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A tragédia no ar que resultou na morte de 154 pessoas após a colisão de um Boeing da Gol e um jato Legacy, em 29 de setembro, poderia ter acontecido pelo menos outras três vezes somente neste ano. Em duas delas, o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais – região de Curitiba, estava na rota dos aviões que por pouco não sofreram acidentes. Os incidentes aéreos estão descritos na edição desta semana da Revista Época (Leia reportagem completa) e foram levados ao ar, no domingo, pelo programa Fantástico. (Assista ao vídeo)

O repórter da revista época Walter Nunes teve acesso a documentos do Comando da Aeronáutica que mostram que neste ano outros aviões estiveram muito perto de sofrer um acidente como o que derrubou o Boeing da Gol. São casos de quase-colisão, em que os aviões não se chocaram por pouco.

Nos relatórios confidenciais, os três casos foram descritos como "graves", e o risco de acidente classificado como "crítico". "Crítico", segundo o manual da Aeronáutica, é quando o acidente não ocorreu em razão do acaso ou à ação evasiva de algum dos pilotos. Casos como estes são chamados pela Aeronáutica de "incidentes". Mas, segundo um controlador de vôo, com mais de 20 anos de experiência, ouvido pelo Fantástico, quase-colisões entre aeronaves são comuns no Brasil.

"Esses incidentes podem ocorrer em qualquer local, em qualquer área terminal, em qualquer área de centro de controle, em qualquer proximidade com qualquer aeroporto", disse o controlador de vôo à Rede Globo.

Primeiro caso

Em 16 de janeiro, a cerca de 65 quilômetros a sudoeste de Curitiba, foi registrado o primeiro incidente. Um boeing 737 da Varig tinha saído do Afonso Pena com destino a Porto Alegre. Um outro avião, um Fokker 100 da TAM, saiu de Buenos Aires para Curitiba. No meio do caminho, o TCAS, o radar das aeronaves, indicou a aproximação dos dois aviões. O centro de controle percebeu o problema e instruiu os aviões, mas o avião da Varig efetuou uma manobra errada. "O comandante da Varig, em vez de fazer uma curva para a direita, para se distanciar ainda mais do Fokker 100, ele fez uma curva para a esquerda, indo justamente de encontro", afirmou o controlador de vôo.

Os dois jatos passaram muito perto um do outro: menos de mil pés, ou cerca de 300 metros, a distância mínima recomendada no espaço aéreo. Faltou pouco para uma tragédia.

Segundo caso

O caso número 2 aconteceu em 19 de maio, na região de Boituva, interior de São Paulo. O comandante Costa pilotava um Cessna 180, carregando um grupo de pára-quedistas. "Quando eu voltei, um colega da área falou que o centro de controle de Curitiba tinha recebido uma informação de uma aeronave que estava passando e me viu e falou que passou um pouco perto", descreveu o comandante Costa no programa.

A aeronave que estava passando era o vôo 1696 da Gol, que ia de Curitiba para o Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Só que o avião estava num rumo errado, ele passava perto demais do Aeroporto de Boituva. Segundo o relatório da Aeronáutica, os dois aviões não se chocaram por muito pouco. Passaram a apenas 150 metros um do outro, uma distância que, em aviação, é mínima.

Terceiro caso

O caso número 3 aconteceu em 30 de junho no Aeroporto de Manaus. O MD-11 da Varig, que ia para o Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, levantou vôo de uma das pistas. Outro avião se preparava para pousar em outra pista. Por segurança, o controle de aproximação de Manaus pediu ao MD-11 que fizesse uma curva à direita após a decolagem. O avião seguiu a ordem. Logo depois, o comando mandou o avião regressar à rota original. Só que o controlador não percebeu que havia outro avião levantando vôo.

O avião, que partia do Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, era um Brasília da Força Aérea Brasileira. Os dois aviões quase bateram no ar. Um dos pilotos do MD-11 escreveu mais tarde um e-mail para o setor da Varig responsável por segurança aérea. O assunto do e-mail? Risco de colisão.

No documento, o piloto diz que foi "surpreendido por um vulto no pára-brisa dianteiro. Era um avião Embraer 120, o popular Brasília". O e-mail continua: "A aeronave passou, com toda a certeza, a menos de 50 metros da nossa. Conseqüência: um tremendo susto, risco enorme de colisão e um silêncio na freqüência". "Silêncio na freqüência" quer dizer que o piloto não foi alertado pelo rádio da torre de controle sobre o risco de colisão.

A Aeronáutica negou que os aviões voem muito próximos uns dos outros, de acordo com a reportagem da Época. A posição oficial é que "o espaço aéreo brasileiro segue as regras internacionais de conduta".

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