
Mesmo sendo mais restrita a questões eleitorais que a problemas cotidianos da democracia brasileira, a reforma política idealizada até o momento pelo governo federal vai exigir uma imersão relâmpago dos eleitores em temas complexos e distantes de um consenso. Se seguir o rumo das mais recentes discussões feitas no Congresso Nacional sobre o assunto, o plebiscito defendido pela presidente Dilma Rousseff pode se desdobrar entre duas a oito questões. Há dúvidas ainda se a decisão popular vai precisar ser transformada obrigatoriamente em uma nova legislação pelos parlamentares.
INFOGRÁFICO: Confira como vai funcionar o plebiscito sobre a reforma política
O cronograma do Palácio do Planalto para colocar a consulta popular em prática começou na semana passada, quando Dilma realizou uma série de reuniões com os chefes dos poderes Legislativo e Executivo, presidentes de partidos e líderes no Congresso. Dos encontros saíram as premissas da reforma, que serão transformadas em uma mensagem do governo ao Congresso. A intenção é fazer com que deputados e senadores convoquem o plebiscito para agosto ou setembro e, a partir do resultado, produzam as mudanças legais até outubro, prazo máximo para que elas possam valer para as eleições de 2014.
Certezas
De acordo com o governo, dois temas vão estar com certeza nas perguntas que serão feitas à população: o sistema das eleições para vereador, deputado estadual e federal e o modelo de financiamento de campanhas (veja mais detalhes no infográfico ao lado). "São pontos discutidos há décadas e que a classe política realmente nunca teve coragem de enfrentar", avalia a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (SP). A partir deles, desdobra-se uma série de outras mudanças como o fim das coligações em disputas proporcionais e dos suplentes de senadores, adoção da cláusula de barreira e do voto facultativo, além da possibilidade de candidaturas avulsas (sem vínculo partidário).
Todos esses temas já foram abordadas em propostas que estão em tramitação no Congresso. Entre 2011 e 2012, as sugestões motivaram duas comissões especiais sobre reforma política que funcionaram ao mesmo tempo na Câmara e no Senado. Nenhum projeto debatido, entretanto, virou lei.
"Existia um certo consenso do que precisava ser debatido, mas não sobre como seriam feitas as modificações", relembra o deputado paranaense Sandro Alex (MD), que integrou a comissão da Câmara. Há dois anos, ele encomendou um estudo ao Instituto Paraná Pesquisas que mostrou que 86% dos curitibanos eram contra o financiamento público de campanhas e 67% favoráveis ao voto distrital.
As experiências dentro do Congresso também mostram a dificuldade de encadeamento das propostas na formatação dos questionamentos do plebiscito. "A discussão sobre a participação popular é fantástica, mas é necessário cuidado para não se criar um Frankenstein", alerta o presidente do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral, Guilherme Gonçalves. Segundo ele, há mudanças que podem ser aprovadas pela população, mas que na prática são incompatíveis. "Não dá para casarmos a possibilidade de candidaturas avulsas com a exigência de voto em lista."



