriam alvo de solicitação de repasses por parte do PT”. O “alerta” se efetivou, segundo Pessoa.

O então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, hoje preso em Curitiba, entrou em contato e pediu a “realização de doações oficiais de campanha ao PT correspondentes aos 4% em questão”, conforme a delação. O dono da UTC disse não ter feito os pagamentos, o que não colocou um “ponto final nas cobranças”. Outras tratativas não foram possíveis porque Pessoa acabou preso semanas depois.

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