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Legislativo

Vantagens legais custam R$ 18 milhões ao ano à Câmara de Curitiba

Ao longo dos anos, vereadores aprovaram mais de 50 regras criando gratificações para servidores do Legislativo

97 funcionários da Câmara de Curitiba ganham por mês mais que os vereadores, e 23 têm salários maiores do que o teto | Antônio More/ Gazeta do Povo
97 funcionários da Câmara de Curitiba ganham por mês mais que os vereadores, e 23 têm salários maiores do que o teto (Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)
Guilherme Gomes, do TJ, quer auxílio-moradia para juízes |

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Guilherme Gomes, do TJ, quer auxílio-moradia para juízes

A Câmara de Curitiba gastou em novembro deste ano mais de R$ 1,4 milhão em "vantagens legais" pagas a seus funcionários. São bônus, gratificações e outros benefícios incorporados mensalmente ao pagamento dos servidores por leis criadas ao longo dos anos. Por ano, esses benefícios custam aos cofres públicos R$ 18 milhões.

Mais de 50 normas que valem desde a década de 1960 estão na base do cálculo dos salários dos funcionários da Câmara. Com a divulgação dos vencimentos dos servidores na última quinta-feira foi possível constatar que, pelo menos, 23 deles recebem salários acima do teto municipal (R$ 18,8 mil) e 97 funcionários ganham mensalmente mais que os vereadores (R$ 13,5 mil).

Entre as vantagens pagas ao funcionalismo estão gratificação por tempo de serviço, pagamento de adicional por periculosidade, bônus por nível de escolaridade e abono para quem participa de comissões administrativas

Conceder esses pagamentos anexos ao vencimento básico é uma questão histórica. "Há uma cultura da concessão do benefício e da incorporação disso ao salário. Não dá para reverter o que já foi concedido, mas o que não dá é aceitar que novas ‘recompensas’ sejam aprovadas", comenta o professor do mestrado em Planejamento e Governança Pública da UTFPR Antônio Gonçalves de Oliveira.

A situação diz respeito ao município de Curitiba, mas decisões nacionais endossam que há um limite para o pagamento de salários. "O STF já tomou decisões emblemáticas nesse sentido: julgou que algumas gratificações são inconstitucionais e que ninguém pode superar o teto que está estabelecido na Constituição", comenta o advogado especialista em direito constitucional Flávio Pansieri.

Para ele, as necessidades do servidor têm de estar embutidas em um valor fixo que ele recebe. "Nessa toada, a administração pública pode sim rever os vencimentos dos servidores para que ninguém supere esse valor limite. O i­deal é que o funcionalismo receba um subsídio fixo e não some gratificações e escalonamento, como tempo de serviço", opina.

Já há medida do STF que considera inconstitucional o pagamento de salário acima do limite constitucional, mas existem decisões em aberto sobre gratificações de moradia, alimentação e transporte que superam esse valor.

Embora legal, o pagamento dessas benesses que aumentam os salários e que em algumas ocasiões ultrapassam o limite constitucional pode estar indo de encontro ao princípio da moralidade, cujo atendimento é uma obrigação do gestor público. "Não há como reverter benefícios que já foram concedidos. No entanto, o administrador tem de levar em conta a eficiência e a moralidade desse tipo de decisão que concede auxílios financeiros", comenta Oliveira.

Servidores de outros órgãos também recebem gratificações

Nos últimos meses, servidores públicos paranaenses da Assembleia Legislativa e do Ministério Público foram beneficiados com a concessão de gratificações que se acumularam ao salário-base. Em fevereiro, o valor do auxílio-alimentação dos servidores do Tribunal de Justiça foi reajustado em 26% e passou a valer R$ 710.

Em agosto, todos os servidores do Ministério Público passaram a receber o auxílio-saúde que varia entre R$ 121,33 e R$ 727, 96, dependendo da idade do funcionário.

Nas últimas semanas, projeto polêmico passou pela Assembleia Legislativa do estado e, sem consenso, ficou para o ano que vem: o Tribunal de Justiça enviou proposta de projeto de lei que implantaria auxílio-moradia para os magistrados. Outros tribunais no país estão deixando de pagar essa benesse por recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Câmara

De acordo com o presidente da Câmara Municipal de Curitiba, vereador Paulo Salamuni (PV), a intenção da direção da Casa é rever a legalidade de cada salário e gratificações que estão sendo pagas. "Planejamos também a revisão dessas leis e pensamos em reestruturar o plano de carreira. Fizemos o primeiro estágio, que era a publicização desses valores, e vamos tentar corrigir os rumos", comenta o parlamentar.

Colaborou: Rogerio Waldrigues Galindo.

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