
Em viagem à Índia até o próximo sábado, a presidente Dilma Rousseff ganha fôlego para conter a crise com a base aliada no Congresso Nacional. A ausência vai congelar a discussão de matérias polêmicas, como a Lei Geral da Copa e o novo Código Florestal, e servir como um período de ambientação para os novos líderes governistas recém-escolhidos para a Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). A pauta só deve esquentar após a partir do dia 10 de abril, após a Semana Santa.
Como o vice-presidente Michel Temer também está fora do país, na Coreia do Sul, a Presidência em exercício está ocupada desde ontem pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS). O gaúcho já havia adiantado na semana passada que temas "difíceis" não entrariam em votação enquanto ele estivesse no comando do Poder Executivo. Enquanto isso, os deputados vão se ocupar com nove medidas provisórias que trancam a pauta do plenário a primeira da lista trata do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
A trégua nas votações será utilizada para tentar desvincular a votação da Lei Geral da Copa do Código Florestal. Na última quarta-feira, sete partidos (PMDB, PPS, PSD, DEM, PR, PTB, PDT e PSC) obstruíram o debate sobre as regras para o Mundial de 2014 até que fosse agendada uma data para votação sobre o Código. O texto já passou pela Câmara, foi modificado pelo Senado e agora precisa de uma nova apreciação pelos deputados.
"A pausa é boa para todo mundo. É hora de parar e pensar um pouco sobre o que realmente está em discussão", diz o deputado paranaense André Vargas (PT). Segundo ele, há um problema de diálogo entre os líderes partidários e as bancadas que eles representam. "Se os líderes não lideram os partidos, quem acaba mandando são as bancadas temáticas, como os ruralistas."
Do lado da oposição, o líder do PPS, Rubens Bueno, diz que a viagem não dará tempo suficiente para Dilma melhorar as relações com os aliados no Congresso. "O que vemos é um problema de desarticulação, de incompetência. Depois de jogar pela janela seus antigos líderes, como ela acaba de fazer, não vai ser tão fácil costurar um novo arranjo", avalia Bueno.
No Senado, as propostas que devem gerar mais polêmica nesta semana vão ficar restritas à Comissão de Assuntos Econômicos. O projeto de lei mais importante é o que modifica a previdência dos servidores públicos, aprovado neste mês pela Câmara. Além disso, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, espera para hoje uma resposta dos sete senadores do PR sobre a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar desvios de recursos na saúde. A criação da CPI é baseada em uma reportagem sobre fraudes em licitações veiculada pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no dia 18.
Segundo Alvaro, com a adesão do PR, que acaba de migrar do governo para a oposição, ele conseguirá as 27 assinaturas necessárias para instalar a CPI. Entre os poucos governistas favoráveis à comissão, está o também paranaense Roberto Requião (PMDB). Ele foi um dos primeiros a assinar o requerimento na semana passada.
Índia e China são prioridade na agenda de viagens presidenciais
As visitas à China em abril do ano passado e a atual à Índia são as mais longas feitas pela presidente Dilma Rousseff. Juntas, as duas vão consumir 16 dias (oito cada), o que corresponde a 31% do total de 52 dias nos quais ela passou em viagem a 21 países diferentes desde que assumiu o mandato, em janeiro de 2011. A conta inclui as escalas feitas na Grécia, antes da chegada em Pequim, e na Espanha, ontem, quando a comitiva presidencial parou em Granada para uma visita turística ao Palácio de Alhambra.
O ponto alto da viagem à Índia será o quarto encontro de cúpula dos chefes de Estado do grupo conhecido pela sigla Brics Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Quando passou pela China em 2011, Dilma participou da terceira edição do evento. "Os Brics são como países-baleias, que estão descobrindo que têm muito mais a ganhar se começarem a nadar em cardume", analisa o professor Argemiro Procópio, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional, os Brics devem ser responsáveis por 56% do crescimento da economia mundial ao longo de 2012. Já Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, países que formam o G-7, responderão por uma fatia de apenas 9%.
De acordo com Procópio, os números sobre as viagens da presidente mostram o peso que os Brics têm na estratégia de política externa do atual governo. "A Índia, por exemplo, é um parceiro fundamental que estava fora do nosso radar até muito pouco tempo atrás por um cochilo da nossa diplomacia. Somos duas potências na produção de açúcar e de bovinos", afirma.
Além de Dilma, embarcou para Nova Déli uma comitiva com 60 empresários. Em paralelo aos encontros dos Brics, eles vão participar de fóruns financeiros para aprimorar o comércio entre os dois países. A meta da presidente é aumentar o volume dos atuais US$ 9,1 bilhões ao ano para US$ 15 bilhões até 2015.
Interatividade
O Planalto conseguirá acalmar o ânimo dos parlamentares da base aliada no período em que a presidente estará em viagem? Por quê?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.




