Animal

Como enfrentar o calor

Kamila Mendes Martins
06/12/2008 02:06
O bernese mountain dog (também conhecido no Brasil como boiadeiro bernés) é originário da Suíça e, por ter de sobreviver a baixíssimas temperaturas em sua terra natal, tem pêlo longo e em grande quantidade. Por isso, quando o verão chega aqui, ele precisa de cuidados especiais para manter a temperatura de seu corpo estável. A proprietária do canil curitibano Roter Berg, Carla Fabiane Celli Fast, tem quatro cães da raça – três fêmeas e um macho – e conta que, para amenizar os efeitos do calor, só mesmo lançando mão de quatro ventiladores industriais ligados o tempo todo. E muita água de coco gelada. “Além disso, no meio da tarde, entre as duas refeições, damos a eles frutas geladinhas para que se refresquem”, diz.
Outra dica da criadora é escovar sempre os pêlos e aumentar a freqüência dos banhos. “Como são cães que não têm cheiro, o normal é dar banho a cada dois meses. Mas como estão na fase de troca de pelagem, nesse período do ano eles tomam a cada 15 dias para tirar o fios mortos e evitar a dermatite. Com menos pêlos, eles se sentem ainda melhor”, diz Carla.
Doenças da estação
A alta umidade, característica da estação, é propícia ao aumento do número de parasitas de cães e gatos, como carrapatos, pulgas e mosquitos, que transmitem doenças como a ehrlichiaose e a babesiose caninas. “Tanto uma quanto a outra causam uma anemia infecciosa que, se não for tratada, pode levar à morte”, explica o médico veterinário do Instituto Brasileiro de Diagnóstico e Especialidades Veterinárias (Provet), Rogério Soila. “O gato pode sofrer outra doença, chamada mycoplasma, com as mesmas características da doença do cão. Ele também tem uma anemia, mas a infestação acontece por pulga. No caso do cão, é por carrapato.”
Segundo o veterinário, o animal pára de comer, fica mais quietinho e tem febre. “A pessoa viaja e percebe que o cãozinho ou gatinho muda de comportamento drasticamente. Nesses casos, é importante levá-lo ao veterinário, para ver se não acabou contraindo algo desse tipo”, ressalta Soila.
Quem viaja para o litoral ou para regiões próximas a represas e rios expõe o bicho a mais um tipo de doença, a dirofilariose. O verme da doença, transmitido pelo mosquito culex, se aloja no coração. “Os sintomas são alteração cardíaca e, a longo prazo, o cão pode se tornar um cardiopata”, diz o veterinário.
A prevenção dessas doenças está relacionada à higiene e ao uso de carrapaticidas e anti-pulgas. Além disso, todas são diagnosticáveis. “Há testes de laboratório que confirmam se os bichinhos estão bem. Também vale a pena fazer um check-up neles. A mesma idéia que se usa na medicina humana, de prevenção, que evita muitos problemas, também vale para eles”, destaca Soila.
Outra forma de evitar a ação desses parasitas é a tosa. “Além de estar colaborando na manutenção da temperatura, evita os problemas com pulgas e carrapatos. Com o pêlo mais curto fica mais fácil visualizar, e o tratamento é até mais eficaz”, conta o professor do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Evangélica Eros Luiz Sousa.
Hidratação e alimentação
Ao contrário dos seres humanos, os animais não transpiram para manter o equilíbrio da temperatura corpórea. Eles perdem água pela própria respiração, por isso ficam ofegantes. “Quando está muito quente, eles ficam o tempo inteiro respirando mais rápido e, nessa tentativa de amenizar o calor, perdem muita água. Daí a importância da hidratação constante”, explica o professor Sousa.
Nessa questão, é necessário dar atenção especial aos cães braquicefálicos, os de nariz curto. “Buldogue, pug, shi tzu, por exemplo, são cães que respiram muito rápido e têm dificuldade porque a anatomia deles não ajuda. No sol intenso, terão que respirar muito mais rápido, o que pode fazer o pulmão entrar em co-lapso. Se as pessoas forem passear no horário errado pode haver hemorragia pulmonar por esforço respiratório”, explica o professor. Para ajudar na hidratação, uma boa dica é dar água de coco ou bebidas isotônicas que matam a sede e ajudam a repor outros nutrientes que eles perdem quando estão ofegantes.
Já a dieta deve ser mantida, mas frutas frescas podem ser adicionadas ao cardápio no intervalo das refeições. “O dono deve evitar as frutas ácidas, que podem causar problemas gastrointestinais”, comenta.
Atenção com a pele e os pêlos
Animais de pelagem curta e clara sofrem mais com o sol do que os outros. Há inclusive uma alta incidência de câncer de pele por falta de cuidados com a exposição solar. Portanto é importante sair para dar o passeio diário apenas antes das 10 horas da manhã e após às 16 horas. “Em dias muito quentes, é bom até evitar o passeio”, alerta o professor do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Evangélica Eros Luiz Sousa.
A veterinária da Clínica Mania de Gato, Marúcia de Andrade Cruz, chama a atenção para a alta incidência de câncer em gatinhos de pelagem clara ou com predominância de pele branca no nariz e nas orelhas, onde há menos pêlos. “Ao redor dos olhos é bem comum surgir câncer de pele”. Para evitar a doença, a recomendação é se esconder do sol. “Quem não consegue deve passar protetor solar de uso veterinário no gatinho. A indicação é um gel com fator de proteção solar 30, aplicado várias vezes ao dia.”
Também é preciso ser cuidadoso com animais que têm rugas no rosto e ao redor da vagina. “É preciso higienizar muito bem essas entradinhas, que acabam úmidas, o que proporciona dermatite. O adequado é usar lenços umedecidos para limpar”, recomenda o professor.
A partir de novembro, é recomendável que animais de pêlo longo façam tosas higiênicas. Para os cães isso é muito bem-vindo. Segundo Sousa, isso colabora para a manutenção da temperatura e ajuda no combate a pulgas e carrapatos.