Animal

Você perdeu o seu bichinho?

Rafaela Bortolin
02/10/2010 03:01
Há quase um mês, a família da administradora de empresas Aline Tortato não consegue mais se divertir como antes. No feriado de 7 de setembro, o lhasa apso da família, Jimmy, de 2 anos, sumiu de casa e não foi mais encontrado. “Não sabemos exatamente o que ocorreu porque estávamos na praia nesse dia, mas acreditamos que assaltantes forçaram o portão, o alarme disparou e o Jimmy ficou tão assustado que acabou fugindo e não conseguiu mais voltar”, diz Aline.
Depois de várias voltas pelo bairro, anúncios espalhados pela internet e cartazes distribuídos pelos estabelecimentos comerciais da região, Aline garante que não perdeu a esperança de reencontrá-lo, mas admite que a tristeza é grande. “Nossa família está sentindo muito a falta do Jimmy, principalmente minha filha e minha enteada, que adoravam brincar com ele. Até Lilica, a namorada dele, nossa outra lhasa apso, mudou seu comportamento e parece desolada.”
Infelizmente, histórias tristes como a de Aline são comuns. Muitos donos de pets já perderam ou conhecem alguém cujo bichinho de estimação está desaparecido. Expostos aos perigos das ruas, como atropelamentos e agressões de pessoas e animais, muitos se adaptam à nova rotina longe de casa, enquanto outros sequer conseguem sobreviver.
“Normalmente, são cães e gatos muito bem cuidados que têm dificuldades para se virar. Quando eles têm alguma doença ou tomam algum tipo de medicamento, não ter alguém que possa cuidar deles torna a situação ainda mais complicada”, explica Leonardo Nápoli, presidente da Comissão de Zoonoses e Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR).
Para ele, a principal dica para quem quer evitar esse tipo de aborrecimento é investir em atitudes de guarda responsável. “Ao adquirir um animal, a pessoa precisa se conscientizar de que ele exige uma série de cuidados e que a vida desse pet depende do bom senso e da responsabilidade de seus donos.”
Descuidos
Entre os anúncios de animais desaparecidos, é fácil notar que os cães são a maioria, mas há vários registros de gatos e até aves que desaparecem e não conseguem mais voltar para casa. Em todos os casos, qualquer pequeno descuido pode ser fatal.
“Nenhum outro cachorro vai preencher o vazio que a Nina deixou”, garante o estudante Thiago Oliveira. Há três meses, a partir de um descuido dos donos, a yorkshire miniatura Nina, de 5 anos, fugiu por uma fresta no portão de casa. Com saudades da mascote, a família decidiu comprar outra cachorrinha. A única condição? Não poderia ser outra yorkshire. “Escolhemos a Bebel, uma maltês. Para sempre, a única yorkshire da casa será a Nina.”
Saudade
Para a agente comunitária de saúde Suely Halluch Alves, a espera por notícias de seu gato, Batatinha, dura um ano e um mês. Mesmo assim, ela diz que o tempo não ameniza a falta que o bichano faz. “É difícil resumir a dor de ficar imaginando onde ele está, se está tudo bem, se foi encontrado por alguém, se é bem tratado ou se está sofrendo em algum lugar.”
Entre as famílias, a tristeza pela perda é natural, mas se torna ainda pior para crianças e idosos. “Meu sogro tem 81 anos e sofre de Mal de Alzheimer. A Biju era o xodó dele, tanto que faz quase dois meses que ela sumiu e ainda não conseguimos contar sobre o desaparecimento para ele”, comenta a assistente de recursos humanos Sibelle Izidro. A lhasa apso Biju, de 6 anos, fugiu após a casa onde morava ser arrombada.
Final feliz
“Apesar de mais raro, é possível sim ter histórias com finais felizes”. Quem garante é Camila Vieira, presidente do projeto Pastor Rescue, grupo de voluntários que defende a guarda responsável de animais.
Segundo ela, a regra número um para quem procura por seu pet perdido é não desistir nunca. “Conheço a história de uma médica veterinária que perdeu seus três cães e, depois de 60 dias, conseguiu localizá-los ainda juntos em um terreno baldio muito longe de casa”, conta.
Microchip ajuda na localização
Uma garantia a mais para localização no caso de o animal se perder. Essa é a grande vantagem de os donos optarem pela implantação de microchips, principalmente em cães e gatos. Em Curitiba, o serviço pode ser feito de duas formas.
Por meio da Rede de Proteção Animal, vinculada à Prefeitura Municipal, o custo é de R$ 9. “Para isso, os donos devem cadastrar os pets no site da entidade e encaminhá-los para uma das 31 clínicas autorizadas a realizar o procedimento”, explica Marcos Traad, diretor do Depar­­tamento de Pesquisa e Conservação da Fauna de Curitiba.
Se preferir, o dono também pode optar pela microchipagem sem o registro da Rede de Proteção Animal. Nesse caso, basta marcar um horário em alguma clínica particular e realizar o procedimento, que custa entre R$ 80 e R$ 120.
Em ambos os casos, o chip é uma ferramenta importante na hora de tentar localizar um pet. Isso porque basta a pessoa que encontrou o animal levá-lo a uma das clínicas veterinárias com leitoras de microchip para que ele seja identificado. “Em cães e gatos com nossos chips, o médico veterinário avisa a equipe da Rede de Proteção e ela entra em contato com os donos para resgatá-lo”, diz Traad. Se o animal tem um identificador implantado de maneira particular, o contato é feito diretamente entre a pessoa que achou e quem perdeu o bichinho.
Serviço:
Para cadastrar seu pet na Rede de Proteção Animal, preencha o formulário no site www.protecaoanimal.curitiba.pr.gov.br
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Onde está o Harry? (foto 1)
Um cachorrinho bastante tranquilo, de apenas um ano, que era o queridinho de um menino de 5 anos e sua irmã, de 12, e que precisa de cuidados muito especiais na hora de se alimentar. Esse é o perfil de Harry, um buldogue francês que desapareceu de casa no último dia 23 de julho. Segundo a dona, a bióloga Alessandra Cristina Lara, a família não pensa em acabar tão cedo com a distribuição de anúncios pelo bairro e pela internet. “Nossa maior preocupação é que ele tem lábio leporino, então precisava de alimentação especial para não engasgar. Se alguém o recolheu, espero que tenha esse cuidado e o trate bem.”
Pérola conseguiu voltar. Mitsi, ainda não (foto 2)
Há quatro meses, a jornalista Márcia Prestes voltou do trabalho e, mesmo antes de entrar em casa, sentiu que algo estava estranho. Não demorou muito para perceber: Mitsi, seu gato angorá de 3 anos, não estava próximo da porta esperando-a, como fazia todos os dias. “Ele era muito calmo e costumava passear bastante, tanto que os vizinhos tinham até camas preparadas para acomodá-lo”, comenta. Márcia conta que mesmo depois de tanto tempo, não perdeu a esperança de reencontrar Mitsi. Um dos maiores incentivos é Pérola, sua outra gata, também com 3 anos. “Uma vez, ela sumiu e voltou para casa uma semana depois, muito bem cuidada. Provavelmente, alguém a pegou e, em um descuido da pessoa, ela conseguiu fugir”.
Bono ganhou um novo lar (foto 3)
Há cinco meses, o marido da advogada Fernanda Torrence Fontoura encontrou um labrador de pelo preto bem brilhante. Ele aparentava ter 5 anos e estava pelas ruas tentando entrar nas casas da vizinhança. Mesmo sem o pet ter uma identificação, Fernanda desconfiou: como estava bem cuidado e era um cão de raça, o visitante havia sido perdido. “Inicialmente, meu plano era levá-lo ao veterinário, colocar anúncios na internet e em estabelecimentos comerciais do bairro. Se não localizasse o dono, colocá-lo para doação”, diz. Com o tempo, o carisma de Bono – nome dado por Fernanda – falou mais alto e a advogada não resistiu. “Ninguém o procurou e, em poucos dias, ele estava tão apegado à minha família que não conseguíamos nos imaginar sem ele.”
Era uma vez uma calopsita (foto 4)
Se procurar por um cachorro ou um gato já é complicado, imagine buscar por uma calopsita perdida. Desde 10 de julho deste ano, a estudante Thannyta Ribeiro não poupa esforços para encontrar Nina, seu pássaro que fugiu durante um passeio pela rua. “Ela estava no meu ombro como sempre, mas como havia muito barulho, ela se assustou, voou e não conseguiu voltar para casa”, explica. Para piorar a situação, além da ausência de Nina, Thannyta ainda viu outra de suas calopsitas morrer no começo do mês passado. “Sinto que perdi duas amigas. Quem também sentiu bastante falta foi o Tuto, meu terceiro pássaro da espécie. De repente, ele parou de cantar”, diz. No fim de setembro, Thannyta ganhou mais duas calopsitas e agora diz que terá muito mais cuidado. “Vivia deixando-as soltas passeando pela casa. Agora, comprei uma gaiola enorme e elas só saem se as janelas estiverem bem fechadas e eu puder ficar de olho.”
Melissa voltou para casa (foto 5)